Alguma vez estiveste
longe de casa durante algum tempo? Lembras-te da sensação ao regressar? O calor
na barriga e a nostalgia de respirar novamente o TEU ar, a TUA família, a TUA
vida?
É exactamente esse o
sentimento que tenho ao vislumbrar o Shire no filme The Fellowship of the Ring:
o primeiro da trilogia The Lord of the Rings.
Num mundo repleto de
magia e seres míticos, o Senhor das Trevas, Sauron, precisa do Anel onde depositou
a sua alma para conquistar a Terra-Média. Frodo Baggins (Elijah Wood), um
pacato camponês, é confiado com a missão de fugir com o Anel e tentar
destruí-lo.
Esta é a mais básica das
sinopses que posso oferecer. Entrar em mais detalhes revelaria a história e não
é essa a minha intenção: pelo menos nesta primeira crítica. A minha intenção é
sim explicar o porquê deste filme (e consequente trilogia) ser essencial à vida
de qualquer ser humano que preze cinema e fantasia.
A obra de J. R. R. Tolkien
é a fundação de várias gerações de sonhadores, tendo solitariamente iniciado um
percurso que se estende muito para além do seu tempo: sem The Lord of the Rings
não existiria Star Wars. Sem The Lord of the Rings não haveria qualquer jogo de
Role-Play, desde Dungeons & Dragons a Skyrim. 95% da literatura fantástica
de hoje em dia não existiria sem esta trilogia. As palavras elfo, duende,
goblin, anão, feiticeiro e dragão não seriam mais do que memórias de um tempo
muito antigo, onde apareceriam esporadicamente em lendas mitológicas de países
distantes.
E milhões de rapazes e raparigas
por todo o mundo não teriam crescido com a vontade de juntar um grupo de amigos
e partir numa aventura para derrotar o mal.
«Estás a chamar aos
livros religião?!» Podes ter a certeza que estou. E o que Peter Jackson fez com
estes filmes foi dar o sopro de vida a um mundo desenhado pelo mestre da imaginação.
Deu-lhe carne, deu-lhe osso. Deu-lhe luz, vida e melodia.
Essa é a primeira vitória
de The Fellowship of the Ring: a Terra-Média (continente onde a acção é
passada) nunca parece irrealista ou distante, mas sim um país vizinho, onde
coisas extraordinárias estão a acontecer a pessoas como tu e eu. A Nova
Zelândia (local das filmagens) tornou-se imediatamente numa das minhas viagens
de sonho pelas múltiplas paisagens (desde montanhas geladas, bosques
misteriosos, campos verdejantes, cascatas e rios), pela simplicidade e magia
com que o director de fotografia Andrew Lesnie as captou, e pelo amor sincero
como a história é contada.
Quando um realizador e a
sua equipa são verdadeiramente apaixonados pelo projecto que têm em mãos é impossível
não ficar evidente no ecrã.
Com um amplo elenco
repleto de actores clássicos como Christopher Lee, Ian McKellen, Ian Holm e
John Rhys-Davies, e outros tantos que foram imortalizados nesta obra como Sam
Astin, Sean Bean, Orlando Bloom, Cate Blanchett, Viggo Mortensen, Liv Tyler,
Hugo Weaving... Enfim, uma colectânea infindável que nunca compromete. A lista de
nomes que figuraram neste filme é, só por si, motivo suficiente para o ver:
mas, como tantas vezes ficou comprovado ao longo da história do cinema, não são
os actores que edificam a película.
The Fellowship of the
Ring revolucionou a 7ª arte de várias formas, sendo o estilo épico que
Peter Jackson lhe imprimiu o exemplo mais categórico.
A maneira como a câmara passa por cima de enormes exércitos acompanhada pela gloriosa banda sonora de
Howard Shore ou o trabalho irrepreensível que a equipa de efeitos especiais
conseguiu imprimir neste mundo de fantasia é absolutamente estrondoso. 13 anos
depois não existem muitos momentos em que se possa apontar e dizer «Nah! Isto é
completamente falso!», sejam esses momentos batalhas com demónios antigos, edifícios
majestosos ou cidades inteiras feitas a partir de computadores.
Quantos filmes
poder-se-ão gabar do mesmo?
The Fellowship of the Ring
começa com uma breve introdução ao mundo onde vais passar as próximas horas, narrada
pela elfa Lady Gadriel (interpretada pela fantástica Cate Blanchett). A partir
daí és apresentado sequencialmente a cada uma das personagens principais, cada
qual com a sua própria história e maneira de ver o mundo. É abismal como o
enredo nunca perde o foco durante a introdução de cada um dos nossos novos amigos, sendo essa uma das principais forças do filme: no
final serás, quase certamente, capaz de distinguir as diferentes personagens e
até perceber as suas relações interpessoais.
Os laços de amizade,
confiança e (por vezes) de inveja são mais do que evidentes e, como tantas
vezes já o disse, são precisamente estas interacções e evoluções que fazem o público
criar vínculos com os diferentes intervenientes e preocupar-se com os seus
destinos.
O tom, embora seja inicialmente
feliz e até infantil, acaba por se alterar com os próprios intervenientes na
acção. O crescimento e desenvolvimento das suas personalidades são acompanhados
por mudanças nas cores, nas luzes e até na banda-sonora: subtis, nunca forçados
e mantendo uma sobriedade quase eloquente.
As cenas de acção são brutais e
excitantes, dando vontade a qualquer petiz de pegar numa espada e derrotar
monstros imaginários a toda a sua volta, com os poderes que só um verdadeiro
guerreiro poderá ter!
Oh esperem, era só eu a
fazer isso? Pronto, está bem…
A verdade é que de um
ponto de vista técnico, para a sua altura, The Fellowship of the Ring é
simplesmente intocável: até nas interpretações é quase perfeito.
Sir Ian McKellen no papel
de Gandalf, o feiticeiro cinzento, é excepcional, modificando-se, qual
camaleão, ao sabor das necessidades da sua personagem. É lixado o suficiente
para lutar com espada e magia contra exércitos inteiros de orcs (criaturas do
mal, controladas pelo Senhor das Trevas) e sábio o suficiente para aconselhar Frodo na sua jornada.
Viggo Mortensen, no papel
de Aragorn, um guerreiro renegado e herdeiro do trono, é a personagem mais
explorada na trilogia inteira e a sua introdução não poderia ter sido feita
melhor. Mortensen consegue eficazmente exprimir os vários paradigmas que
rodeiam este combatente implacável, desde a sua paixão proibida com uma
princesa dos elfos, o seu desejo de salvar o mundo e de escapar ao destino o persegue.
No entanto, tal como eu
disse, «quase» não é inteiramente perfeito.
O jovem Elijah Wood,
embora física e mentalmente ideal para a personagem, não tinha as
capacidades interpretativas indicadas para ser o protagonista desta jornada. Não
é que seja mau actor, mas por vezes as suas emoções demoram a exibir a sua verdadeira
forma, perdendo-se em inúmeras contemplações. Pá, basicamente o gajo, comparado
com o resto do pessoal, é suuuuper aborrecido.
Existem ainda algumas
conveniências na história que
são simplesmente ignoradas: o facto de Gandalf e Saruman (o feiticeiro branco,
interpretado por Sir Christopher Lee) só utilizarem os seus poderes esporadicamente,
e não sempre que necessário; a estupidez dos companheiros de viagem de Frodo
que despoletam uma série de perigos; a ignobilidade forçada de algumas personagens.
Não vou mentir quando digo
que este filme tem uma carga nostálgica muito intensa sobre mim: ensinou-me
várias coisas sobre a arte de contar histórias, sobre a imaginação e sobre o
cinema, numa época em que eu era simplesmente um miúdo sem muitas preocupações.
Ainda hoje tenho o VHS da
edição especial (duas cassetes) e lembro-me perfeitamente da primeira vez que
os vi. Foi no trabalho da minha mãe e eu tinha 8 anos. Desde aí nunca mais
olhei para trás e decidi (como só um miúdo de 8 anos pode decidir) que até ao
dia em que morresse, esta seria a minha história favorita: aquela que eu
contaria aos meus netos, sentados em frente a uma lareira quentinha.
E a verdade é que 12 anos
depois ainda aqui estou, não a falar com os meus netos, mas contigo, a dizer-te
que esta continua a ser a minha história predilecta e que nunca me cansarei de
a ver.
Passe o tempo que passar.
O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel: 4*
ResponderEliminarGostei bastante da história de "O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel" e conseguiu cativar-me, o argumento de "The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring" estava bem construído e todas as personagens me cativaram à sua maneira.
Cumprimentos, Frederico Daniel.