Silêncio: alguém te vai contar um segredo.
Um segredo que envolve máscaras e explosões. Mortes e
paixões. E aquele palhaço… Oh, aquele palhaço…
Silêncio: imagina-te daqui a uns anos, daqui a muitos anos.
Tens um filho: ele está farto da porcaria que a «Nova Hollywood» lhe vende.
«Quero ver um filme de super-heróis papá!»
Sorris. Vais até à tua vitrina antiga, sopras o pó da caixa
azul protectora e preparas o teu antigo leitor de DVD’s. A ranhura abre-se,
inseres o disco e voltas a fechá-la. Sentas-te ao lado do pequeno.
«Qual é o filme?»
Sorris: porque no ecrã se fez silêncio.
«Shiu, vou-te contar um segredo.»
E é assim que o filme começa: silenciosamente, desenrolando
o novelo ao longo do labirinto.
A primeira coisa que vemos? Uma máscara. Como se o
realizador, Christopher Nolan, nos quisesse dizer que a partir de agora tudo o
que vemos é um circo, onde o homem segurando a máscara de palhaço controla
todos os outros.
Harvey Dent (Aaron Eckart), um novo promotor público, quer
acabar com o controlo da máfia em Gotham: com esse intuito, alia-se a Batman
(Christian Bale) e Jim Gordon (Gary Oldman). Entra em cena Joker (Heath
Ledger), um anarquista sádico que não quer deixar nada disto acontecer.
Em «Dark Knight» as cenas são controladas em absoluto por
parte de cada uma das personagens.
Enquanto em muitos (grandes) filmes, a
presença do realizador é quase palpável, aqui não existe espaço para isso.
Planos de complicadíssima concepção? Nolan prefere uma
poesia simplista.
Efeitos especiais monumentais? Estão lá sim senhora, mas
curiosamente nunca se sobrepõe em importância aos intervenientes (como
acontece, por exemplo em Matrix ou Avatar).
E por falar em intervenientes: num frente a frente que nunca
mais voltará a acontecer, Heath Ledger e Christian Bale, provavelmente os dois
melhores actores da sua geração, imortalizam-se ao desempenharem faces opostas
da mesma moeda.
Um é um agente do caos. Outro é um símbolo de justiça
incorruptível.
Caos e ordem, luz e trevas, bem e mal. Cada um destes surge
na ausência do seu oposto: bem pode ser definido como a ausência de mal e
vice-versa. Daí que a presença de Batman tenha provocado o surgimento do Joker:
um não poderia existir sem o outro.
Este tipo de comparações só são possíveis porque o argumento
o permite: nunca revelando mais do que deve, nunca caindo no erro de expor o
seu vilão demasiadamente e tendo a ambição de ser mais do que um simples filme
de acção.
Um abraço masculino para vós irmãos Nolan: discerniram o
potencial para catarse humana que sempre existiu nestas personagens icónicas e
materializaram-no.
Se o podiam ter feito melhor? Podiam sim… O filme nunca
deixa de ser interessante, porém existem histórias secundárias em que nunca poderás
estar tão investido como na principal.
A perda de determinadas personagens acaba por ser uma nota
em falso no conjunto da trama, isto porque nunca se percebe, completamente, a
profundidade dos sentimentos de afecto que as interligam.
A maior falha do filme é mesmo a incapacidade de todas as
personagens (à excepção de Alfred, desempenhado pelo grande Michael Caine) em
exprimir sentimentos que não sejam medo, raiva, desespero e ironia. Vá lá,
admite! Tu sabes que existe romance aqui pelo meio e no entanto nunca lhe é dado
espaço no meio desta confusão toda!
Isso e o facto de nunca sabermos realmente qual é o plano do
Joker no meio disto tudo.
«Do I really
look like a guy with a plan?»
Não meu caro, não pareces. Pareces um maluco dos cornos que
anda a dormir pouco e a tomar demasiados comprimidos. A tua sorte é já seres
imortal: na história da 7ª arte e na parede do meu quarto.
E quanto à película, apesar destes contratempos, é, sem
dúvida, o supra-sumo dos filmes de acção.
Uma obra de arte no que toca a
desenvolvimento de personagens interessantes e porrada credível. Uma história
não apenas sobre super-heróis, mas sobre pessoas reais.
Pessoas reais com um segredo.
Silêncio.
Esperas uma reacção… Será que se deixou dormir?
«Obrigado por partilhares o teu segredo comigo papá! És o
meu herói!»
E é com um sorriso que Simon Says that this movie is…
Uma review bastante boa do q
ResponderEliminarFilme que se tornou num dos melhores filmes da decada passada parabens keep on