E precisamente quando os superlativos me começam a faltar
chegamos ao melhor capítulo da saga. O que é que vai sair daqui? Não faço
ideia… Tal como as audiências, que andaram a roer unhas durante 3 anos, não
sabiam o que esperar da sequela do maior sucesso da história do cinema.
Com o aperto inflexível do Império cada vez mais perto, Luke
(Mark Hamill) parte em busca de um antigo mestre Jedi, enquanto Han (Harrison
Ford), Leia (Carrie Fisher) e companhia fogem de Darth Vader (corpo de David
Prowse e voz de James Earl Jones).
O filme, supostamente, dura 2 horas e 4 minutos: mas,
palavra de escuteiro, ao fim de tantos anos, continua a parecer que dura meia
hora. A acção é frenética, o perigo é constante e as novidades são inúmeras. O
realizador Irvin Kershner elevou demasiado a fasquia: e passados 35 anos
(ainda) ninguém a igualou.
As personagens principais ficaram todas estabelecidas no
primeiro capítulo da saga: agora é só construir sobre o que está firmemente
alicerçado nas mentes e corações do público. Vader está mais maquiavélico que
nunca, Solo está mais badass, Luke está mais confiante (se bem que
irreflectido) e Leia está mais decidida.
Se em A New Hope os actores principais pareciam um pouco
“relaxados”, em The Empire Strikes Back parecem vergados com o peso da
responsabilidade acrescida. Um sentimento de tensão e gravidade percorre todo o
espectro da película. Com efeito, todas as decisões se tornam mais importantes
e decisivas: não há desperdício de tempo nem de movimento.
O sucesso financeiro deste filme estava garantido, por isso
os seus criadores deixaram-se levar por algumas analogias menos usuais para
produções de grande custo. Incorporar metáforas visuais, filosofias ancestrais
e pistas para o futuro da saga foram liberdades tomadas que só aumentaram a
quantidade de “sumo” que é possível extrair da obra. Se a dissecarmos até ao
âmago, veremos que é a mais pura representação de bem contra mal. Os Aliados contra os Nazis. A democracia contra a opressão. Serenidade contra raiva.
Filosofias e metáforas são muy lindas, mas nada disto
contaria se Kershner e companhia não te atacassem os sentidos desde o primeiro
frame. Ainda que não seja completamente oficial, há quem afirme que o orçamento
duplicou do primeiro para o segundo filme e, acredita, foi TUDO utilizado da
melhor forma possível. Se actualmente uma sequela visse o seu orçamento
duplicado era tudo utilizado para criar mais explosões e mais Transformers e
mais Ultrons e mais… Bom, vocês sabem!
Neste caso foram os decors que melhoraram. Mais planetas
completamente distintos, cada pedacinho do ecrã encarcerando minúsculos
detalhes que acrescentam vida e autenticidade a tudo o que estamos a ver.
Existem exemplos do mesmo tipo de atenção ao detalhe em determinadas produções
actuais: o problema é que essa atenção não é direccionada para matéria viva,
mas sim para produções artificiais em green screen. A ilusão morre no momento
em que temos a certeza da verdade.
E a ilusão é a mãe do deslumbramento: o sentimento que a
trilogia original de Star Wars mais exacerba. Faz-nos sentir pequeninos,
inocentes e aventureiros.
Digam-me lá outro filme que tenha consolidado um fantoche no
panteão dos gurus de auto-ajuda? Yoda (manobrado e ventríloquado [EU FAÇO OS
NEOLOGISMOS QUE EU QUISER!] pelo lendário Frank Oz) é uma criação de puro
génio. Nunca por um segundo duvidamos da sua existência porque o trabalho
fantástico da equipa de Oz dota-o de uma personalidade e sentimentos muito
realistas. E isso mantém a magia.
Para além de Yoda, outras personagens secundárias memoráveis
como Lando Calrissian (Billy Dee Williams) e Bobba Fett (Jeremy Bulloch) são
introduzidas com grande sucesso. Enquanto Lando é introduzido com alguma pompa
e circunstância, Fett é O exemplo de um minimalismo que funciona e explode de
proporção. Com pouquíssimas falas, sem qualquer informação sobre o seu passado,
excepto aquela que podemos adivinhar através da maneira como outras personagens
se lhe dirigem, o estatuto lendário que lhe é atribuído excedeu todas as
expectativas dos seus criadores.
Criadores que tiveram o discernimento de não modificar muito
do que fizeram na versão original. Para além de mostrarem o Yeti logo ao princípio
e darem janelas à Cidade nas Nuvens, pouco mais é discernível a olho nu. Acredito
que a magistral cinematografia do grande Peter Suschitzky tenha sido a razão
pela qual não fizeram muitas alterações. A ambiência que cada personagem/planeta/nave
exige é correspondida às mil maravilhas na mescla perfeita entre imagem e som.
Tam-tam-tam tam-tatam tam-tatam! Sim senhoras e senhores, foi
neste filme que surgiu a música que todos os homens metem como toque de chamada
para as suas sogras. John Williams usou e abusou de tudo o que tinha à sua
disposição, acrescentando vários temas inesquecíveis à já espectacular banda
sonora base que tinha composto para A New Hope. Todos os momentos, dos mais íntimos
aos mais espectaculares, são pontuados pelas suas excelsas criações.
Todos os momentos… Inclusivamente AQUELE que todos se lembram.
AQUELE que todos discutem. AQUELE que todos, mesmo os que nunca viram um único
filme da saga, conhecem. Este é o nível a que Star Wars chegou: digam-me lá
outro filme cujo plot-twist esteja tão embrenhado na cultura geral que é praticamente
impossível conhecer alguém que não faça ideia dele.
A única falha que posso apontar em The Empire Strikes Back prende-se
não com o filme, mas com a maneira como o Universo foi criado. O tempo e a
evolução das tecnologias fazem com alguns dos efeitos especiais tenham perdido
o impacto que em 1980 tiveram.
Sinceramente: devo retirar mérito ao filme por isso? Porque meia
dúzia de momentos no filme já não conseguem competir com produções 35 anos mais
avançadas? Não, não o vou fazer.
Vou sim dar-lhe mérito porque continua a ser relevante e fascinante.
Vou dar-lhe mérito porque raros serão os filmes lançados em 2015 que 35 anos
depois continuarão a ser aplaudidos pelos seus efeitos especiais e utilização
ímpar de todo o orçamento que lhes foi dado. Vou-lhe dar mérito pelas gerações
vindouras que continuará a fazer sonhar e acreditar.
Ainda ontem estive a rever este episódio pela 100º vez,e uma coisa que reparei, agora com olhos mais crescidos, foi a construção das personagens e o nível de dialogo entre elas. Tudo muito simples, com processos directos, sem rodeios, e básicos, são poucas as pontas soltas.As personagem ficam todas muito arrumadas na nossa cabeças.
ResponderEliminarIsto deixa espaço para apreciar num nível mais artístico todo o trabalhos "manual" feito em prol dos efeitos especiais.Que a meu ver, ainda hoje são difíceis de executar sem auxilio do (CG).As cenas em stop-motion,têm um encanto qualquer,difícil de explicar.
Concordo plenamente! Essa é uma das coisas que acabei por não referir na crítica mas também acho importante: essa tal "simplicidade" que não tem nada de simples. Como um filme da Disney, os primeiros 2 Star Wars não complicam a linguagem per se (apelando a miúdos) enquanto deixam os aspectos técnicos e alguns devaneios subliminares para os adultos apreciarem.
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