domingo, 13 de dezembro de 2015

Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi - 1983 - Richard Marquand

E por agora termina aqui. Não vai é durar muito tempo: everything is about to change.

Este capítulo concluía a mais rentável trilogia da história do cinema. E, tal como mais tarde viria a ser comprovado com as prequelas, George Lucas já não estava a fazê-lo com o coração. Este foi o primeiro sinal de que algo estava errado: e porque faz parte da trilogia original, os fãs fecham os olhos. Well, not me.

Enquanto o Império constrói uma nova Death Star, Luke (Mark Hamill), Leia (Carrie Fisher) e companhia tentam resgatar Han (Harrison Ford) das garras do malvado Jabba the Hutt.


Return of the Jedi continua a ser muito divertido. Os aspectos mais positivos dos últimos dois capítulos continuam a existir: a multiplicidade de planetas e raças, o ecrã sempre repleto de novas surpresas e a banda sonora monumental. Mas depois há o outro lado.

De um ponto de vista técnico, este é o “episódio” mais fraco da trilogia original.

A cinematografia é, sem dúvida, a pior. Longe estão os quadros em movimento de A New Hope ou a paleta de cores e imersão que besuntam o ecrã em The Empire Strikes Back. As escolhas feitas por Alec Mills poucas vezes favorecem a narrativa e raramente criam imagens icónicas. Talvez seja também devido à fraca fotografia que o green screen é muuuuuuuito mais perceptível do que nos capítulos anteriores: e isso quebra a ilusão. E sem ilusão não há magia. Sem magia não há Star Wars.

Os dois exemplos mais exasperantes são quando Han, Luke e Chewbacca (Peter Mayhew) estão a ser transportados para o Sarlacc e na perseguição de motos em Endor. Aliás, a perseguição é a percursora da corrida de Pod Race em The Phantom Menace. Padecem dos mesmos males (não têm desenvolvimento de personagem, demoram demasiado tempo) e acontecem a pessoas da mesma família.


E por falar nisso, serei o único que acha a cena do Luke e da Leia forçada? Entendo que era preciso algo que puxasse Luke para o Mal, mas a nova informação nunca é explorada a 100%. Leia permanece inalterada pela revelação e nenhuma tensão é acumulada: excepto aquela demonstrada por Han.

Aqui entra outra das minhas queixas em relação ao filme: Harrison Ford era, por volta de 1983, uma mega estrela de Hollywood. Para além de Star Wars, ele tinha agora protagonizado Raiders of the Lost Ark (o primeiro da saga Indiana Jones) e Blade Runner. Ou seja, chega a Return of the Jedi sem pressão absolutamente nenhuma: e isto nota-se. As suas expressões, ao longo dos 131 minutos da película, chegam a roçar o nível de cartoon. E, infelizmente, não é o único cartoon presente no filme.

Muita gente aponta os Ewoks como sendo o primeiro indício de que o Lucas tinha oficialmente trocado a lógica pelos cifrões: e eu não podia concordar mais. Ainda assim, tendo em conta o seu objectivo, os Ewoks foram tratados com o mínimo de habilidade. Comparemo-los com os seus primos mais próximos: os Gungans.


Se é para criar uma raça que apele ao público feminino e aos mais jovens, acho que ursinhos pequeninos são preferíveis a peixes/coelhos gigante com voz estúpida. Mais, antes de intervirem na batalha, passamos algum tempo com os Ewoks. Conhecemos um pouco da sua cultura, vemo-los a reagir à história contada por C3-PO como se fossem crianças. A pouco e pouco ficamos investidos nos pequenotes e tememos por eles aquando da luta. Aqui funcionou: em The Phantom Menace não!

Agora, claro que não faz sentido nenhum os peluches vencerem os soldados imperiais! Paus e pedras a darem conta de soldados armados? Ainda por cima de dia? É (mais) um dos momentos em que temos de suster a respiração e lembrarmo-nos de que isto é Star Wars e é suposto divertirmo-nos.


Em criança talvez funcionasse melhor, mas com um olhar mais crítico e conhecedor é impossível não ficar de sobrancelha levantada com determinadas posturas tomadas pelos cineastas. O diálogo de exposição então é tão descarado que dói (nomeadamente com Obi-Wan, que aparece só para dar informaçõezinhas “relevantes”). Não que todo o diálogo seja mau, holy shit, claro que não!

As cenas de Luke com Vader e o Imperador (terrifico Ian McDiarmid) são um jogo de retórica, esperança, contraste, conflito e desenvolvimento de personagem do mais alto calibre. Por esta altura percebemos que nenhuma destas personagens é linear e que são muito mais complexas que as dos blockbusters actuais. Excepto o Chewbacca: esse não conta. Todo filme deste género tem que ter o seu Groot. Ou Hodor.


E lamento fãs da Yub Nub Song que cresceram com os originais: mas a versão mais recente termina com a melhor alteração de todas. A música Victory Celebration é das melhores criações da carreira de John Williams e está, possivelmente, no meu Top 5 de melhores músicas originais para filmes. Mantém o espirito tribal dos ursinhos, mas carrega uma emoção muito maior, mais propícia ao final da trilogia.



Se concordo com a inclusão de Hayden Christensen? Sinceramente, não me importo. Eu percebo o porquê, mas fazia mais sentido o original. Creio que as novas gerações que tiverem de percorrer o tortuoso caminho das prequelas irão apreciar o tie-in, mas não era necessário.

Encontro muitos paralelismos entre Return of the Jedi e Revenge of the Sith: ambos têm momentos cinematográficos excelentes, ambos contêm um conflito bem vs mal mais acutilante do que nos capítulos anteriores da trilogia que findam e, principalmente, ambos retêm o espirito do episódio que lhes precedeu.

Se isso é bom ou mau decidam vocês: eu estou só para aqui a matar tempo enquanto não chega dia 17. Estou ansioso para ver os meus amigos outra vez.


Simon Says that this movie is… 



domingo, 6 de dezembro de 2015

Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back - 1980 - Irvin Kershner

E precisamente quando os superlativos me começam a faltar chegamos ao melhor capítulo da saga. O que é que vai sair daqui? Não faço ideia… Tal como as audiências, que andaram a roer unhas durante 3 anos, não sabiam o que esperar da sequela do maior sucesso da história do cinema.

Com o aperto inflexível do Império cada vez mais perto, Luke (Mark Hamill) parte em busca de um antigo mestre Jedi, enquanto Han (Harrison Ford), Leia (Carrie Fisher) e companhia fogem de Darth Vader (corpo de David Prowse e voz de James Earl Jones).


O filme, supostamente, dura 2 horas e 4 minutos: mas, palavra de escuteiro, ao fim de tantos anos, continua a parecer que dura meia hora. A acção é frenética, o perigo é constante e as novidades são inúmeras. O realizador Irvin Kershner elevou demasiado a fasquia: e passados 35 anos (ainda) ninguém a igualou.

As personagens principais ficaram todas estabelecidas no primeiro capítulo da saga: agora é só construir sobre o que está firmemente alicerçado nas mentes e corações do público. Vader está mais maquiavélico que nunca, Solo está mais badass, Luke está mais confiante (se bem que irreflectido) e Leia está mais decidida.


Se em A New Hope os actores principais pareciam um pouco “relaxados”, em The Empire Strikes Back parecem vergados com o peso da responsabilidade acrescida. Um sentimento de tensão e gravidade percorre todo o espectro da película. Com efeito, todas as decisões se tornam mais importantes e decisivas: não há desperdício de tempo nem de movimento.

O sucesso financeiro deste filme estava garantido, por isso os seus criadores deixaram-se levar por algumas analogias menos usuais para produções de grande custo. Incorporar metáforas visuais, filosofias ancestrais e pistas para o futuro da saga foram liberdades tomadas que só aumentaram a quantidade de “sumo” que é possível extrair da obra. Se a dissecarmos até ao âmago, veremos que é a mais pura representação de bem contra mal. Os Aliados contra os Nazis. A democracia contra a opressão. Serenidade contra raiva.


Filosofias e metáforas são muy lindas, mas nada disto contaria se Kershner e companhia não te atacassem os sentidos desde o primeiro frame. Ainda que não seja completamente oficial, há quem afirme que o orçamento duplicou do primeiro para o segundo filme e, acredita, foi TUDO utilizado da melhor forma possível. Se actualmente uma sequela visse o seu orçamento duplicado era tudo utilizado para criar mais explosões e mais Transformers e mais Ultrons e mais… Bom, vocês sabem!

Neste caso foram os decors que melhoraram. Mais planetas completamente distintos, cada pedacinho do ecrã encarcerando minúsculos detalhes que acrescentam vida e autenticidade a tudo o que estamos a ver. Existem exemplos do mesmo tipo de atenção ao detalhe em determinadas produções actuais: o problema é que essa atenção não é direccionada para matéria viva, mas sim para produções artificiais em green screen. A ilusão morre no momento em que temos a certeza da verdade.


E a ilusão é a mãe do deslumbramento: o sentimento que a trilogia original de Star Wars mais exacerba. Faz-nos sentir pequeninos, inocentes e aventureiros.

Digam-me lá outro filme que tenha consolidado um fantoche no panteão dos gurus de auto-ajuda? Yoda (manobrado e ventríloquado [EU FAÇO OS NEOLOGISMOS QUE EU QUISER!] pelo lendário Frank Oz) é uma criação de puro génio. Nunca por um segundo duvidamos da sua existência porque o trabalho fantástico da equipa de Oz dota-o de uma personalidade e sentimentos muito realistas. E isso mantém a magia.


Para além de Yoda, outras personagens secundárias memoráveis como Lando Calrissian (Billy Dee Williams) e Bobba Fett (Jeremy Bulloch) são introduzidas com grande sucesso. Enquanto Lando é introduzido com alguma pompa e circunstância, Fett é O exemplo de um minimalismo que funciona e explode de proporção. Com pouquíssimas falas, sem qualquer informação sobre o seu passado, excepto aquela que podemos adivinhar através da maneira como outras personagens se lhe dirigem, o estatuto lendário que lhe é atribuído excedeu todas as expectativas dos seus criadores.


Criadores que tiveram o discernimento de não modificar muito do que fizeram na versão original. Para além de mostrarem o Yeti logo ao princípio e darem janelas à Cidade nas Nuvens, pouco mais é discernível a olho nu. Acredito que a magistral cinematografia do grande Peter Suschitzky tenha sido a razão pela qual não fizeram muitas alterações. A ambiência que cada personagem/planeta/nave exige é correspondida às mil maravilhas na mescla perfeita entre imagem e som.

Tam-tam-tam tam-tatam tam-tatam! Sim senhoras e senhores, foi neste filme que surgiu a música que todos os homens metem como toque de chamada para as suas sogras. John Williams usou e abusou de tudo o que tinha à sua disposição, acrescentando vários temas inesquecíveis à já espectacular banda sonora base que tinha composto para A New Hope. Todos os momentos, dos mais íntimos aos mais espectaculares, são pontuados pelas suas excelsas criações.

Todos os momentos… Inclusivamente AQUELE que todos se lembram. AQUELE que todos discutem. AQUELE que todos, mesmo os que nunca viram um único filme da saga, conhecem. Este é o nível a que Star Wars chegou: digam-me lá outro filme cujo plot-twist esteja tão embrenhado na cultura geral que é praticamente impossível conhecer alguém que não faça ideia dele.


A única falha que posso apontar em The Empire Strikes Back prende-se não com o filme, mas com a maneira como o Universo foi criado. O tempo e a evolução das tecnologias fazem com alguns dos efeitos especiais tenham perdido o impacto que em 1980 tiveram.
Sinceramente: devo retirar mérito ao filme por isso? Porque meia dúzia de momentos no filme já não conseguem competir com produções 35 anos mais avançadas? Não, não o vou fazer.

Vou sim dar-lhe mérito porque continua a ser relevante e fascinante. Vou dar-lhe mérito porque raros serão os filmes lançados em 2015 que 35 anos depois continuarão a ser aplaudidos pelos seus efeitos especiais e utilização ímpar de todo o orçamento que lhes foi dado. Vou-lhe dar mérito pelas gerações vindouras que continuará a fazer sonhar e acreditar.


Simon Says that this movie is…