domingo, 19 de abril de 2015

Crítica – Furious 7 – 2015 – James Wan

Sou de uma geração estranha.

Crescemos abençoados por filmes das estrelitas (prequelas Star Wars), uma história épica de sacrifício e fantasia (The Lord of the Rings) e uma saga de amizade e magia (Harry Potter).  

Obviamente que nenhum de nós podia ser um Jedi, um feiticeiro ou um poderoso guerreiro. O que podíamos (e na verdade queríamos) ser era alguém como Brian O’Conner (Paul Walker) ou Dominic Toretto (Vin Diesel).



Facto: para miúdos dos 10 aos 14 anos, sonho era sinónimo de ter um Porsche vermelho que facilmente chegasse aos 300 KM/h e uma miúda de mini-saia no banco do pendura.

Facto: putos com classe tinham jogos da série Need For Speed na Playstation e tornavam o sonho real.

Facto: embora nunca fossem os filmes favoritos de ninguém, os dois primeiros capítulos da saga The Fast and the Furious estavam sempre na televisão de toda a gente nas tardes de domingo.

E tantos anos depois, cá estamos nós: na última encruzilhada.

Owen Shaw (Luke Evans) levou um enxerto de porrada de Dom, Brian e Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson) no último filme. Resultado: o seu “big bad brother”, Deckard Shaw (Jason Statham) vai-se vingar do grupo todo. Junta a isto o típico braço de ferro para dominar o mundo entre as personagens de Djimon Hounsou e Kurt Russel, e tens os ingredientes ideais para um filme de acção estupidamente espectacular.



Está claro que a morte prematura de Paul Walker limitou o que poderia ter sido um dos melhores filmes de pancadaria de todos os tempos...Mas as verdades acima de tudo. Furious 7 não tem muitas qualidades que o elevem ao panteão da 7ª arte. Nem em termos de acção, nem em termos de emoção. 

Acção: demasiados cortes tornam a pancadaria confusa e quase incompreensível. É uma salganhada tão anormal que retira o realismo da maior parte das cenas. Excepto as de Ronda Rousey e Tony Jaa. 

Oh shit, ainda não tinha falado neles?! Meus amigos, a estrela de Ong Bak e a invicta campeã de UFC mostram aos “meninos” como é que se faz. Quando são eles (ou Statham) na ofensiva, os planos duram mais tempo e melhora claramente a qualidade das cenas.



Qual é a simples conclusão que podemos tirar disto? Os restantes atores não conseguem ser credíveis na sua abordagem ao combate, sendo necessário um artífice por parte do realizador para que isto não se note. Guess what: não resultou mano.

Porrada à parte, as perseguições, tiroteios (ver The Rock de Minigun contra um helicóptero não tem preço) e voos de carros (principalmente aquele pedaço de céu escarlate, que chegava aos 300 KM/h) são um regalo para os olhos e nunca deixam de entreter de maneiras cada vez mais estapafúrdias e impossíveis. Houve até uma cena em que Dom me fez lembrar um Thor carecão, o que até “faz sentido”… Mais do que uma vez houve alguém na sala a dizer “Pff! Deve ser isso deve!”.

Que se lixe man! Desde que não te falte sumo e pipocas está tudo bem!



Emoção: mais de metade do filme parecer um videoclip da MTV trás à memória os primeiros capítulos da saga, mas o realizador fá-lo à custa de qualquer classe ou peso real que a narrativa pudesse ter. Os vilões aparecem "quando tem de ser" e as perseguições acontecem "porque tem de ser". Andas numa montanha-russa porquê? Porque te apetece... Assim é o filme.

Os one-liners e timming cómico de The Rock e de Tyrese Gibson deram-lhe pontos de humor. As bundas das miúdas e a testosterona dos rapazes asseguram o sex-appeal constante para ambos os géneros.

No que é que resulta tudo isto? Furious 7, por tudo o que apresenta, é um filme deslocado no tempo: veio 20 anos atrasado. É divertido que chegue para compensar o tempo nele despendido, tem “queijo” a mais para compensar as suas falhas e acaba de forma a puxar todas as lágrimas do seu público.

Não foi a melhor forma de dizer adeus, mas foi certamente a maneira certa. O facto de me fazer lembrar a despedida de Francisco Adam (o Dino de Morangos com Açúcar) de há tantos anos atrás só reforça a ideia de que este foi um final digno para a personagem e para o homem.

Mas acreditem ou não, não foi no cinema que recebi o maior murro no estômago. Quando me sentei no carro, rodei a chave e ouvi o motor a rosnar aconteceu algo dentro de mim. Todos aqueles anos a ver carros brilhantes, garrafas de nitro e felicidade na velocidade atacaram-me simultaneamente.


E de repente era uma criança outra vez. Estava lado a lado com os meus heróis de domingo à tarde. Estava com os meus amigos de infância, de comandos na mão e olhos na televisão, a fugir à polícia.

O poder da nostalgia é lixado: e se tiveste a sorte de crescer na mesma altura que eu, este filme é uma peça indispensável do puzzle que andaste a montar desde miúdo.

Mas agora, dentro do meu “Porsche” e com a miúda mais gira do mundo no banco do pendura, sorrio, como se tudo encaixasse. Finalmente.


Simon Says that this movie is…






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