quarta-feira, 2 de agosto de 2017

As sementes do Anime?! Deixem-me rir!

Anime: uma palavra controversa sempre que se fala de cinema no ocidente, mas cujas sementes vão crescendo de forma imparável.

Se os filmes de Hayao Miyazaki e do “seu” estúdio Ghibli são reverenciados por qualquer ser humano possuidor de visão, clássicos como Paprika, Perfect Blue ou Akira são maioritariamente desconhecidos ou apenas merecedores de testas franzidas.



E se te disser que Paprika foi a principal inspiração para os irmãos Nolan escreverem Inception? E se te disser que Black Swan, do realizador Darren Aronofsky, é, de várias formas, um remake de Perfect Blue? E qualquer semelhança entre a Eleven de Stranger Things e Tetsuo de Akira é “puramente” casual.

As recentes adaptações de Edge of Tomorrow e Ghost in the Shell mostraram que é possível pegar em material proveniente do oriente e transformá-lo (ainda que de forma falível) em entretenimento para as massas.



Entra em cena Death Note: a história de um rapaz extremamente inteligente que encontra um caderno demoníaco que o permite matar quem quiser de forma inconsequente. Esta é a história de como se “tornou” num deus.

Tido em conta com uma das séries televisivas mais inteligentes e subversivas dos últimos 20 anos, este anime está a ser adaptado por Adam Wingard (VHS e The Guest) para a Netflix, com Nat Wolff no papel principal e Willem Dafoe na voz do demónio que o acompanha. A espectativa é muita, já que o trailer parece manter-se fiel ao fenomenal formato original.



Acompanhar conteúdos de entretenimento concebidos no outro lado do mundo é uma ferramenta importante para expandirmos os nossos horizontes culturais (sem sair do lugar), levantarmos questões fundamentais (que antes nos podiam estar vedadas) e apreciarmos arte de uma forma mais completa.

No entanto, se começar pela animação é um desafio muito grande, espera pela adaptação de Death Note ou vê alguma das outras supramencionadas. Porque enquanto leste este artigo, já as sementes do anime cresceram um bocadinho mais: e estão agora a germinar dentro de ti.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Esperar por um cinema completamente diferente?! Deixem-me rir!

A falta de criatividade no cinema dito “mainstream” é uma virose. O público queixa-se da imparável corrente de super-heróis e que “só os filmes dos Óscares é que valem a pena”.

Basta observar os filmes nomeados para o prémio de “Melhor Filme do Ano”, incluindo o vencedor (Spotlight), para nos apercebermos das “categorias universais” em que estão inseridos:

1- Os que abordam assuntos relevantes de uma maneira politicamente correcta;
2- Os biópicos crus com que o(s) protagonista(s) ganha(m) prémio(s);
3- As adaptações de best-sellers por parte de realizadores famosos;
4- Franchises que (salvo raríssimas excepções) só são nomeadas para prémios técnicos;
5- O outsider que claramente não se encontra em nenhuma das anteriores categorias.

O ano de 2015 foi extraordinário devido aos 3 nomeados para Melhor Filme que podiam ser colocados na categoria 5: Whiplash, Boyhood e The Grand Budapest Hotel. 



O problema? Em 2016 não houve nenhum.

Ainda que originalidade nem sempre seja sinónimo de qualidade, alguns dos títulos mais criativos do ano passado ficaram reduzidos a pouco mais do que uma nomeação ao prémio de Melhor Argumento Original. Falo em Inside Out e Ex Machina.

Se o primeiro já se tornou num chavão para todos os psicólogos do mundo, o outro tem todos os ingredientes necessários para ser um clássico de culto: 3 performances centrais electrizantes, uma realização exasperante e uma premissa perturbadoramente fascinante.



E ainda assim, foram “deixados de lado”.

Isto não é um artigo dedicado ao boicote dos Prémios da Academia: apenas um apelo para não nos deixarmos enfeitiçar pelo que aparece mais vezes na televisão ou nas redes sociais. O cinema, como qualquer arte, tem o poder de nos abrir os horizontes e levar muito para lá da imaginação. De colocar o dedo nas feridas da Humanidade e mostrar-lhe um espelho.

O facto de o fazer de uma forma original evidencia a fertilidade da nossa raça no que a ideias diz respeito, numa era em que tudo é rápido e facilmente consumível. O facto de as questões não serem sempre as mesmas demonstra a nossa necessidade de evolução. O facto de criarmos algo novo mostra que não estamos mortos.

The Lobster, estreia de 2015 do realizador grego Yorgos Lanthimos, conta a história de um futuro onde cada ser humano tem 45 dias para encontrar o amor da sua vida ou será transformado num animal e levado para a floresta.



Frank, de Lenny Abrahamson que estreou em 2014, mostra-nos a jornada de um jovem músico e da banda a que se junta: os Soronprfbs. Encabeçada pelo enigmático vocalista mascarado Frank, a banda, a arte e os seus membros irão ser colocados à prova.



Estes dois filmes são exemplos recentes de como a 7ª arte pode e deve causar desconforto, pontos de interrogação e sentimentos ambíguos. São mais do que entretenimento: são experiências que nos abrem meandros pela mente fora.


Este artigo não é um pedido de boicote ao cinema industrial. É sim um apelo à experimentação de fórmulas novas. Se vemos o mesmo, ouvimos o mesmo e pensamos o mesmo, como podemos esperar que o mundo mude para algo completamente diferente?

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Crítica - Ninho - 2017 - João P. Nunes

O cinema é um lugar onde não há barreiras. Sabes qual é o único outro lugar com essa mesma característica? O sonho. É algures entre essas duas moradas que se situa Ninho, a mais recente curta-metragem do realizador João P. Nunes.

Numa das ilhas da Ria Formosa mora um rapaz (Leandro Morais) cujo sonho é viajar até à cidade: o “paraíso” de luz do outro lado da Ria. Circunstâncias infelizes fazem-no chegar à terra prometida: e nem tudo será como ele espera.



Uma sinopse simples para descrever um filme cuja narrativa está enraizada na luta verdadeira dos moradores das ilhas da Ria Formosa: um local com que o realizador tem uma conexão nostálgica que expõe de forma grandiosa. Aliás, basta olhar para qualquer um dos teasers que foram lançados para perceber que grandioso é apenas um dos adjectivos que posso usar para descrever esta curta-metragem: e mais particularmente a sua fotografia.

As cenas na ilha são representadas de forma paradigmática (quer em termos de edição, quer em termos de interpretação) quando comparadas com o resto do filme. Reina a calma, o pacifismo e a estabilidade: tudo coisas que com o passar dos anos o ser humano começa a admirar de forma diferente. Muito para lá de uma jornada literal, Ninho aspira (e consegue) ser uma metáfora colorida sobre uma geração que se perdeu em sonhos e, quando confrontada com a realidade, apercebe-se de que tem de lutar pelo que (se) perdeu.



O filme podia ser perfeitamente dividido em 3 atos, sendo o 2º o mais marcante. É neste que se pode observar o alcance criativo do realizador e da sua equipa. Raramente se vê cinema português a ostentar tantas vertentes artísticas com orgulho: mas aqui está a prova de que é possível, mesmo com um orçamento limitado, fazer-se cinema entretido, relevante e memorável. Não obstante, a exploração em demasia desta vertente mais metafórica pode levar a um dissolver da sua mensagem, personagens e narrativa.

Numa entrevista que lhe fiz há quase 2 anos, João P. Nunes falava em Alejandro Jodorowsky e, principalmente, em Terry Gilliam como os seus principais influenciadores. Ora, se em Pela Boca Morre o Peixe e Do Céu Já Não Caem Lágrimas a herança do chileno foi mais que clara, Ninho (nomeadamente o tal 2º ato) é nitidamente uma explosão de música, dança e filosofia ao bom estilo do Monty Python



Esta curta-metragem foi um sonho partilhado por muitas pessoas que acreditaram nas ideias da campanha de crowdfunding desenvolvida por esta equipa. A versão a que tive acesso não é a final: no entanto está polido e trabalhado o suficiente para agarrar a atenção e não a largar até ao fim. É uma visão muito interessante e criativa em relação a um tema pertinente: uma prova de que estes jovens talentos ainda têm muito para dar e um mundo de possibilidades para explorar.


Só é preciso que os deixem procurar do outro lado da Ria.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Filmes Que Me PODEM Oferecer

Muninos e muninas, este artigo já vai com uns dias de atraso, mas servirá para futuros aniversários, Dias da Criança e Natais.

O vosso Buraco, que busca incessantemente conhecimento cinematográfico, tem uma mediana colecção de DVDs e Blu-Rays. Obviamente que nas datas acima referenciadas a família, amigos, conhecidos, fãs, animais, lojistas, massagistas, manicuras e pedicuras têm alguma dificuldade em saber o que comprar para este vosso tão (pro)fundo compincha.

Pois bem, para dissipar quaisquer dúvidas que possam surgir no futuro, decidi compilar (e manter atualizada) a lista de filmes que necessito de possuir. I’m not a perv, I swear!

Aqui ficam ALGUNS delis, não estando ordenados por qualquer critério.



A Fistful of Dollars


Quero porque: Sergio Leone é, possivelmente, o meu segundo realizador favorito. Nunca houve um filme seu que não gostasse, sendo que este foi o seu primeiro êxito Estado Unidense. Um western cheio de classe, é também o único que me falta da trilogia Man With No Name.

Shaun of the Dead



Quero porque: Falta-me esta gema para completar a trilogia Cornetto. Uma comédia inteligente (quer no uso de artificies cinematográficos, quer na genialidade de Simon Pegg e Nick Frost) e repleta de detalhes deliciosos. 

The Exorcist


Quero porque: É o melhor filme de terror de sempre. Enquanto os imitadores utilizam jump-scares ou gore para provocar reações, o clássico de William Friedkin fá-lo através de interpretações aterrorizadoras, uma ambiência demoníaca e uma crueza que raramente encontramos no cinema contemporâneo.

Scott Pilgrim vs The World


Quero porque: Edgar Wright é o realizador mais nerd do universo e adoro-o. É um filme repleto de energia, comédia e o tipo de ação mais espetacularmente parva de sempre. Aceita que dói menos.

Following


Quero porque: É mais do que uma lição de como fazer um grande filme sem orçamento para tal: é a escola toda. A primeira longa-metragem de Christopher Nolan é extremamente rara de encontrar, mas recompensa o esforço com uma premissa aliciante e uma realização viciante.

As Duas Trilogias Star Wars + The Force Awakens


Quero porque: É um pecado não ter nenhum Star Wars em casa. Critiquei-os a todos (menos ao último) por isso claro que tenho um carinho especial por cada um destes “episódios”. Terão sempre um cantinho no meu coração por isso ofereçam-lhes, também, um cantinho na minha estante.


A Saga Harry Potter


Quero porque: Acompanharam o meu crescimento de forma regular, sendo que, os primeiros filmes, conseguiram capturar PERFEITAMENTE o espirito dos livros. Magia, sonhos, aventura e uma odisseia cujo impacto a nível mundial (e pessoal) é inegável.

Requiem for a Dream




Quero porque: É um dos filmes que melhor evoca (em forma de desespero e náusea) a podridão do espirito humano. Interpretações maravilhosamente torturadas e uma realização que, num ambiente claustrofóbico, conseguiu demonstrar o talento estratosférico de Darren Aronofsky.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

TOP de filmes c'u Buraco viu em 2015

Oi. Este ano não vi tantos filmes como nos anos anteriores. NÃO OBSTANTE fui muito mais vezes ao cinema: isso reflecte-se nas 12 (!!) estreias de 2015 que estão no meu Top 20.

Foi um bom ano para a 7ª arte e foi um bom ano para o Buraco. Obrigado por aqui estares: nem imaginas o quanto significa para mim <3

Entretanto, só para que fiquemos esclarecidas, 3 apartes:

- para a minha lista dos 10 melhores filmes que saíram em 2015 terás de consultar este link do Espalha Factos;
- como de costume, o meu top refere-se aos filmes que vi pela 1ª vez em 2015. Não quer necessariamente dizer que são só os que saíram este ano;
- vou ser 200% subjectivo, por isso não me matem!

As 5 menções honrosas são:




E aqui fica o Top de Filmes C'u Buraco viu em 2015!


#20


Ex Machina – 2015 – Alex Garland

Pela maneira esguia como a tensão e os actores são conduzidos, eu teria apostado que este é o produto de um realizador experiente. Nada disso: é sim a primeira longa-metragem do consumado guionista de 28 Days Later e da sua sequela 28 Weeks Later. Um sci-fi inteligente, que coloca as perguntas certas e nos deixa a debater com as respostas. Junta-se a isto as performances imaculadas de Domhnall Gleeson, Oscar Isaac e, principalmente, Alicia Vikander, e temos um dos melhores filmes do ano.


#19


Relatos Salvajes – 2015 – Damian Szifron

«Podia acontecer-te a ti.» Essa é a batata-quente que o realizador Damian Szifron te passa para as mãos, nesta comédia negra produzida por Pedro Almodóvar. Composta por 6 curtas histórias, todas elas relacionadas com o tema central de violência e vingança, Relatos Salvajes não tem medo de nos mostrar o lado mais obscuro da espécie humana de uma forma crua e perturbante. Se bem que acabas sempre por rir.


#18


Beasts of No Nation – 2015 – Cary Joji Fukunaga

O homem que realizou a 1ª temporada de True Detective voltou à carga com este relato poderoso de uma realidade que preferimos esquecer. Protagonizado pelo jovem estreante Abraham Attah (que faz um trabalho fenomenal) e elevado pelo carisma inesgotável de Idris Elba, esta é a primeira tentativa da Netflix atingir os prémios da Academia. E tendo em conta o resultado final, é praticamente garantida que vão ter sucesso na sua missão.


#17


Jodorowsky's Dune – 2013 – Frank Pavich

Um documentário fascinante sobre uma "lenda urbana" da 7ª arte. O título de "Melhor Filme Nunca Feito" é atirado com alguma regularidade para o colo de vários projectos Hollywoodescos: mas nenhum deles se pode comparar à visão que o chileno Alejandro Jodorowsky tinha para o livro de Frank Herbert. A conclusão que o realizador Frank Pavich nos permite chegar é inspiradora: por não se ter tornado no que o seu criador queria, o filme tornou-se (como o seu protagonista) em muito mais. E dessa forma viverá para sempre.


#16


Kaze Tachinu (The Wind Rises) – 2015 – Hayao Miyazaki

A última longa-metragem de um dos maiores deuses do cinema de animação. Como não ficar emocionado? Kaze Tachinu, para além da óbvia genialidade e espectacularidade na imagem e fotografia, condensa uma história incomum: pelo menos nos parâmetros estabelecidos por Miyazaki. Sem os seus habituais devaneios fantasiosos, o japonês consegue, ainda assim, deixar-nos uma última questão: tudo o que andas a fazer, toda a beleza que constrois, todos os sonhos que cultivas... Vale mesmo a pena?


#15


Predestination – 2015 – The Spierig Brothers

Todos os anos há um filme em que no final sinto que fui espezinhado. O ano passado foi Interstellar. Este ano é Predestination. Vai de mente aberta, não presumas, não te armes em detective: simplesmente deixa o enredo desenrolar-se. Ethan Hawke mantém a sua postura genuína e conduz uma orquestra de ficção cientifica meteórica. E depois há Sarah Snook. Hora e meia depois de lhe meteres os olhos em cima nunca mais a esquecerás. Se precisares do contacto de alguns psicólogos para tratares o trauma que se segue fala comigo. 

#14


Eastern Promises – 2007 – David Cronenberg

Cronenberg é um realizador ambíguo. Tão depressa apresenta películas repletas de metáforas incompreensíveis, como  estudos de personagem intrigantes e multifacetados. O argumento tem a assinatura de Steven Knight: realizador do êxito britânico, Locke. Viggo Mortensen é intrépido na sua criação, assim como o sempre brilhante Vincent Cassel. No entanto é a dureza da realidade, que Cronenberg tão elegantemente capta, que se torna na estrela de um filme extremamente completo.

#13



Inside Out – 2015 – Pete Docter e Ronnie Del Carmen

Um dos mais inteligentes filmes do ano entra também para o role de melhores filmes de animação de que há memória. A maneira genial como os argumentistas encontraram metáforas para diferentes parvoíces da condição humana é apenas a ponta do iceberg. Fazê-lo enquanto se estabelecem personagens, com um belo sentido de humor e de aventura à la Pixar é o coeficiente de uma das melhores parábolas psicológicas da história do cinema americano.


#12


Wo hu cang long (Crouching Tiger Hidden Dragon) – 2000 – Ang Lee

Um dos melhores filmes de acção da última década é também uma das experiências visuais mais apelativas que tive este ano. Conjugando uma simples premissa de resgate, emancipação e vingança com coreografias espantosas, uma banda sonora rejubilante e performances confiantes, este é um dos maiores triunfos da carreira do realizador Ang Lee. Muito para lá das palavras, são as imagens que deixam uma marca indelével na memória do espectador.


#11


Y tu mamá también – 2001 – Alfonso Cuarón

Adoro filmes que claramente têm orçamentos pequenos e fazem disso a sua força. Alicerçado no talento (e sensualidade) de Diego Luna, Gael García Bernal e de Maribel Verdú, num dos melhores guiões de que tenho memória e numa realização primorosa do agora galardoado Cuarón, Y tu mamá también oferece-nos uma das mais intrigantes reflexões sobre a juventude, a vida e a felicidade.


#10


Mr. Nobody – 2009­ – Jaco Van Dormael

Prepara-te para o mind fuck. Com um elenco extremamente competente, uma direcção de arte espectacular e uma das mais intrigante premissas desta lista, este filme combina o melhor da arte reflexiva com o melhor do entretenimento. É um romance, mas um daqueles ao estilo "queimado" de Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Só que ao contrário deste, não acho que devas passar o filme à procura de respostas. Simplesmente aprecia, deixa que a beleza das questões que coloca te consumam. Pode ser o suficiente para te deixar com um sorriso. 


#9


A Girl Walks Home Alone At Night – 2015 – Ana Lily Amirpour

A longa-metragem de estreia de Amirpour confirma-a como "o novo Tarantino". A rebentar de estilo, badassness, ideias frescas e personagens cativantes, este auto-proclamado "primeiro western de vampiros iranianos" foi a maior surpresa que tive todo o ano. Com uma banda sonora esmagadora, algumas cenas inesquecíveis e uma boa dose de confiança no material criado (Vai à procura de entrevistas da realizadora. Valem MUUUUUUITO a pena!) pode-se claramente afirmar que o melhor ainda está para vir. Não acreditas? O seu próximo filme chama-se The Bad Batch e é sobre uma história de amor entre canibais num Texas distópico. E tem o Jim Carrey.


#8


Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) – 2015 – Alejandro González Iñárritu

Passado um ano ainda tenho que arranjar superlativos para esta besta da natureza? De um ponto de vista técnico é simplesmente milagroso. Será lembrado para sempre pela maneira ímpar como Iñarritu e Lubezki contornaram o "impossível". As personagens parecem ter sido criadas tendo em conta as tribulações pessoais dos actores que lhes dão vida. É um filme que lida com vários paradigmas da nossa sociedade, focando-se, principalmente, na criação artística. Genial em todos os sentidos da palavra. A crítica a este filme pode ser lida aqui.


#7


Whiplash – 2015 – Damien Chazelle

"Not my tempo." Muita gente se vai lembrar deste como sendo o filme que fez de J. K. Simmons o gritador de serviço de Hollywood. Para mim não. Para mim este foi o filme que me mostrou o VERDADEIRO Miles Teller. Não é o gozão do Project X mas sim um actor sério que respondeu ao desafio de Damien Chazelle com uma das performances mais subvalorizadas do ano passado. A história de confronto de vontades, a soberba edição e a música icónica fazem desta (por favor, não retire as próximas palavras de contexto) uma das mais excitantes experiências que já tive em frente a um ecrã. A crítica a este filme pode ser lida aqui.


#6


Do The Right Thing – 1989 – Spike Lee

O Spike Lee é um gajo engraçado. Eu nunca sei se concordo naturalmente com o que ele diz ou se me manipulou tão bem que não tive outra escolha senão concordar. Independentemente das suas posições políticas (que são inseparáveis dos filmes que realiza), Lee consegue sempre surpreender-me. Embora não seja o meu filme favorito do americano (esse será Malcolm X), Do The Right Thing estabelece um universo paralelo ao nosso, repleto de personagens secundárias memoráveis, um enredo inesquecível e uma identidade visual que não te deixa desviar o olhar.


#5


Kynodontas (Dogtooth) – 2009 – Yorgos Lanthimos

Todos os anos há um filme em que no final sinto que fui violado. O ano passado foi Under the Skin. Este ano foi Kynodontas. Com um argumento espectacularmente original, com uma poesia imagética a lembrar Buñuel e uma Alegoria da Caverna levada ao extremo, este não é um filme de pipocas. Este não é um filme bonito e que te deixa com um sorriso nos lábios. Este é um filme que te agarra pelos colarinhos e exige a tua atenção enquanto te manda gafanhotos para a cara. Poderoso, arrebatador, mas que talvez nunca tenhas coragem para rever.


#4


Cobain: Montage of Heck – 2015 – Brett Morgen

Nirvana é a minha banda favorita. O Kurt Cobain morreu no mesmo dia em que eu nasci. Tenho 21 anos. Tudo isto são factores que me levam a identificar com o homem documentado. Tudo o que (não) querias saber sobre a lenda do rock está aqui. Todos os podres, todos os detalhezinhos que te podem ajudar a tecer uma teoria Freudiana, todas os rabiscos e gravações pessoais que eram parte do seu ser mais íntimo. Tudo ganhou vida. Tudo acompanhado de uma cinematografia brilhante e das mais puras composições musicais da nossa era. É emoção cristalizada.


#3


Mad Max: Fury Road – 2015 – George Miller

Aclamado com um dos melhores filmes de acção de todos os tempos, Mad Max: Fury Road é exactamente tudo aquilo que se diz: e mais. Quantas vezes um filme de acção se pode gabar de ter uma das melhores performances do ano? Quantas vezes é que viram um filme acabado de sair que é imediatamente aclamado como um "clássico"? Quantas vezes é que um realizador tem carta branca para fazer aquilo que quer e bem lhe apetece? Este filme foi uma oportunidade única de ver uma visão genial levada ao grande ecrã sem açaime. E que "lovely" é... A crítica a este filme pode ser lida aqui.


#2


Star Wars: The Force Awakens – 2015 – J.J. Abrams

Tem falhas? Tem sim senhora. Subtrai daquela que foi a melhor experiência num cinema que tenho desde há muitos anos? Não. Estabelecendo personagens novas, reintroduzindo as antigas (que com mais 30 anos de experiências são basicamente novas), conduzindo a acção de maneira ímpar, dando música aos nossos sonhos e forma aos nossos pesadelos, The Force Awakens é o produto final de uma equipa apaixonada pelo que estava a fazer. E sabem que mais? Quem é apaixonado por cinema (não Star Wars, apenas cinema) não pode negar o espectáculo e magnificência do melhor filme de 2015.

#1


Fanny och Alexander – 1982 – Ingmar Bergman

Este ano fizeram uma promoção na Fnac. 2 Filmes de Bergman = 10€. Agarrei no Persona (até então o meu favorito do sueco) e fiquei a pensar em qual seria o seu par. Uma rápida viagem até ao site de Roger Ebert e acabei por me decidir por este. Durante meses ficou a ganhar pó na estante (ver um filme sueco de 3h requer coragem). Uma bela noite decido começar a vê-lo para adormecer. Basta dizer que não adormeci. Uma experiência cinematográfica assombrosa, com tudo o que um filme devia ter. Comédia, horror, dezenas de personagens secundárias INESQUECÍVEIS, fotografia icónica, design de produção (desde interiores, a exteriores, a roupas, a mobília) e momentos absolutamente mágicos que personificam o próprio espírito da 7ª arte.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi - 1983 - Richard Marquand

E por agora termina aqui. Não vai é durar muito tempo: everything is about to change.

Este capítulo concluía a mais rentável trilogia da história do cinema. E, tal como mais tarde viria a ser comprovado com as prequelas, George Lucas já não estava a fazê-lo com o coração. Este foi o primeiro sinal de que algo estava errado: e porque faz parte da trilogia original, os fãs fecham os olhos. Well, not me.

Enquanto o Império constrói uma nova Death Star, Luke (Mark Hamill), Leia (Carrie Fisher) e companhia tentam resgatar Han (Harrison Ford) das garras do malvado Jabba the Hutt.


Return of the Jedi continua a ser muito divertido. Os aspectos mais positivos dos últimos dois capítulos continuam a existir: a multiplicidade de planetas e raças, o ecrã sempre repleto de novas surpresas e a banda sonora monumental. Mas depois há o outro lado.

De um ponto de vista técnico, este é o “episódio” mais fraco da trilogia original.

A cinematografia é, sem dúvida, a pior. Longe estão os quadros em movimento de A New Hope ou a paleta de cores e imersão que besuntam o ecrã em The Empire Strikes Back. As escolhas feitas por Alec Mills poucas vezes favorecem a narrativa e raramente criam imagens icónicas. Talvez seja também devido à fraca fotografia que o green screen é muuuuuuuito mais perceptível do que nos capítulos anteriores: e isso quebra a ilusão. E sem ilusão não há magia. Sem magia não há Star Wars.

Os dois exemplos mais exasperantes são quando Han, Luke e Chewbacca (Peter Mayhew) estão a ser transportados para o Sarlacc e na perseguição de motos em Endor. Aliás, a perseguição é a percursora da corrida de Pod Race em The Phantom Menace. Padecem dos mesmos males (não têm desenvolvimento de personagem, demoram demasiado tempo) e acontecem a pessoas da mesma família.


E por falar nisso, serei o único que acha a cena do Luke e da Leia forçada? Entendo que era preciso algo que puxasse Luke para o Mal, mas a nova informação nunca é explorada a 100%. Leia permanece inalterada pela revelação e nenhuma tensão é acumulada: excepto aquela demonstrada por Han.

Aqui entra outra das minhas queixas em relação ao filme: Harrison Ford era, por volta de 1983, uma mega estrela de Hollywood. Para além de Star Wars, ele tinha agora protagonizado Raiders of the Lost Ark (o primeiro da saga Indiana Jones) e Blade Runner. Ou seja, chega a Return of the Jedi sem pressão absolutamente nenhuma: e isto nota-se. As suas expressões, ao longo dos 131 minutos da película, chegam a roçar o nível de cartoon. E, infelizmente, não é o único cartoon presente no filme.

Muita gente aponta os Ewoks como sendo o primeiro indício de que o Lucas tinha oficialmente trocado a lógica pelos cifrões: e eu não podia concordar mais. Ainda assim, tendo em conta o seu objectivo, os Ewoks foram tratados com o mínimo de habilidade. Comparemo-los com os seus primos mais próximos: os Gungans.


Se é para criar uma raça que apele ao público feminino e aos mais jovens, acho que ursinhos pequeninos são preferíveis a peixes/coelhos gigante com voz estúpida. Mais, antes de intervirem na batalha, passamos algum tempo com os Ewoks. Conhecemos um pouco da sua cultura, vemo-los a reagir à história contada por C3-PO como se fossem crianças. A pouco e pouco ficamos investidos nos pequenotes e tememos por eles aquando da luta. Aqui funcionou: em The Phantom Menace não!

Agora, claro que não faz sentido nenhum os peluches vencerem os soldados imperiais! Paus e pedras a darem conta de soldados armados? Ainda por cima de dia? É (mais) um dos momentos em que temos de suster a respiração e lembrarmo-nos de que isto é Star Wars e é suposto divertirmo-nos.


Em criança talvez funcionasse melhor, mas com um olhar mais crítico e conhecedor é impossível não ficar de sobrancelha levantada com determinadas posturas tomadas pelos cineastas. O diálogo de exposição então é tão descarado que dói (nomeadamente com Obi-Wan, que aparece só para dar informaçõezinhas “relevantes”). Não que todo o diálogo seja mau, holy shit, claro que não!

As cenas de Luke com Vader e o Imperador (terrifico Ian McDiarmid) são um jogo de retórica, esperança, contraste, conflito e desenvolvimento de personagem do mais alto calibre. Por esta altura percebemos que nenhuma destas personagens é linear e que são muito mais complexas que as dos blockbusters actuais. Excepto o Chewbacca: esse não conta. Todo filme deste género tem que ter o seu Groot. Ou Hodor.


E lamento fãs da Yub Nub Song que cresceram com os originais: mas a versão mais recente termina com a melhor alteração de todas. A música Victory Celebration é das melhores criações da carreira de John Williams e está, possivelmente, no meu Top 5 de melhores músicas originais para filmes. Mantém o espirito tribal dos ursinhos, mas carrega uma emoção muito maior, mais propícia ao final da trilogia.



Se concordo com a inclusão de Hayden Christensen? Sinceramente, não me importo. Eu percebo o porquê, mas fazia mais sentido o original. Creio que as novas gerações que tiverem de percorrer o tortuoso caminho das prequelas irão apreciar o tie-in, mas não era necessário.

Encontro muitos paralelismos entre Return of the Jedi e Revenge of the Sith: ambos têm momentos cinematográficos excelentes, ambos contêm um conflito bem vs mal mais acutilante do que nos capítulos anteriores da trilogia que findam e, principalmente, ambos retêm o espirito do episódio que lhes precedeu.

Se isso é bom ou mau decidam vocês: eu estou só para aqui a matar tempo enquanto não chega dia 17. Estou ansioso para ver os meus amigos outra vez.


Simon Says that this movie is… 



domingo, 6 de dezembro de 2015

Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back - 1980 - Irvin Kershner

E precisamente quando os superlativos me começam a faltar chegamos ao melhor capítulo da saga. O que é que vai sair daqui? Não faço ideia… Tal como as audiências, que andaram a roer unhas durante 3 anos, não sabiam o que esperar da sequela do maior sucesso da história do cinema.

Com o aperto inflexível do Império cada vez mais perto, Luke (Mark Hamill) parte em busca de um antigo mestre Jedi, enquanto Han (Harrison Ford), Leia (Carrie Fisher) e companhia fogem de Darth Vader (corpo de David Prowse e voz de James Earl Jones).


O filme, supostamente, dura 2 horas e 4 minutos: mas, palavra de escuteiro, ao fim de tantos anos, continua a parecer que dura meia hora. A acção é frenética, o perigo é constante e as novidades são inúmeras. O realizador Irvin Kershner elevou demasiado a fasquia: e passados 35 anos (ainda) ninguém a igualou.

As personagens principais ficaram todas estabelecidas no primeiro capítulo da saga: agora é só construir sobre o que está firmemente alicerçado nas mentes e corações do público. Vader está mais maquiavélico que nunca, Solo está mais badass, Luke está mais confiante (se bem que irreflectido) e Leia está mais decidida.


Se em A New Hope os actores principais pareciam um pouco “relaxados”, em The Empire Strikes Back parecem vergados com o peso da responsabilidade acrescida. Um sentimento de tensão e gravidade percorre todo o espectro da película. Com efeito, todas as decisões se tornam mais importantes e decisivas: não há desperdício de tempo nem de movimento.

O sucesso financeiro deste filme estava garantido, por isso os seus criadores deixaram-se levar por algumas analogias menos usuais para produções de grande custo. Incorporar metáforas visuais, filosofias ancestrais e pistas para o futuro da saga foram liberdades tomadas que só aumentaram a quantidade de “sumo” que é possível extrair da obra. Se a dissecarmos até ao âmago, veremos que é a mais pura representação de bem contra mal. Os Aliados contra os Nazis. A democracia contra a opressão. Serenidade contra raiva.


Filosofias e metáforas são muy lindas, mas nada disto contaria se Kershner e companhia não te atacassem os sentidos desde o primeiro frame. Ainda que não seja completamente oficial, há quem afirme que o orçamento duplicou do primeiro para o segundo filme e, acredita, foi TUDO utilizado da melhor forma possível. Se actualmente uma sequela visse o seu orçamento duplicado era tudo utilizado para criar mais explosões e mais Transformers e mais Ultrons e mais… Bom, vocês sabem!

Neste caso foram os decors que melhoraram. Mais planetas completamente distintos, cada pedacinho do ecrã encarcerando minúsculos detalhes que acrescentam vida e autenticidade a tudo o que estamos a ver. Existem exemplos do mesmo tipo de atenção ao detalhe em determinadas produções actuais: o problema é que essa atenção não é direccionada para matéria viva, mas sim para produções artificiais em green screen. A ilusão morre no momento em que temos a certeza da verdade.


E a ilusão é a mãe do deslumbramento: o sentimento que a trilogia original de Star Wars mais exacerba. Faz-nos sentir pequeninos, inocentes e aventureiros.

Digam-me lá outro filme que tenha consolidado um fantoche no panteão dos gurus de auto-ajuda? Yoda (manobrado e ventríloquado [EU FAÇO OS NEOLOGISMOS QUE EU QUISER!] pelo lendário Frank Oz) é uma criação de puro génio. Nunca por um segundo duvidamos da sua existência porque o trabalho fantástico da equipa de Oz dota-o de uma personalidade e sentimentos muito realistas. E isso mantém a magia.


Para além de Yoda, outras personagens secundárias memoráveis como Lando Calrissian (Billy Dee Williams) e Bobba Fett (Jeremy Bulloch) são introduzidas com grande sucesso. Enquanto Lando é introduzido com alguma pompa e circunstância, Fett é O exemplo de um minimalismo que funciona e explode de proporção. Com pouquíssimas falas, sem qualquer informação sobre o seu passado, excepto aquela que podemos adivinhar através da maneira como outras personagens se lhe dirigem, o estatuto lendário que lhe é atribuído excedeu todas as expectativas dos seus criadores.


Criadores que tiveram o discernimento de não modificar muito do que fizeram na versão original. Para além de mostrarem o Yeti logo ao princípio e darem janelas à Cidade nas Nuvens, pouco mais é discernível a olho nu. Acredito que a magistral cinematografia do grande Peter Suschitzky tenha sido a razão pela qual não fizeram muitas alterações. A ambiência que cada personagem/planeta/nave exige é correspondida às mil maravilhas na mescla perfeita entre imagem e som.

Tam-tam-tam tam-tatam tam-tatam! Sim senhoras e senhores, foi neste filme que surgiu a música que todos os homens metem como toque de chamada para as suas sogras. John Williams usou e abusou de tudo o que tinha à sua disposição, acrescentando vários temas inesquecíveis à já espectacular banda sonora base que tinha composto para A New Hope. Todos os momentos, dos mais íntimos aos mais espectaculares, são pontuados pelas suas excelsas criações.

Todos os momentos… Inclusivamente AQUELE que todos se lembram. AQUELE que todos discutem. AQUELE que todos, mesmo os que nunca viram um único filme da saga, conhecem. Este é o nível a que Star Wars chegou: digam-me lá outro filme cujo plot-twist esteja tão embrenhado na cultura geral que é praticamente impossível conhecer alguém que não faça ideia dele.


A única falha que posso apontar em The Empire Strikes Back prende-se não com o filme, mas com a maneira como o Universo foi criado. O tempo e a evolução das tecnologias fazem com alguns dos efeitos especiais tenham perdido o impacto que em 1980 tiveram.
Sinceramente: devo retirar mérito ao filme por isso? Porque meia dúzia de momentos no filme já não conseguem competir com produções 35 anos mais avançadas? Não, não o vou fazer.

Vou sim dar-lhe mérito porque continua a ser relevante e fascinante. Vou dar-lhe mérito porque raros serão os filmes lançados em 2015 que 35 anos depois continuarão a ser aplaudidos pelos seus efeitos especiais e utilização ímpar de todo o orçamento que lhes foi dado. Vou-lhe dar mérito pelas gerações vindouras que continuará a fazer sonhar e acreditar.


Simon Says that this movie is…