domingo, 1 de novembro de 2015

Star Wars: Episode IV - A New Hope - 1977 - George Lucas

Ao criticar algo que marcou a nossa vida é preciso distanciarmo-nos dos sentimentos: ice cold! Independentemente do laço que tenho com alguns filmes (nomeadamente os primeiros Star Wars e, sobretudo, a trilogia Senhor dos Anéis) mantive-me objectivo. Por muita carga emocional que ponha nas críticas, não olvido as falhas que cada filme tem.

E prometo: não o farei com A New Hope.

De maneira a salvaguardar os planos que podem assegurar a sobrevivência dos Rebeldes e a queda do Império, a princesa Leia (Carrie Fisher) envia C3-PO e R2-D2 para procurarem Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness): a sua única esperança. Mal sabe ela que «uma nova esperança» estava apenas à espera do incentivo certo para surgir.

Em 10 minutos sente-se logo a diferença entre as prequelas e os originais: portas que se fecham com o peso da realidade, homens com medo estampado nas caras, a gravidade da situação expresso apenas na música e no silêncio. Vá e o C3-PO a ser medricas, as usual.



Em 10 minutos vemos efeitos especiais, acção, estabelecimento de personalidades/objectivos, comédia E O MAIS IMPORTANTE DE TUDO: a introdução a um Universo completamente diferente do nosso, mas enraizado nas mesmas regras de plausibilidade.

Digam o que disserem dos efeitos especiais, das personagens ou da história, o ponto forte da saga é a pletora de criaturas, naves, armaduras, armas, gíria, planetas e mitologia que foram criados por Lucas e companhia. Misturem isso com todos os elementos escritos na primeira linha deste parágrafo, mais a melhor banda-sonora de todos os tempos (composta pelo inigualável John Williams) e têm o recipiente para o blockbuster que deu origem à era moderna de Hollywood.

E repara Lucas: conseguiste isto com um greenscreen e efeitos especiais que 38 anos depois (repito, TRINTA E OITO ANOS DEPOIS) continuam credíveis.



No elenco temos Mark Hamill no papel de Luke Skywalker e Harrison Ford como o lendário Han Solo. Esta dupla, juntamente com a princesa Leia, Obi-Wan Kenobi, o wookie Chewbacca (Peter Mayhew) e os 2 robôs, irão defrontar um dos vilões mais ameaçadores da História da 7ª arte: Darth Vader (corpo de David Prowse e voz de James Earl Jones). Esta luta de vontades irá criar alguns dos momentos cinematográficos mais memoráveis de todos os tempos.

E porque é que nos referimos a todos eles pelos nomes das personagens e não dos actores?

Ford acabou por ser o único a tornar-se numa grande estrela de Hollywood. Ainda que este Star Wars seja um dos maiores êxitos de bilheteira de todos os tempos, os seus protagonistas não ganharam qualquer mediatismo fora da saga, como por exemplo acontece hoje em dia com praticamente todos os membros dos Avengers.

Sim, o Hamill tornou-se no Joker da Batman: Animated Serie e a Fisher fez um filme do Woody Allen. So what? Eles nasceram para encarnar ESTAS personagens. Durante 38 anos andaram a «sobreviver», ressuscitando para O Despertar da Força.



Hamill e Fisher podiam ter as suas limitações enquanto actores, mas pelo menos as suas interpretações eram mais convincentes do que as de Natalie Portman e Hayden Christensen. Em cada cena vão de A para B. Têm um objectivo, têm um propósito: tanto que quando chegamos à cena final, todos os protagonistas mudaram.

Aprende contigo Lucas! As personagens desenvolvem-se e criam laços (aos nossos olhos) porque as VEMOS a ter aventuras: não é por ouvi-las dizer que tiveram aventuras que acreditamos nisso. E quem raio é que prefere ouvir conversas sobre aventuras a realmente (vi)vê-las?

As motivações das personagens fazem sentido. Até quando mudam de opinião existe um motivo verosímil para isso acontecer (excepto daquela vez em que o Luke fica mais lixado por algo ter acontecido ao Obi-Wan do que aos próprios tios).



A tensão é autêntica! Ao contrário das prequelas, neste original sentimos o perigo na face e nas acções das personagens. Okay, os Stormtroopers não têm pontaria absolutamente nenhuma, mas isso é uma falha em quase todos os filmes de acção: sejam do 007, do Stallone ou de outro mercenário qualquer.

«Mas isto não é um filme do Stallone! É Star Wars pá!» Pois é! E por ser Star Wars é que a batalha no final do filme tem um sentido de timing milagroso no que toca a colocar a pressão no espectador: os caças imperiais têm pontaria! Percebemos o quão difícil a missão é e que apenas com a ajuda da Força os nossos amigos poderão triunfar!



O VACACO DO LUCAS SABIA FAZER ISTO DECENTEMENTE À 38 ANOS e por algum motivo desaprendeu tudo.

E MUITO pior que desaprender, foi o facto de ir mexer com os originais. Não vou andar a dissecar cada um dos pormenores que foram alterados (o Han DEFINITIVAMENTE disparou primeiro), mas apenas destacar o principal.

Todos os frames de Star Wars parecem tirados de um quadro em movimento. Quando olho para o currículo do director de fotografia, Gilbert Taylor, não me surpreende que ele tenha sido o responsável pelo Macbeth de Polanski e, sobretudo, pelo Doutor Estranho Amor de Kubrick.



Mas o Mr. Lucas, na sua eterna sabedoria, tinha que ir mexer com um trabalho excelente e espetar-lhe com montes de CGI em cima. As adições feitas na nova versão de 1997 notam-se à distância e sujam o que antes era perfeitamente credível em todos os aspectos.

A pior adição de todas é a cena com Jaba. Para além de acabar com todo o mistério envolvendo a personagem, estraga o realismo criado pelos efeitos práticos que tinham sido usados até então. É horrível e sobressai no filme como um cavalo no meio de um grupo de adeptos.



Mas como é que eu posso deixar estas merdicas sobreporem-se a tudo de bom que Star Wars conseguiu? Esta é o maior e melhor Universo criado para o grande ecrã. Não provem da literatura, nem de bandas-desenhadas.

Filmes menores têm dificuldades em estabelecer a história e as personagens na nossa realidade. Este filme não só conseguiu fazê-lo, como nos introduziu, não a um mundo, mas UMA GALÁXIA inteira povoada de seres que nunca tínhamos visto. Sem a ajuda das tecnologias mais recentes e porque tiveram um zilião de problemas na produção, cada efeito e cada frame foi feito com um amor e cuidado que transbordam pelo ecrã e nos consomem.



Já antes tinha escrito na minha crítica a The Fellowship of the Ring: «Quando um realizador e a sua equipa são verdadeiramente apaixonados pelo projecto que têm em mãos é impossível não ficar evidente no ecrã.»

E ficou. Ficou evidente que o que amavas nesta altura era a tua arte e não o dinheiro, Lucas. Tu és o verdadeiro Darth Vader da saga Star Wars. E ainda bem que nos teu últimos momentos entregas-te o projecto a pessoas que vão tratá-lo com o amor que todos nós sentimos por ele. Já estava na altura de nos apaixonarmos por Star Wars outra vez.


Simon Says that this movie is…