quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Derek Cianfrance vai ser esquecido?! Deixem-me rir!

Existem realizadores que aparecem e desaparecem. Existem outros que ao longo de um batalhão de anos vão-se afirmando enquanto super potências mundiais, levando legiões de fãs ao delírio pelo seu próximo filme. E também existem outros que quase ninguém liga... 

Da nova geração (nascida nos 70's) que começa a domar o "bom conteúdo" de Hollywood destacam-se (para mim) Edgar Wright (Hot Fuzz e The World's End), P.T. Anderson (The Master, There Will Be Blood), Nicolas Winding Refn (Bronson e Drive) e o óbvio Christopher Nolan (Trilogia Batman e Inception). 

(da esquerda para a direita: Quentin Tarantino, Chris Nolan, P.T. Anderson e Richard Linklater)

Sim, não são todos os que eu disse, mas o Google não tem tudo!!

Todos estes realizadores, de uma maneira ou de outra, têm sido reconhecidos pelo seu trabalho. Mas existe um gajo que anda para aí a trabalhar que quase ninguém conhece. Mesmo "supostos" amantes de cinema têm dificuldade em enunciar quais os seus filmes, quanto mais debatê-los. 

Derek Cianfrance, ao contrário dos outros realizadores da sua geração, tem uma capacidade inata para combinar sentimentalismos REAIS, bandas-sonoras que despontam emoções REAIS, acção CREDÍVEL, interpretações e histórias que parecem VIVAS! Cianfance não cria mundos paralelos onde coisas extraordinárias acontecem, ele faz algo (a meu ver) muito mais difícil: ele torna pessoas normais em personagens extraordinárias.



Ele envolve e desenvolve de tal maneira os seus protagonistas que quando a sua jornada termina já mal os reconheces. E não se tratam de cicatrizes na cara ou um corte de cabelo diferente: tratam-se de mudanças reais na maneira como essa pessoa olha para o mundo. 

E por conheceres a sua jornada, por teres estado com eles todo este tempo, tu próprio olhas de maneira diferente para o mundo. Não é afinal isso que se quer de um filme?

Ya, é fancy ter 200 milhões de dólares para gastar em cada produção, ou os talentos infinitos dos melhores atores do mundo nos quais te possas apoiar. Obviamente que estes recursos só dão bom resultado quando o realizador tem talento (o anti-exemplo do Michael Bay cai sempre bem...), no entanto é miraculoso falar de um realizador que na sua carreira INTEIRA ainda não teve acesso a mais do que 20 milhões de dólares e consegue produzir mais do que suficiente para subsistir de maneira artisticamente imaculada.

O futuro dirá se consegue manter esta veia de genialidade que poucas vezes temos o prazer de ver no cinema mainstream.

E tira duas horinhas do teu tempo e dá uma olhada a pelo menos um dos dois grandes filmes de Cianfrance: Blue Valentine e The Place Beyond the Pines. Vais ver que vale a pena. :)

A Música na 7ª Arte - Os Sapatos Vermelhos

O Espalha-Factos convida-vos, novamente, a participar na aventura da Música na 7ª Arte.

O objetivo é encontrar e debater momentos em que som e imagem se mesclam perfeitamente. Uma demanda pela magia que está dispersa em incontáveis cenas produzidas ao longo dos tempos está prestes a recomeçar!

Nas duas últimas ocasiões, as cenas tratadas eram medianamente conhecidas por parte do público contemporâneo: mas hoje, a busca será mais a fundo. Abrimos o antigo baú de memórias ancestrais e trataremos da verdadeira joia da coroa do cinema britânico. Trata-se do intemporal Os Sapatos Vermelhos de Michael Powell e Emeric Pressburger.

Realizado em 1948, o filme conta a história de um bailado, baseado na fábula homónima de Hans Christian Andersen, e nos artistas que lhe dão vida: Victoria Page (Moira Shearer), Julian Craster (Marius Goring) e Boris Lermontov (Anton Walbrook).



Embora não tenha sido um êxito tremendo de bilheteira, agitou suficientemente o mundo para arrecadar dois Oscares nas categorias de melhor direção de arte e melhor banda sonora, influenciando toda uma nova geração de realizadores.

Frequentemente citado por Martin Scorcese, Brian DePalma, entre outros, como um dos melhores filmes de todos os tempos, este clássico revolucionou a maneira como a edição, música, dança e até a cor eram utilizadas na 7ª arte.

E no cerne de toda esta magnificência está um bailado hipnótico, onde a prestidigitação milagrosa da cinematografia, representação e dança ribombam pelos quatro cantos do ecrã. 

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Critica de Teatro - Nu Palco

“O resto é silêncio…”

O público encheu a casa, e foi presenteado com magnificas interpretações e GRANDES ideias, na 2ª noite do Festival de Curtas de Teatro do Algarve. No entanto, Nu Palco e o seu “habitante” tiveram um lugar de destaque.

Eloquente sem soar presunçoso, jovial sem parecer inexperiente e com um à vontade de quem apenas se pode estar a sentir em casa, Miguel Ponte escreveu, encenou e interpretou esta pequena rábula sobre… Existem várias palavras que permitirão concluir esta última frase, no entanto a mais pertinente talvez seja “destino”.

“Destino”, nas várias acepções da palavra, permite uma avaliação mais cómoda desta peça. Permite destacar a jornada deste jovem a(u)tor, que, ao fim ao cabo, é apenas um ser humano como os que tem “na sua cabeça”.



Acabando com a “mítica” 4ª parede, o a(u)tor revelou a capacidade de tornar o banal em extraordinário e de fazer o público perceber o porquê de estar ali. Com um humor inteligente, nostalgia em doses saudáveis e metáforas apropriadamente fáceis de compreender, esta incursão sobre a mente de um amante do teatro é igualmente gratificante e instrutiva.

Omitir é feio, e tenho de confessar o pensamento que me ocorreu durante a peça: um Miguel Ponte já idoso, a mesma indumentária ao estilo Avô Cantigas, um currículo recheado de sucessos e um espectáculo de Nu Palco carregado de novas memórias.

Catártico? Sem dúvida. E “o resto é silêncio…”.

Excepto se alguém tossir.