quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Crítica - Alice in Wonderland - 2010 - Tim Burton

Um dos maiores pecados que alguma vez cometi enquanto criança foi não obrigar a minha mãe a comprar-me a versão clássica de Walt Disney desta fábula. Crucifiquem-me à vontade, mas todos fomos miúdos e cometíamos erros! Com isto em mente, passemos então à avaliação da «sequela» realizada por Tim Burton.

Alice (Mia Wasikowska) cresceu e está noiva de um bartolão sem imaginação: ora, obviamente que ela repudia esta ideia. Despropositadamente, aparece um coelhinho branco que a leva a uma terra encantada que há muito esqueceu. Mas «eles» não a esqueceram.

O realizador californiano é conhecido pelo seu estilo visual inconfundível e pela criação de uma panóplia de personagens bizarras e esquizofrénicas que acabam sempre por ter o cunho do amigo Johnny Depp e da sua mulher, Helena Bonham Carter. «Alice in Wonderland» não se desvia um milímetro do que costuma ser o trabalho habitual de Burton, sendo por isso garantida uma viagem alucinogénica a um universo fantástico repleto de entretenimento versátil e excêntrico.


Não é um filme que agrade a todos: longe disso. Muitos dos críticos mais agressivos afirmam que a cena do futterwacken, entre outras, é a pedra tumular na carreira de todos os intervenientes. Esses mesmos críticos, provavelmente, já enterraram a sua criança interior há muito tempo. Ainda estão a tempo de ir roubar uma retroescavadora e desenterra-la: o filme só começa às 18.

Wasikowska no papel principal, é como Jamie Foxx em «Django Unchained»: mostra todos os sinais de entendimento da sua personagem, mas acaba por ser suplantada por uma imensidão de personagens secundárias muito mais interessantes e jocosas. É inútil descrever Depp no papel icónico do Chapeleiro Louco: tem que ser experienciado. No entanto, irrita-me o facto de um actor com tanto talento, ter-se fundido intimamente a uma personagem, ao ponto de todas as suas performances futuras ficarem manchadas. Não fosse pela maquilhagem, efeitos especiais e sotaque irlandês estaria a olhar para o pirata mais famoso da história do cinema.

O resto do elenco é charmoso a um nível merecedor de qualquer clássico Disney: Carter como a rainha de Copas é ameaçadoramente hilariante; Anne Hathaway parece estar sempre a gozar com toda a gente; Rickman tem a voz perfeita para uma lagarta apanhadíssima por «bolota» (por mais estranho que possa soar), assim com Michael Sheen, Stephen Fry e Timothy Spall. Embora breve, como a maior parte das suas actuações mais recentes, a passagem de Christopher Lee revela-se como uma das preciosidades deste filme; qual presságio, anunciando o futuro papel de Benedict Cumberbatch como um certo dragão...



«Alice» não é de todo um marco histórico da 7ª arte. É colorido, divertido e acriançado. Tem o conteúdo e tom correcto para alegrar toda a família num dia cinzento como o de hoje. Comédia, acção, aventura, emoção: tudo em doses ligeiras que não magoam os sentimentos de ninguém. Tem inconsistências, muito devido à ligeireza com que aborda a história, nunca tentando ser mais do que aquilo que deve.

A aleatoriedade com que a lógica de «Wonderland» é promulgada encanta-me profundamente: talvez porque ainda espero o dia em que o mundo se lembre do que perdeu ao deixar para trás as cores e magia dos desenhos animados.

A última cena, que pouco tem sido debatida, tem um significado muito apropriado para o Natal: Alice tinha-se esquecido da sua primeira viagem. Como um adolescente que vai deixando para trás a sua infância, tentando afirmar-se enquanto adulto. Mas uma vez confrontada com os problemas dos crescidos, procura conforto no único período em que foi livre e feliz, descobrindo a maneira certa de encarar o futuro: com as suas memórias sempre presentes.


Simon Says that this movie is…


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