sábado, 29 de agosto de 2015

Star Wars: Episode I - The Phantom Menace - 1999 - George Lucas

Tenho ideia de estar a ver The Empire Strikes Back no quarto dos meus pais. Era na SIC, num fim-de-semana à tarde. Parece mentira, não é?

Talvez esta seja a primeira memória que tenho de ver um filme.

Lembro-me da banda-sonora ser inspiradora e de ficar fascinado pela aventura repleta de “magia”. Lembro-me que “Star Wars” era a minha resposta sempre que me perguntavam em miúdo qual o meu filme “de pessoas” preferido.

Star Wars era, por default, o melhor filme alguma vez feito.



Episode I: The Phantom Menace, realizado pelo criador da trilogia original, saiu quando eu tinha 5 anos. E durante muito tempo apreciei a cassete com uma ternura que não nutria por mais nenhuma: afinal de contas era Star Wars! Tinha montes de autocolantes com as personagens e uma cabeça do C3-PO que gravava o que nós dizíamos e depois repetia. How cool was that?!

Mas havia qualquer coisa que me punha a franzir o sobrolho… Certas partes do filme deixavam-me um bocado aborrecido, outras faziam-me pensar coisas ilógicas e ainda outras que, já em miúdo, eu achava inconsequentes.

Claro que a minha maneira de o expressar era: “O que é que este gungan está a fazer mamã?” E os meus pais encolhiam os ombros… E realmente não havia outra maneira de o explicar: em Phantom Menace VÁRIAS coisas acontecem porque sim.



Mas já lá vamos.

Quando uns E.T’s que mal mexem a boca invadem um planeta pacífico, está nas mãos da sua rainha e de dois Jedis avisar a República. O que ninguém sabe é que os ET’s estão a trabalhar para Lord Sidious, que planeia dominar a galáxia através de tratados e outras cenas maléficas. Entretanto há um puto que tem de ganhar uma corrida e… Bem é complicado.

Essa é a primeira treta em relação a Phantom Menace: um filme claramente apontado a crianças (se não o fosse o Jar-Jar não existia) tem uma premissa aborrecida p’ra caraças, apoiando-se em conversa fiada sobre burocracias e midi-chlorians. E em CGI.



O Lucas sabia perfeitamente (ou pelo menos aparentava saber) quando fez o filme original que uma história maioritariamente guiada por diálogo, sem acção a acompanhar é uma SECA COLOSSAL! Guess what: The Phantom Menace, sejas adulto ou (PRINCIPALMENTE) criança, é uma SECA COLOSSAL!

Quanto tempo do filme é passado com pessoas a falar sem que nada realmente aconteça? Dei por mim a tomar atenção ao diálogo, só para perceber quantas cenas podiam ter sido cortadas. Guess how many? Bués!

E o diálogo, quando acontece, nem sequer é interessante. Ou são tretas pseudopolíticas ou humor de sanitário.

“You were right about one thing master. The negotiations were short!” WTF?! Nem com 5 anos eu me ria disto!

Muito menos do Jar-Jar! A verdade é esta: a personagem tem a sua utilidade na história, mas era preciso fazê-la irritante, incoerente e imensamente estúpida? O gungan é a personificação do que o Lucas acha que “tem piada para os miúdos”. Guess what: NÃO TEM!



O que tem piada, para miúdos e graúdos, é o que me prendeu há quase duas décadas atrás: a música, a magia, as batalhas de sabres de luz, as personagens fixes!

E não é que, no meio do caos, todos estes elementos ainda existem?

John Williams, talvez o melhor compositor musical da história do cinema, transporta o público para uma galáxia muito distante: com novos acordes, uma nova aventura, mas o mesmo sentimento. Atrás de cada nota existe uma história a nascer: e toda a banda-sonora faz-nos percorrer uma odisseia intemporal, sem princípio nem fim.

Onde o diálogo e a acção falham, é a música que marca, indelevelmente, a nossa memória, criando uma atmosfera familiar.

Aliás, essa é outra das grandes façanhas deste filme. Cada sociedade parece nova e radiante, quase contente de estar a ser mostrada. A paleta de cores, a arquitectura, as roupas, o dialecto e até a atitude das personagens mudam conforme o planeta onde a acção é passada. Tudo isto faz com que o universo pareça vivo, que existe uma história e um propósito para o que estamos a ver. Há que dar mérito quando ele é merecido.



Por exemplo: os castings de Liam Neeson (Qui-Gon Jinn), Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Natalie Portman (Padmé) e Hugh Quarshie (Captain Panaka) foram brilhantes. Neeson, (que aceitou o papel sem sequer ter lido o guião) embora tenha uma personagem inconsequente, carrega o (pouco) peso dramático do filme aos ombros. McGregor foi a escolha ideal para substituir Alec Guiness, Portman (e Keira Knightley, que fez de sua dupla) dá um sentimento de responsabilidade incrível à jovem rainha, e Quarshie que, sem muita acção, consegue eficazmente tornar-se parte da mitologia.

E Ray Park enquanto Darth Maul: a personagem mais “cool” do filme. E porquê? Porque tem uma espada dupla, porque tornou as cenas de acção ESPETACULARES (a sério, quase que vale a pena ver o filme só por isso) e porque NÃO TEM DE DIZER MAIS QUE 3 LINHAS DE DIÁLOGO DURANTE O FILME INTEIRO!



A melhor cena do filme acontece perto do fim e só é dita uma única palavra. É possível perceber o horror e o suspense na expressão de McGregor, na linguagem corporal dos outros actores envolvidos e na banda-sonora.

Damn you Lucas! Mesmo esta poderosa cena é contaminada por toda a maluquice do acto final! Demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo fazem com TODAS percam importância!

Outro exemplo: há uma grande batalha. Os intervenientes? O povo com o qual passámos menos tempo e os robôs mais inúteis da história da 7ª arte! Como é que é suposto estarmos investidos nesta luta? Não dá! Mas guess what? Também não interessa, porque o Jar-Jar está a fazer piadas! Yupiii!

E por falar em “Yupiii!”, onde raio é que foram buscar o Jake Lloyd? O puto não consegue expressar uma única emoção discernível… Aquela despedida deixa-me sempre aziado: é assim que te despedes? Nem uma lágrima nem nada? E o raio do Mace Windu? É uma personagem tão… tão… sei lá, normal? A única faceta que o permite distinguir de outras personagens é o facto de ser interpretado pelo Samuel L. Jackson.



E montes de outras coisas em que eu podia divagar. Tretas sobre a utilização excessiva de CGI (só existem 2 planos no filme inteiro que não têm recurso a imagens digitais), sobre cenas inteiras que se desenrolam sem real desenvolvimento de personagem (Pod Race), da utilização da Força só quando convém à história, enfim…

The Phantom Menace é uma salganhada de coisas boas e coisas más. Muitas delas só são boas porque acontecem no Universo pré-estabelecido de Star Wars. Pergunto-me qual seria a sua recepção crítica, caso não fizesse parte da saga…

The Phantom Menace é nostálgico para mim. Adoro-o. Detesto-o. Elogio-o. Repugno-o. Se Star Wars é uma odisseia cósmica, o seu “primeiro” capítulo é uma odisseia de contradições. E embora não o recomende, caso queiras estar preparado para a noite mais quente de dezembro (dia 17), é uma paragem obrigatória.


Simon Says that this movie is…




domingo, 2 de agosto de 2015

Crítica - The Lord of the Rings: The Return of the King - 2003 - Peter Jackson

O final. O derradeiro adeus. As lágrimas que te escorrem pela cara…

Todos os exércitos da Terra Média estão a juntar-se para combater as forças do Mal uma última vez. Frodo e Sam aproximam-se cada vez mais de Mordor: e nada os pode preparar para as provações que ainda estão para vir.

Ao contrário dos outros dois filmes da trilogia, não há uma única cena fraca durante as reverberantes 4 horas de The Return of the King. Há sim um sentimento de finalidade, de conclusão, de apogeu. Cada personagem atinge o auge do seu desenvolvimento: e nada podia ser mais gratificante.

Ao fim de todo este tempo juntos, TU és parte da Irmandade do Anel, e são os teus amigos que se tornam melhores por TI. É impossível não te sentires assim.



Toda esta luta inglória contra os males do mundo, tendo apenas os teus companheiros como porto seguro, é canalizada através da canção de Peregrin Took. Pippin foi a única personagem que chegou ao capítulo final da história com a sua inocência e convicções inalteradas. Mas confrontado com a demência com que Denethor (excelente John Noble) envia o seu único filho para a morte, é incapaz de subsistir, lançando-se num lamento que será lembrado enquanto o mundo tiver memória.



Algo recorrente nesta trilogia é o facto de que tudo o que acontece (sejam canções, batalhas, conversas, piadas…) revela/desponta desenvolvimento nas personagens. É palpável o carinho e cuidado com que foram tratadas cada uma das pessoas da NOSSA Terra-Média.

E Gollum… Gollum lembra-se de tudo: do que chorou, do que comeu, do que matou… E lembra-se de quando o Anel o encontrou. A sua história faz-nos reconhecer tudo o que a personagem foi. Faz-nos compreender. Faz-nos desconfiar. E, subliminarmente, faz-nos valorizar ainda mais a amizade entre Frodo e Sam.



Sean Astin, que já em The Two Towers tinha brilhado, raia o miraculoso nesta sua interpretação. Comédia, desespero, fúria, resignação, desejo, empatia… Não lhe valeu qualquer nomeação aos principais prémios da indústria, mas (cá para nós) também não precisava.

Também Viggo Mortensen mete a 6ª e sai disparado em direcção à eternidade. Num desempenho que podia ter sido monótono ou alicerçado na interacção com personagens secundárias mais interessantes (como em tantos filmes de fantasia acontece), Mortensen torna Aragorn no gajo mais realista, complexo e multifacetado da saga.

Bernard Hill, o magnífico rei Théoden, que através de um dos mais portentosos discursos da História da 7ª arte eleva a cavalgada dos Rohirrim ao Olimpo das cenas épicas. São arrepios na espinha e nos braços. É o sangue a correr-te mais depressa nas veias. És tu pronto a subir para cima de um cavalo e sangrar pela salvação da tua raça, da tua nação, da tua família!



E Miranda Otto…

2015 tem sido um ano em que se fala muito do crescente papel das mulheres no cinema.

The Lord of the Rings, por muitas qualidades que tenha, passou desapercebido enquanto um bom exemplo do que é “women empowerment”. Não, o protagonista não é uma mulher (se bem que às vezes aquele Elijah Wood…). Não, não é uma mulher que derrota o poderoso senhor do Mal. Mas quem é que carrega Frodo e derrota os Nazgûl quando nem Aragorn nem os Hobbits podem fazer nada? Arwen. Quem é que derrota o cabrão do Witch King of Angmar? Éowyn.

“Get away from her you bitch!” ? Nah, meus caros amigos. É em The Return of the King que está a frase de afirmação feminina mais forte e icónica da História do cinema.



E sim, “melhor da História do cinema” é um adjectivo que pode (e deve!) ser utilizado em relação a vários aspectos deste filme.

Por exemplo! Ouves 2 ou 3 acordes da banda sonora e sabes: “Estou no Shire!” ou “Estou em Rohan!” Podes mostrar 2 ou 3 imagens do filme a quem quer que seja, à tua avó ou ao teu primo Josué, e eles automaticamente reconhecem como sendo parte de The Lord of the Rings. Para mim, a que melhor encapsula TODA a saga é esta.



Num só frame tens a magia, o desespero, o desejo, a conquista, o medo e a felicidade. O plano completo faz-te voar pelos ares, mantendo Gollum focado na sua loucura imortal. Andy Serkis é simplesmente do outro mundo e não há palavras que cheguem para descrever a monumentalidade da sua performance.

E aqui, mais uma vez, rejeito o argumento de Roger Ebert de que os Hobbits são esquecidos em detrimento dos grandes senhores. A grande batalha é entre Frodo, Sam e Gollum. A batalha de Minas Tirith acaba quando Aragorn aceita o seu destino e convoca o exército mais OP (OverPowered) da Terra Média.

Se os fantasmas são parvos? Não. O que aconteceu aos fantasmas faz parte da História criada por J. R. R. Tolkien. Tivesse acontecido de maneira diferente, o mundo e a narrativa que nos é apresentada não seriam os mesmos. Acções provocam reacções: se elas são plausíveis, porquê mandar vir?

MAS VOU MANDAR VIR SIM! Porque é que haviam de tirar a Boca de Sauron da versão original!? Para além de ser uma personagem nojentamente cativante, aumenta a carga emocional dos últimos minutos de acção de maneira vulcânica (pun intended) !



É preciso dizer que a banda-sonora é maravilhosa? Que as cenas de guerra exultam um sentimento épico por cada frame? Que Ian McKellen é fenomenal? Que me sinto parte da Irmandade? Que vibro de antecipação de cada vez que vejo este filme? Que me vêm lágrimas aos olhos em TODAS as cenas finais?

Está dito.

E que fique dito também que eu sou escuteiro desde os meus 9 anos e a minha jornada está a chegar ao fim. Nada apagará os momentos que vivi com A MINHA irmandade. Ver a caminhada que fiz reflectida num filme que amo desde essa exacta idade é catártico, é bonito e é um argumento mais forte e verdadeiro do que qualquer outro que vos pudesse dar.


Simon says that The Lord of the Rings: The Return of The King is…