sexta-feira, 28 de março de 2014

A SÉRIE PARA TI - TRUE DETECTIVE

É uma mistura estranha… É como se um universo viscoso e místico deslizasse para dentro de nós cada vez que os vapores e sombras do intro de «True Detective» se corporalizam.

Os detetives Rust Cohle (Matthew McConaughey) e Martin Hart (Woddy Harrelson) vêm-se a braços com um caso doentio de assassinatos, com implicações morais, sociais e religiosas. Serpenteando ao longo de 17 anos  da sua vida, esta série de 8 episódios conta-nos uma história de perdição, redenção e corrupção.

Numa narrativa em que a lei e a ordem têm um destaque aparente, é a anarquia e o inconformismo que te assaltam os sentidos e intoxicam a mente. Tal como as chaminés industriais que se elevam no meio da paisagem verdejante…




É difícil explicar o porquê do meu fascínio particular pelo estado americano de Louisiana...
Será a musicalidade sibilada do sotaque ou o enigmático efeito que nomes como Bray Wyatt ou Reginal Ledoux têm no cérebro humano? Será o infindável (e literal) palácio esmeralda que serve de pano de fundo a esta história? Talvez a música que parece retirada de uma qualquer fábula de terror… 
Ou os cultos obscuros que, embora macabros e desumanos, estimulam pela quantidade de paradigmas que te atiram à cara sem pedir desculpa depois?


Raios parta! Eu nem escrevo assim!

Agora «comam» as pseudofilosofias hipnóticas que os escritores (por favor, não retire as próximas palavras do contexto) enfiam na boca dos atores e vão ver se não ficam a falar desta forma também. É preciso ter a cabeça no sitio para conseguir discernir as pontas de verdade e interesse por trás de toda a conversa de cosmos intemporais e dimensões rabiscadas no universo da mente humana…

Garanto-vos que 75% deste tipo de diálogo é só para vos confundir. No entanto os restantes 25%, se os captarem, progridem a história e dão-vos algo no qual pensar…

Mas se pensar não é aquilo pelo que anseiam nestes episódios, descansem porque estão servidos com tudo o que a indústria cinematográfica tem de melhor: mamas, suspense, tiroteios, mortes sangrentas, terror psicológico, soluções geniais… Já mencionei mamas?

Repara que falei em indústria «cinematográfica» e não «televisiva». Acredita meu caro amigo, esta série não tem nada a haver com as produções de pequeno ecrã a que estás habituado. Existe um pleno sentido de perfeição naturalista em cada movimento de câmara, em cada penumbra nos olhos dos atores…

Por falar em atores: digam-me a última vez em que um vencedor do Óscar de melhor Ator apareceu em séries televisivas depois de o ganhar? Tanto McConaughey como Harrelson, e mesmo Michelle Monaghan, como a mulher deste último, são intocáveis nos seus papéis. Ao terem mais tempo de ecrã do que num filme, as nuances que imprimem às suas personagens, as subtilezas dos seus tiques e o realismo conseguido mesmo com a passagem de um período de tempo tão extenso… É pura magia.


Críticos que lhe atribuem o estatuto de «sonho de qualquer hipster» e «pseudo-intelectualóide sem conteúdo» não deixam de estar corretos: porque esses mesmos críticos só terão visto, no máximo, dois episódios, estando por isso completamente fora de contexto para poderem exercer a sua função. Por outras palavras, são incompetentes e tansos.

Se tivesse que misturar alguns filmes/séries numa quiche (se não sabes do que se trata, a tua vida não tem sentido) de forma a que no fim o resultado fosse «True Detective», seria «Prisoners», com uma pitada de «Blade Runner» e um bom bocado de «Breaking Bad». Se isto não te parece bom o suficiente, deves ter o paladar estragado.

Nem quero saber se há próxima temporada ou não: o que me foi dado a experimentar nesta, só por si, é o suficiente para se manter na minha memória até ao fim dos tempos.

Mas os tempos têm fim? Ou será que só o fim é que tem tempos?


Alright, alright, alright…

sábado, 22 de março de 2014

A Música na 7ª Arte – Perfume de Mulher

Música é um elemento indissociável da 7ª arte: desde os tempos do cinema mudo, em que partituras inteiras eram compostas para serem tocadas ao vivo, até aos dias de hoje, em que certas canções têm mais destaque que o próprio filme em que estão incorporadas.

Esta associação entre as duas (e por vezes mais) formas artísticas é feita, nalguns casos, de forma ignóbil, e noutros de forma mais ou menos acertada. No entanto, quando realizador, compositor, atores e toda a equipa técnica se encontram em perfeita harmonia, por vezes, acontece magia. Acontecem aqueles flagrantes e dissimulados momentos, pelos quais os amantes de cinema “rezam”, cada vez que as luzes se apagam na sua “igreja”.

Convido-vos a participar numa demanda que visa encontrar e debater momentos destes, em que música e imagem se mesclam perfeitamente. Momentos mágicos que estão dispersos em incontáveis cenas produzidas ao longo dos tempos.



Para começar esta aventura, a proposta é um filme que raramente é mencionado: principalmente, considerando a cena em questão. Falo-vos de “Perfume de Mulher” de Martin Brest. Nomeado, em 1993, para 4 Oscares, incluindo o de melhor filme, este drama americano é recordado sobretudo por ser a causa do único galardão da Academia atribuído à lenda viva, Al Pacino.

No papel do cego Tenente-Coronel Frank Slade, Pacino é colocado sob a tutela de um jovem interpretado por Chris O’Donnell. Estando ambos em encruzilhadas distintas nas suas vidas, têm de encontrar forma de conviver e sobreviver através de uma aprendizagem mutua.

Em determinada altura do filme, Frank convida uma bonita mulher para dançar o tango num restaurante.

Lede o resto do artigo aqui.



domingo, 16 de março de 2014

Critica a Viagens de Finalistas - Rebel Village 2013

«Excessos!», dizem eles.

A verdade é que qualquer um que nunca tenha posto os pés numa viagem de finalistas, é influenciado pelo que ouve na televisão: um morto por overdose, outro por cair de um prédio.

Mas como em qualquer outra situação na vida, não há substituto para a experiência.

22:00. O autocarro chegou atrasado a Faro, mas quem já tinha esperado meses e meses, podia bem esperar mais uma hora.

A premissa desta viagem, a que chamaram «Rebel Village», era a de 5 dias em regime de bungalows, tardes na piscina ou na praia, música todo o dia e festas pela madrugada fora com alguns dos melhores DJ's portugueses.

Por um preço total a rondar os 400€, era uma proposta irrecusável.

A viagem até Barcelona foi feita em pouco mais de 9 horas: no entanto havia silêncio, quebrado apenas por uma ou outra conversa.

A ânsia de viver quase que se materializava, para quem se atrevesse a fixar os olhos dos jovens.

«Smells like Teen spirit!», gritou um desconhecido ao sair do autocarro. E com uma troca de olhares maliciosos, eu e os meus companheiros de viagem anuímos.



Estávamos a meio de Março, e em Portugal o sol não aparecia desde o fim do Verão. Mas eis que, como um velho compincha que à muito não vemos, a estrela do dia sorriu para nós assim que pusemos os pés na areia macia de Salou.

A noite cai cedo.

Por todo o campo rebelde começam a ouvir-se uivos: largos milhares de litros de álcool serão consumidos nestes 5 dias, e a festa apenas beneficia com isso.

23:00. Dirigimo-nos para a tenda da loucura.

Lá dentro estarão todos os outros rebeldes prontos a largar os vestígios de humanidade que ainda lhes restam e dançar como índios esquecidos por todos.

«Excessos!», dizem eles.

13:00. Ao acordar senti realmente que excessos tinham sido cometidos, mas que a ponta do iceberg ainda nem tinha aparecido.



E o que se seguiu foi uma mescla de encontros fulminantes, desafios irreais, confusões apaixonadas e amizades para toda a vida que são esquecidas no dia seguinte.

Mas não é isto que faz o ser humano feliz? Uma realidade onde tudo o que importa é o teu nome e a música que gostas.

O mar é de um azul bebe, a companhia sorridente e a bebida fresca. Existe realmente algo melhor?

E quando dás por ti, já é de noite outra vez. E já acordaste outra vez. E já foste às compras e jantaste.

Já conheces os vizinhos e já tens amigos em todo o lado: em menos de 48 horas desconhecidos tornaram-se na tua família.

5 dias passam como a água pelo teu corpo depois de saltares para dentro de uma piscina. E a lua desce para te fazer companhia na última noite.

A sensação é agridoce, mas sabes que esta é a derradeira oportunidade de mostrares a máscara que demoraste 5 dias a pintar.



«Um dia vais ser tu, e um homem como tu, como eu não fui.» Ornatos Violeta era a banda sonora improvável para esta altura, mas Deus escreve direito por linhas tortas. Talvez tenha um significado profundo, só que a leveza da tua alma é tanta que nem te atreves a ponderá-lo.

3:00. A realidade começa a pesar e abraçamo-nos, a agradecer uns aos outros por estes dias.

«Smells like Teen spirit!» gritou um desconhecido. E a voz de Kurt Cobain emergiu das colunas, dizendo tudo aquilo que as nossas almas queriam mas não conseguiam.

E as horas restantes voaram.

«Tenho as pernas a tremer...», conta Catarina Santos. «Tenho o corpo rebentado, o coração destroçado e a mente poluída. Se voltava a fazer o mesmo? Já amanhã!». O sentimento é geral e à medida que nos aproximamos dos autocarros o choro e, por vezes, os beijos são a maneira de transmitir as mensagens que o cérebro já não consegue processar.

A viagem chega ao fim e o paraíso fica para trás.

«Lembras-te da festa na praia no terceiro dia?» perguntou João Dias. «Dei um mortal e toda a gente aplaudiu!»

Lembro-me: lembro-me de tudo. E provavelmente todos os que lá estiveram se irão lembrar para o resto das suas vidas.

A realidade já não ajuda: o chão parece que te escapa por debaixo dos pés, e por muito que não queiras acreditar que acabou, não dá.

Os melhores dias tua vida já passaram.

Fica apenas a memória da felicidade e magia que aconteceu e mais ninguém viu.



20:00. Começa o telejornal. «Os excessos estão mais visíveis que nunca este ano nas viagens de finalistas,...»

«Excessos!» dizem eles.

Hoje posso concordar: mas porque lá estive. Eles? Eles não sabem nada.

Excessos? Sim.

Inesquecível? Sem dúvida.

Matthew McConaughey: o melhor actor da sua geração? Deixem-me rir!

Matthew McConaughey… O Google tem sempre que me ajudar a escrever o nome dele, porque nunca lá chego sozinho. Mas pelo que ando a ler na internet, talvez tenha finalmente de o aprender.

Stephen Marche, que é aparentemente um romancista, escreveu no site da «Esquire» um artigo cujo título é «MATTHEW MCCONAUGHEY MIGHT BE THE GREATEST ACTOR OF HIS GENERATION» (Matthew McConaughey talvez seja o melhor actor da sua geração). Este artigo foi publicado no dia 1 de Novembro, sendo prontamente partilhado no Facebook da revista «Rolling Stone».

A minha questão para ambas as revistas é: o que é que andaram a fumar? Urtigas do quintal da avó, com toda a certeza… Ainda que quisessem gerar controvérsia, é difícil levar a sério esta opinião com tão poucos argumentos com os quais a sustentar.

Analisemos a questão.

«Dazed and Confused» de Richard Linklater foi o filme no qual o menino de ouro se estreou: e muitos críticos afirmam que este continua a ser o melhor filme e papel que alguma vez fez. O facto é, desde 1993 até 2012, McConaughey atirou-se ao trabalho, entrando em quase meia centena de projectos: e o que é que a maior parte desses projectos tinham em comum? A capacidade mercenária de promover os abdominais do actor.





«Sahara», « Ghosts of Girlfriends Past», «Two for the Money», «Failure to Launch», «Fool’s Gold», «Surfer, Dude», «How to Lose a Guy in 10 Days»…

Para mim todos estes filmes são sinónimos de duas coisas:

1- «Muda de canal! JÁ!»;
 2- «Este gajo é um grande azeiteiro, não achas?».

Epá, se esses filmes foram construídos apenas com o intuito de apelar aos instintos mais primitivos do sexo feminino (por muito que elas o neguem) e definhar as tardes portuguesas de sábado, nesse caso o objectivo parece-me ter sido cumprido.

Não quero com isto dizer que o actor não entrou em projectos com algum valor. Lembro-me nomeadamente, de «Contact», «Amistad» e «Reign of Fire». No entanto, estas foram apenas incursões sem grande peso na conjuntura desmiolada a que alguns dão o nome de «carreira artística». Eu mudar-lhe-ia o nome para «carreira de manequim», uma vez que a artística só apareceu anos depois.

Muitos argumentariam que foi em 2011, com «Lincoln Lawyer». Desde a sua estreia no grande ecrã, Matthew não passou um ano sem fazer pelo menos um filme, e entre 2009 e 2011 tirou férias. Para uma reavaliação da sua posição no mundo e em Hollywood, talvez? Soul-searching? Yoga? Um curso intensivo com Daniel Day-Lewis? Quem sabe…



Facto: desde a sua participação em «Magic Mike», de Steven Soderbergh (que ironicamente, poderá ser o filme que mais glorifica os seus abdominais), as bocas do mundo não se calaram em relação ao relançamento da sua carreira. Seguiu-se «Mud», um bom filme, com um argumento que apelou a um lado do actor que ainda não tínhamos visto: uma paixão mais filosófica e poética do que a lua ou as estrelas poderiam conter. Depois disto entrou em «Dallas Buyers Club» e «The Wolf of Wall Street», que ainda não estrearam num cinema perto de mim, mas pelos quais aguardo ansiosamente, qual puto à espera da abertura de uma loja de doces.

E é por este sentimento, que Stephen Marche o exalta. Quem diria que as pessoas fariam fila para ver «o novo filme do Matthew McConaughey»? E todos eles, aparentemente, bons filmes! Daqueles que te tocam na alma, deixando um sentimento de salvação a percorrer-te o corpo!



Esta ressurreição é louvável a tantos níveis, que já há quem fale na cerimónia dos Oscars, onde o Texano poderá ganhar uma estatueta dourada. Até aceito essa realidade de bom grado: afinal de contas, sou apologista de reconhecer quem trabalha com paixão.

No entanto, o facto de colocarem este homem, numa categoria acima de Philip Seymour Hoffman, Nicolas Cage, Woddy Harrelson, Edward Norton, Brad Pitt, Sean Penn, Robert Downey Jr. e Jim Carrey (vai ver «Man on the Moon», «The Truman Show» e «Eternal Sunshine of the Spotless Mind» antes de abrires a boca) chega a ser insultuoso para quem se dedica a ver e debater a 7ª arte. E estou apenas a incluir actores americanos! O argumento de «ah, ele ao contrário dos outros, não faz blockbusters!» não pega, porque está neste momento a gravar «Interstellar», o próximo filme de Christopher Nolan, realizador de «Inception» e da trilogia «Batman». ~

Eu com este comentário, não estou a tentar negar a complexidade do novo «eu artístico» do McConaughey: estou apenas cauteloso em relação a apoiar esta «nova moda». Neste momento é-se hipster por gostar e glorificar do trabalho dele. Daqui a 2 ou 3 anos pode já não ser bem assim… Está nas mãos dele contrariar as palavras sábias do Stewie Griffin: e neste momento, está num bom caminho.



A SÉRIE PARA TI! – GAME OF THRONES


Por esta altura, a maior parte do grande público já conhece esta série: a não ser que tenham estado a viver numa gruta nos últimos 3 anos.

Sem dúvida até já escolheu que casa de Westeros apoia e tenta antecipar todas as jogadas politicas por vir.

Mas se por algum motivo, quer seja por falta de tempo, interesse ou habitação numa gruta, é recomendado vivamente que se lance nesta aventura sem precedentes.

Baseada na colecção de best-sellers de George R.R. Martin, Guerra de Tronos tem vindo a quebrar barreiras nos últimos anos a niveis completamente distintos no mundo dos audio-visuais televisivos.

A acção relata um período conturbado na história do continente Westeros, em que diversas casas "nobres" se degladeiam para eleger um rei que todos domine, ao mesmo tempo que os miticos seres conhecidos como "White Walkers" reaparecem na fronteira Norte, prontos a destruir o mundo conhecido...

A premissa desta série é a de um natural "bem contra mal" ou "pessoas boas contra pessoas más"... Mas é aqui, logo de inicio, que a série começa a marcar a diferença.

Tal como na vida real, aqui não estamos perante pessoas a "preto e branco", mas de tom cinza: ninguém é totalmente bom ou totalmente mau.

Exceto o Joffrey... Mas lá chegaremos.




A partir do momento em que sabemos que estamos num mundo fantasioso, mas com caracteristicas humanas e sociais bem reais, podemos começar a deixar-nos envolver por toda uma majestosa panóplia de paisagens, decorações, guarda roupa, efeitos especiais, que no todo se afiguram como níveis de produção de altissimo grau.

A série também tem vindo a proporcionar maior visibilidade a um conjunto de jovens actores, predominantemente britânicos, que só têm impressionado desde que agarraram esta oportunidade.

Maisie Williams, de apenas 15 anos, como Arya Stark; Kit Harington como Jon Snow e Emilia Clarke no papel de Daenerys Targaryen, têm sido os mais aclamados actores desta geração, que ocupa um lugar nas noites de domingo do mundo inteiro.

Por motivos diferentes destaca-se Jack Gleeson, o rapaz que desempenha o papel de Joffrey Baratheon. A sua personagem é de tal forma odiada pelos fãs da série, que este já recebeu algumas ameaças e sofreu algumas atribulações na sua vida pessoal.

Não obstante, a marca de um grande ator, é quando este consegue obter a reacção desejada do seu público: e nisso Jack Gleeson tem sido fenomenal.



No entanto, o verdadeiro grande senhor deste ecrã é sem dúvida Peter Dinklage.

Este anão tem apanhado o mundo de surpresa, com o seu papel como Tyrion Lannister. Arrogante, irónico, imensamente inteligente, de coração bom mas de raízes corrompidas, esta personagem tem cativado a imaginação do público mas também da critica, ja tendo ganho um Globo de Ouro e vários Emmys para as 2 temporadas já passadas na telvisão.

Fora do mundo audiovisual, Guerra de Tronos tem feito renascer a paixão pela leitura fantástica, algo que não acontecia desde os filmes de "O Senhor dos Anéis".

A série, que atualmente vai na 3ª temporada, tem vindo constantemente a arrecadar prémios e novos espectadores: quer pelos seus dilemas que nos fazem identificar com as personagens, quer pela capacidade de completa imersão na fantasia que afinal está bem viva dentro de nós.

Será fácil dizer que se gosta de algo porque nos dizem que é bom. Porque é aceite por todos e nos faz sentir compreendidos no mundo em que vivemos.

Mas para conseguir realmente fazer-nos sentir parte de uma História, não apenas vendo-a, mas vivendo-a, respirando-a enquanto acontece, e sentirmo-nos ligados a estas pessoas tão diferentes de nós... É um sonho imaculado e grandioso, que por uma hora nos faz cavalgar para uma casa longe da nossa, sem que nos síntamos distantes do sitio onde vivemos.

A não ser que seja numa gruta.

A SÉRIE PARA TI! – THE WALKING DEAD

No Spoilers.

Tinha 6 anos quando li o «Harry Potter e a Pedra Filosofal». Tinha 12 quando li «Eragon». Tinha 14 quando li «A Irmandade do Anel». Pode-se dizer que sempre fui fã de fantasia: daí a minha confusão quando oiço o argumento «não gosto, porque é impossível de acontecer».

Já o ouvi acerca de «The Lord of the Rings», já o ouvi acerca de «Star Wars», já o ouvi acerca de «Game of Thrones»…

Também já o ouvi acerca de «The Walking Dead».

Recentemente tenho lido muitas queixas em relação a esta série:

«Ah, e tal, tá uma ganda seca!» ou «É sempre a mesma porcaria! Só berbicachos com o raio dos zombies! As gajas a correr e gritar feitas Fanny e os gajos a armarem-se em Avengers! Vou mas é ver o Factor X!»

Epá, como podem imaginar, isto aborrece! Quer dizer, sempre é melhor do que relatos de Facebook durante um derby, mas não deixa de ser cansativo ler tantos comentários negativos sem argumentos a sustentá-los.

Meus amigos, estou aqui para vos comunicar que esses comentários estão certos.

«O quê? A sério?»

Sim, é verdade. A série da AMC está a perder o fulgor que revelou ter, principalmente na 1ª 
temporada. 



O sentimento de incerteza, de sobrevivência do mais forte, do desabrochar dos instintos mais básicos…

Era o lado animal do ser humano que estava a ser explorado, e o público adorava.

Estamos na 4ª temporada: já conhecemos os defeitos, as atitudes e os desejos. Já sabemos as armas favoritas e os cortes de cabelo. No entanto, Frank Darabont (criador da série), Robert Kirkman (criador da B.D original) e os restantes guionistas estão definitivamente atrofiados do cérebro.

Numa altura em que espectadores por todo o mundo choram o fim de «Breaking Bad», (uma série que revolucionou as produções televisivas em termos da imprevisibilidade e inteligência de escrita) os responsáveis por «The Walking Dead» deveriam ter tacto suficiente para perceber que o público se tornou mais exigente.

A maneira extenuante como cada uma das personagens é desenvolvida torna-se chata e repetitiva. 

Claro, temos de nos identificar e perceber as personagens para termos medo de as perder.

Só que eu nunca vi uma série (na qual a morte fosse «normal») com uma taxa de sobrevivência de personagens principais tão grande!

«Ei ei! Mas morrem pessoas sim, seu badalhoco!»

Certo! Mas por qual delas tinhas alguma afinidade? Qual delas não foi uma completa besta, cometendo actos inumanos para com os outros?

O público cansa-se: precisa de algo inteligente e inesperado que o faça voltar a gastar 45 minutos na semana que vem. Obviamente que não espero resoluções de génio ao estilo de «Dexter», mas alguma astúcia e originalidade na maneira como os problemas surgem seria bem-vinda.



Claro que se os ratings forem analisados nada da minha conversa importa: esta será provavelmente a temporada mais (legalmente) vista de toda a série!

Ninguém vê «The Walking Dead» à espera de chorar com a perda de uma família inteira, ou para se rir de um bebé a planear dominar o mundo: «The Walking Dead» é visto por causa dos zombies e das pessoas que os matam. E pelos 20 minutos por episódio (muitas vezes menos) que isso acontece, o público aplaude.

Já estão acostumados às personagens, querem revê-los todas as semanas e certificar-se de que estão bem: como uma reunião de família. Uma daquelas famílias chatas que só falam do que os vizinhos vestem e das doenças que por aí «andam».

A série precisa de acordar: umas quantas semanas cheias de adrenalina mais um BANG antes do final era um remédio santo! E da maneira como estes dois últimos episódios acabaram talvez haja esperança: ainda que seja algo fantasiosa.

Pode-se dizer que sempre fui fã de fantasia. Daí a minha confusão quando oiço o argumento «já não gosto de Walking Dead, porque é impossível ficar bom outra vez».


No final da temporada fazemos contas.

A SÉRIE PARA TI! – DEXTER

Nesta altura atarefada do semestre, necessitei de companhia para adormecer.

Ainda tentei «Once Upon a Time» mas os efeitos especiais e a representação foram altamente risíveis (e não num bom sentido)... Decidi dar a oportunidade que o tal serial killer arruivado à tanto tempo esperava da minha parte.

Dios mio… Já lá ia algum tempo desde que não dizia a frase «porque é que eu não vi isto mais cedo?», mas nessa noite disse-a várias vezes, ao longo dos 3 episódios que não resisti em devorar sofregamente.

O número de séries que vi até ao seu término (perpétuo ou ainda à espera da próxima temporada) podem ser contadas pelos dedos de uma mão: «Spartacus», «Death Note», «Breaking Bad», «Walking Dead», «Game of Thrones» e «Sherlock».

Bem, sendo assim metam mais um dedo! Isto não soou nada bem…

Como devem saber, isto de ver séries tem muito que se lhe diga: não é fácil cedermos largas horas da nossa vida a uma premissa que muitas vezes sentimos já estar manjada. Basta pegar no comando e pôr na FOX: quantas variações de CSI estão na grelha de programação? Eu desde cedo decidi apenas dedicar o meu tempo a determinada série, caso o seu conteúdo seja peculiarmente único.

Dexter sempre me foi apresentado de forma demasiado pretensiosa e com muitos spoilers à mistura. E toda a gente sabe o quão indigestos podem ser os efeitos de spoilers…

No entanto, a cara de um simpático bacano lambuzado em sangue, permaneceu num canto obscuro da minha mente, à espera de me agarrar e contaminar com o seu veneno.



Pois bem, estou doente, meus amigos. E sabem que mais? Até gosto.

O recheio não é a história de uma inteligente resolução de crimes, nem de relacionamentos humanos, nem de gore gratuito: é isso tudo junto, com uma cereja no topo!

Uma cereja que raramente se encontra num produto tão mainstream!

Falo da imersão completa dentro dos pensamentos únicos do protagonista. Enquanto noutra situação estaríamos dependentes da nossa capacidade de interpretação das expressões faciais do actor, neste caso, é o próprio que se torna nosso amigo, tratando-nos quase como um diário.

No entanto, não faço ideia se isto resultaria, não fosse pela «característica» mais importante de Dexter Morgan: a sua inabilidade para sentir.

Os diálogos interiores a que assistimos são geniais, infectando-nos a mente com existencialismos e dúvidas que podem ser aplicados a qualquer ser humano. É, pelo menos durante estes primeiros 12 episódios, um quebra-cabeças filosófico, embrulhadinho num papel escarlate com um lacinho a condizer.

O trabalho de realização é mais «directo ao assunto» quando comparado, por exemplo, com «Breaking Bad», onde os planos se alongavam mais no campo-contra campo e nalguns momentos mais meditativos das várias personagens. O ritmo latino da banda sonora massaja-nos a mente, preparando-nos para a «diversão» que normalmente a procede. O tom é irónico, colorido e apaziguador.



Soa estranho, não é? Então e quando paramos 2 segundos para pensar «Hey, porque raio é que eu estou a sorrir? Ele acabou de matar uma pessoa!»? Não é estranho?

Eu gosto do «estranho».


Faço questão de devorar esta série durante as próximas semanas. A ver vamos se o brilhantismo se mantém ou é submerso em incontáveis litros de sangue.

A SÉRIE PARA TI! – SHERLOCK

«Smart is the new sexy!»

E de facto a elegância, a classe, o charme e o impulso energético que a série da BBC descarrega na nossa corrente sanguínea apenas pode ser descrita como… Fascinante!

Mas não falo do tipo de fascínio que todos sentimos ao aproximarmo-nos da «Toys R’ Us» (ou Toizárâs em bom português) enquanto putos. Com «Sherlock» o fascínio roça o erotismo intelectual…

«Como?», poderás perguntar-te. Com provocações, chicotes, algemas e caricias infindáveis no teu ego… Se gostas de ficar de boca aberta e sentir-te genial com a resolução de enigmas, esta é a série que melhor satisfará o teu fetiche!

Mas deixem-me começar pelo óbvio: Benedict Cumberbatch, também conhecido por «o gajo que faz a voz do dragão (Smaug) no Hobbit». O britânico classicamente treinado em peças de Shakespeare, tornou-se numa das mais jovens promessas de Hollywood com este papel. A sua voz profunda, cara de alienígena e carisma desajeitado provocam histeria feminina cada vez que aparece numa passadeira vermelha.

No papel de Sherlock Holmes, Cumberbatch é irritantemente perspicaz, indesculpavelmente inumano e desajustadamente apático a todo e qualquer sentimento… EXCEPTO a excitação do «jogo» de gato e rato, em que todas as pistas invisíveis ao comum mortal são descobertas pelos olhos do «Deus» da dedução. Elementar, não é?

Mas, acreditem ou não, ele não é propriamente o centro de toda a intriga. A história desenrola-se mais à volta do «grande» Martin Freeman e da sua personagem, John Watson. Destroçado física e mentalmente pela guerra é como o encontramos no princípio da 1ª Temporada.



«Escreve.» diz-lhe a psicóloga. «E sobre o quê? Nada acontece na minha vida.»

E com uma complexa mistura de humor e de céu londrino nublado, John será inesperadamente colocado lado a lado com o destino. Destino esse que aprende mais sobre ele em 15 segundos do que a sua psicóloga num sem número de sessões.

A 1ª temporada é leve, dá-nos espaço para conhecer as personagens e simultaneamente entrarmos no misterioso universo do detective por consulta. É também onde ouvimos e vemos a personificação do mal pela primeira vez: o vilão «mais intimidante de todos os tempos», Moriarty.

Mas a 2ª temporada… é o clímax, o epítome, o apogeu, a gloriosa eja… Ok, acho que já perceberam. 

Quando a estiveres a ver, saboreia demoradamente… Quatro horas e meia de realização ao nível de Danny Boyle e Guy Ritchie! Desafiantes enigmas e ameaças que pairam à volta dos protagonistas tornam-na num fantástico (por favor, cante a próxima palavra) thriller sem barreiras!

Cada temporada tem apenas 3 episódios de hora e meia: ou seja, esta é a série que tu deves escolher para começar a ver a qualquer altura do dia, da semana, do mês ou do ano!

Mas procede cuidadosamente: chegando à 3ª temporada, as coisas descarrilam.

O charme despreocupado e a ambiguidade supra-humana são postas de lado, em troca de uma «buddy comedy» (comédia de amiguinhos) com muito pouca piada e substância. Foi muito pouco entusiasmante testemunhar este desenvolvimento de personagem tão repentino, descurando completamente os mistérios: aliás, chegado ao fim, as únicas questões e mistérios por resolver foram os lançados na mítica 2ª temporada.

Cumberbatch e Freeman estão, com certeza, mais ocupados que nunca, e, talvez por isso, tenham rodado as cenas num número diminuto de localizações… E isso pode ter tido uma influência nada feliz no desenvolvimento da trama.



Não obstante, a maneira inventiva como a câmara se move e a materialização dos pensamentos e raciocínios de Sherlock em pleno ecrã, são magníficos subtextos que pautam toda a série, durante os bons e maus momentos da história.

Os bons e maus momentos… Quase parecem votos de casamento.

Quando crias uma conexão com estas personagens, com a sua maneira de (não) ver «os outros», vais aperceber-te que também tu és assim: sempre à procura de uma nova aventura nos olhos de gente diferente. Ou serei só eu?

«Smart is the new sexy!»


Serás capaz de o negar? Eu não.

Crítica - The King of Comedy – 1983 – Martin Scorcese

"But I figure it this way: better to be king for a night, than schmuck for a lifetime!"

O «Buraco» não é parolo, muito menos bartolo ou simplório (embora por vezes o aparente). Também não tem a mania de que sabe mais que os outros: tem simplesmente uma mente divertida com muito para oferecer.

Ora, este clássico de Martin Scorcese reflete exatamente o nosso estilo de vos dar a conhecer o que anda por aí de bonito e inesquecível.

Sim, todos vocês provavelmente já viram Taxi Driver, Raging Bull, Goodfellas, etc... E basicamente o conhecimento da parceria DeNiro/Scorcese fica por aí. Este é o Scorcese que sempre soubeste que existia, mas nunca ousaste dizê-lo em voz alta.

Esta sátira maníaca, e por vezes doentia, de uma América a precisar de heróis, é o estado puro da mente de Scorcese: cheia de referências culturais e ataques em todas as direcções, especialmente aos media e ao "Star System" que floresce nas terras do Sol Poente.

Passado em Nova York (onde mais poderia ser?), o filme conta a história de um aspirante a comediante, Rupert Pupkin, que, obcecado pelo seu ídolo de sempre, o famoso apresentador de talk-shows, Jerry Langford, inventa esquemas e situações no minimo, chatas, para que que consiga ser convidado no seu talk-show.

Rupert, é mostrado a principio como um daqueles quarentões que vivem em casa da mãe e que nunca tiveram a coragem de fazer os seus sonhos tornarem-se realidade.



No entanto, com tudo o que vamos aprendendo sobre ele, descobrimos que tem uma alma de criança, que nenhuma das suas emoções é falsa, e que por muito que o filme mude de tom, ele não muda como pessoa: no fim, continua a ser o mesmo homem inocente que "ajuda" o seu idolo a escapar a uma multidão de fãs histéricas.

Robert DeNiro é um dos actores mais completos e corajosos que alguma vez apareceu no grande ecrã. Na pele de Pupkin, DeNiro mostra os seus dotes de... Eu diria comediante, mas não é pela capacidade de rir que DeNiro brilha, mas na sua capacidade de nos fazer acreditar neste herói que mais faz lembrar um desenho animado.

É também uma mensagem sobre como perseverança constante pode mudar a nossa vida: basta termos os "huevos" para usar a imaginação e fazer o que preciso para atingirmos os nossos sonhos.

Este filme que transborda com estilo, mas também momentos que te vão deixar incomodado pela sua realidade em relação a desejos e crenças intimas que todos temos, mas por vezes não dizemos.



Bottom line:

Por vezes, não é preciso ser talentoso, apenas persistente. Não é preciso ser rico, apenas corajoso.

E no acto final, onde supostamente o mundo inteiro se iria rir, eu não tive vontade nenhuma de o fazer. Mas suponho que vás no minimo sorrir ao perceber melhor que todo o "rebanho" daquele canal de televisão o que se passava, e como todos nós, de alguma forma, fomos ou iremos ser Rupert Pupkin.

Simon Says that this movie is a...



Crítica – The Wolverine – 2013 – James Mangold


Eu sempre gostei do Hugh Jackman. Não me lembro de um único filme onde o tenha achado mau, ou simplesmente «não fixe». Em «The Wolverine» (com uma ajuda visível de Dwayne «The Rock» Johnson no ginásio) ele está, por fim, 100% credível no papel do super-herói imortal.

 Pena não poder dizer o mesmo sobre o resto do filme.

 Logan (o nome que o Wolverine tem no B.I) salva um soldado japonês durante a explosão da bomba atómica em Nagasaki. Décadas mais tarde, no seu leito de morte, o soldado (agora multi-bilionário) quer-se despedir do seu salvador e fazer-lhe «uma proposta que ele não pode recusar». 

James Mangold (3:10 to Yuma, Walk the Line) é um realizador competente, mas sinto que o seu trabalho aqui fica um pouco aquém da sua qualidade habitual: talvez por não lidar muitas vezes com grandes produções. Não obstante, as cenas de acção estão ao nível do nome Marvel e são um dos pontos mais fortes do filme.



Tendo o Japão e a sua cultura como foco principal da história, tenho de admitir: gostaria de ver um bocadinho mais da essência (e não acredito que vou mesmo escrever isto…) de «Only God Forgives» de Nicolas Winding Refn. 

Sim, é verdade! Senti falta da presença e aura mística dos néones coloridos de Tóquio, das coreografias meticulosas de artes marciais e também da música tecno a acompanhá-las. No entanto, a ambiência conseguida é boa, nunca ultrapassando as barreiras do irreal. 

Admito que quando soube de «um filme do Wolverine passado no Japão» imaginei imediatamente cenas épicas onde o membro dos X-Men defronta ordas de samurais minuciosamente treinados com katanas e shurikens. 

As minhas espectativas foram assim goradas, dado que pouco ou nada de epicamente oriental aqui se encontra: é apenas um filme de acção ao estilo «Jason Bourne». 

As lutas são normalmente um-contra-um, onde o protagonista raramente é ultrapassado, retirando qualquer suspense que o filme possa acumular através da acção. 

E aqui entramos noutro tema: o suspense. O guião não foi escrito «desmioladamente» e pensado apenas na vertente de acção como «X-Men Origins: Wolverine». Este tem um seguimento rítmico palpável. 

Existem certas rotinas que, à partida, percebes que vão ter um desfecho: para o bem ou para o mal. Vemos os demónios do passado de Logan a atacarem-no, a deixarem-no vulnerável aos seus inimigos. Na tentativa de humanização do protagonista e na criação de um final «climático», creio que o objectivo foi cumprido. 

No entanto, nunca consegue surpreender. 

Os principais vilões são rebuscados e sem carisma. Outras personagens secundárias nunca dão a perceber as suas motivações, e quando morrem poderás pensar algo do género: 

-Que triste! Olhe, desculpe lá eu não lhe ter dado muita importância, mas tenho alguma pena que faleça! 

Só que o filme não te dá motivos para te preocupares! E muitas vezes dá-nos fracas desculpas para não avançar a história, matando assim o suspense. 

As decisões são adiadas, envolvem-se em círculos que supostamente te imergem na história, mas acabam por ser aborrecidos.



Actualmente é praticamente impossível pensar em filmes de super-heróis sem ter como referência «The Dark Knight» , «X-Men: First Class», «Kick-Ass» e outros que tais. O que têm estes filmes em comum? Alma, humor e acção. 

«The Wolverine», embora tenha todos estes elementos, não encontra o equilibro certo para se tornar num filme inesquecível e um blockbuster de Verão essencial. Com um elenco satisfatório, mas que (mais uma vez) nunca surpreende, acaba por deixar todo o «trabalho» para o ator australiano, que desempenha vivamente o «homem das unhas por cortar». 

Com boas cenas de acção, uma história mais prudente do que ambiciosa e um final (após os créditos) mais intrigante que grande parte do filme, Simon Says that this movie is...


Crítica - Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl – 2003 – Gore Verbinski

As últimas palavras de Errol Flynn foram «I’ve had a hell of a lot of fun and I’ve enjoyed every minute of it.» (Diverti-me à brava e disfrutei cada minuto.).

Bolas, não é isso que queremos cada vez que as luzes se apagam e o ecrã se ilumina para nós?

Na verdade, não faço ideia quem terá as maiores bolas: se Johnny Depp, por ter arriscado a carreira numa performance que podia rotulá-lo de idiota esquistóide para todo o sempre (e na realidade, não o fez na mesma?), ou se Jerry Bruckheimer, por insistir em produzir um filme num género considerado «morto e enterrado».

Quer dizer, quem viu a monumental derrocada conhecida por «Cutthroat Island», protagonizado por Geena Davis em 1995, sabe o porquê da convenção «hollywoodesca» de não se tocar em filmes de amantes de papagaios e rum.

«Ficamos com as memórias dos piratas dos anos 30!» Pensaram eles. «É melhor fazer filmes sobre loiras em apuros e famílias inteiras a fazer caretas e a cair na lama!»

Pensar é uma coisa, mas as boas ideias estão destinadas a vir ao de cima: tal como o «protagonista», Will Turner que flutuou até junto de um navio Inglês, proveniente dos destroços feitos por piratas. Elizabeth, a rapariga que o avista, cria nos instantes iniciais do filme um laço afectivo, que (mas que surpresa) servirá de mote para o resto do enredo.

Anos mais tarde, o tímido Turner (Orlando Bloom, lembrando o já mencionado Errol Flynn) ajuda na defesa da sua cidade durante um ataque pirata, no qual Elizabeth (Keira Knightley) é raptada. Aventurar-se-á então pelos mares das Caraíbas, numa demanda para salvar a sua donzela em apuros.



Não que ela precise, dado que o seu raptor é apenas o infame capitão do «Black Pearl», Hector Barbossa (o sublime Geoffrey Rush), um homem com dentes tão magnificamente amarelos que envergonharia qualquer patinho de borracha. Ah, e já referi o facto de ele e a sua tripulação serem esqueletos imortais que procuram reviver-se através do sacrifício de Elizabeth?

Espera lá: se são imortais, porquê toda a esgrima e bolas de canhão? Bem, para os tentar repelir penso eu…

No entanto, bolas à parte, eu nunca teria começado a escrever esta crítica, ou tu terias ouvido falar sobre este filme não fosse por Depp e a sua magnífica criação: Jack Sparrow.

Oh, que idiotice minha: CAPITÃO Jack Sparrow!

Provavelmente, a mais importante personagem de cinema criada na última década, este pirata «afectado» e cheio de tiques influenciou toda uma nova geração de atores e «entertainers», criando uma das referências mais estilizadas e reconhecíveis da História.

Este antigo capitão do «Black Pearl» ajudará Will na sua demanda, levantando-lhe, pelo caminho, o véu sobre o seu passado: um passado que irá mudar a vida (?) de todos os envolvidos para sempre.

Gore Verbinski (The Ring, Rango) realizador de toda a trilogia original de «Pirates of the Caribbean», consegue um produto final genuinamente gratificante para qualquer entusiasta de filmes de aventura: a acção é bem conduzida, nunca demasiado confusa, mesclando-se bem com os elementos de comédia do filme. Estes pretendem sobretudo comentar e gozar com o género (desde talheres a serem disparados de canhões, esqueletos vestidos de mulher à bulha e «one-liners» por parte de Rush, que mais fazem lembrar o tio Schwarzenegger), exalando classe e naturalidade.

Classe e naturalidade… Sim, essas parecem ser as palavras que melhor se encaixam na descrição do filme. Sim, tem alguns clichés, «plot-holes» e a personagem do Comodoro James Norrigton revela-se tão chata para nós como para o resto das personagens do filme.

Não obstante, estas tempestades não alteram a rota: a diversão está garantidíssima para toda a família. 

As implicações humanas são o habitual neste tipo de aventuras: a rapariga tenta libertar-se dos grilhões impostos pelo seu estatuto social, o herói tenta descobrir de onde veio e para onde vai e o anti-herói… 

Bem, o anti-herói vai-se dando a conhecer através de actos cada vez mais desonestos: tentando assim tornar-se «honesto».

Faz algum sentido? Na cabeça do Jack sim…



Aproveitando a deixa da trilogia «The Lord of the Rings», os temas de liberdade e luta contra um mal sobrenatural estão evidentes ao longo de toda a narrativa: mas no fim de contas, é a viagem de autodescoberta e gratificação pessoal (que todos passamos na puberdade, mas nem todos ultrapassamos, como Sparrow) que está no cerne de toda a viagem à volta daquelas ilhotas cheias de nevoeiro e palmeiras.

Este é o «Indiana Jones» da minha geração. Este é o filme que estavas à procura para sorrir e passar um bom bocado: sem compromissos nem reviravoltas inesperadas.

It’s a hell of a lot of fun! Enjoy every minute of it!


E por isso meu caro/a, Simon Says that this movie is a...



Crítica – Prisoners – 2013 – Denis Villeneuve

Numa das melhores cenas do filme, dá-se um acontecimento tremendamente horrível e inesperado. O meu queixo caiu e exclamei em voz alta: «Fuck…». Qual não é o meu espanto quando meio segundo depois a personagem de Jack Gyllenhaal, exactamente com o mesmo tipo de expressão que eu, exclama em voz alta: «Fuck…».

Esse é o nível de realismo sentimental que «Prisoners» cria: nós somos e sentimo-nos como as personagens.

No dia de Acção de Graças, as filhas mais novas de dois casais desaparecem. Um jovem detective (Gyllenhaal) é encarregue do caso. Se isto vos soa a um episódio de CSI têm toda a razão: mas isso seria o mesmo que comparar «Avatar» a um episódio dos «Smurfs».

O título original não se refere apenas às crianças: todos os envolvidos nesta situação são prisioneiros.

Uns espiritual, outros moralmente.

O pai de uma das crianças (Hugh Jackman) procura-as incessantemente, ignorando o trabalho e esforços da polícia. Imensamente religioso, crê na divisa «Reza pelo melhor, prepara-te para o pior», segundo a qual fora educado. Esta frase sugere a questão que nos assombra todo o filme:

Onde está a barreira que divide o bem do mal? A busca por uma resposta tortura-nos, murro atrás de murro na nossa consciência, deixando-nos embebidos no nosso próprio sangue.

«Les Misérables» foi o filme que levou Jackman pela primeira vez aos Óscares: mas «Prisoners» é o filme que o consagra como um dos grandes actores da sua geração, ecoando Sean Penn e Al Pacino na sua performance comovente e furiosa.

Desde cedo que o principal suspeito, um Paul Dano mentalmente distorcido e arrepiante, é solto por falta de provas. E com ele, é também solta uma raiva apocalíptica dentro do pai da raptada, que acabará por dilacerar qualquer vestígio de sanidade que lhe restasse.

E pobrezinho do Dano: parece que não consegue passar um filme sem levar um enxerto de porrada.



O realizador canadiano, Denis Villeneuve (Incendies), não cai no erro de tornar o seu projecto num filme de acção ao estilo de «Taken». As ambiguidades e metáforas que suportam a estrutura da história principal (os labirintos, as cobras, o álcool e as tatuagens de Gyllenhaal) tomam conta da nossa imaginação, criando uma espécie de ritual religioso, onde «adoramos» os «heróis» que buscam nelas a verdade.

O Inverno filmado pelo director de fotografia Roger Deakins (Skyfall, No Country for Old Men) acentua ainda mais o frio e vazio que sentimos por dentro, dando uma matriz épica a esta história tão pessoal.

Mas apesar de todas as tretas técnicas que eu possa debitar, o que te agarra e prende ao ecrã é a tensão. A constante sensação que as miúdas podem ser encontradas a qualquer instante, ou que qualquer um dos pais (Terrence Howard, Viola Davis e Maria Bello, todos magníficos) pode entrar em queda livre, é massacrante para nós, público.

Somos impotentes, restando-nos persistir e rezar com a ténue esperança de uma solução divina:

«Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido…»

Gyllenhaal, para mim, trás uma outra dimensão ao filme. Contrastando com a personagem impulsiva de Jackman, o detective emana uma fúria enclausurada por burocracias e racionalidade, que o fazem ultrapassar o limite emocional humano. Longe do seu cowboy homossexual de «Brokeback Mountain», este é um actor que não se prende a rótulos, enchendo o seu currículo com clássico atrás de clássico em géneros completamente distintos.

«Prisoners» é um filme de mistério como à muito tempo não via: uma mistura entre «Mystic River» de Clint Eastwood, «Se7en» de David Fincher e «Winter’s Bone» de Debra Granik.



Avé a todos os intervenientes, porque não tiveram medo de nos mostrar a sua paixão pela arte do cinema e pelo espirito humano: e quem ganha com tudo isto somos nós. Não fosse pela sua premissa já «mastigada» demais pela televisão americana, estaria aqui a descrever um marco histórico da 7ª arte.

Não obstante, fica aqui aconselhado para (por favor cante a próxima palavra) thriller do vosso fim-de-semana, por toda a envolvência e mensagem humanista que apresenta. Meus amigos, Simon Says that this movie is a...




segunda-feira, 10 de março de 2014

Crítica – Flight – 2012 – Robert Zemeckis

Algo me diz que «Flight» não será lembrado por muito tempo.

Não é que o filme não seja bom: é MUITO bom até. Mas enquanto o tema da auto-aceitação e redenção é particularmente comovente, o mesmo já não pode ser dito do «embrulho» em que é entregue.

Por exemplo, «American History X» e «The Wrestler», de uma forma ou doutra são filmes que tratam do mesmo assunto: os vícios apaixonantes que corrompem o espirito humano e o deixam apodrecido na berma da estrada. «Flight» é parecido com ambos em vários aspectos (grande performance central, personagens secundárias coloridamente desenvolvidas, detalhes de realização impecáveis…), menos na maneira como nos faz sentir «encaixados» com a personagem principal e as suas decisões: é complicado simpatizar com um bandalho.



Whip Whitaker (Denzel Washington) está brutalmente bêbado, drogado e vai pilotar um avião cheio de passageiros. Quase chegando ao destino, uma avaria ocorre, levando Whip a seguir os seus instintos (completamente «cocaínados») e a tentar uma manobra inédita no mundo da aviação. A maior parte dos passageiros sobrevive e o piloto é aclamado como herói nacional: isto até surgirem análises ao sangue feitas logo após o acidente...

E adivinha: os pilantras da inspecção não querem saber se pilotas aviões com colesterol alto! Já ninguém zela pelo bem-estar das pessoas hoje em dia…

Robert Zemeckis (Back to the Future, Forrest Gump) regressa às películas «de carne e osso» depois de 12 anos a «brincar» com imagens animadas (Beowulf e Polar Express são exemplos).

Bem, parece que «quem sabe, não esquece» e «Flight» é mais um marco na carreira de um realizador que continua a amadurecer. É um retrato humano poderoso, construído com consciência e «evocando» a reação desejada do público: no entanto não poderia estar mais longe da sensação de alegria de viver exaltada em «Forrest Gump».

A felicidade aqui surge apenas de forma artificial.

O voo (peça fulcral do filme e um exemplo de execução cinematográfica perfeita, combinando desenvolvimento de personagem, efeitos especiais de cortar a respiração, representação de topo, realização e cinematografia prodigiosos, diálogo inspirado,…) mimica a espiral descendente e ascendente das duas personagens principais.

Washington é fantástico, oferecendo-nos acesso livre à alma deste homem torturado pelas próprias escolhas.

«Eu tenho uma ex-mulher e um filho com quem nunca falo! E sabes porquê? Porque eu escolho beber!»

E controla-se: o seu controlo é tão evidente que Zemeckis afasta a câmara, aumentando o suspense e a tensão. Existe um momento claro no filme em que a implosão ocorre de uma maneira tão absolutamente brutal que chega a tornar-se comédia negra.

Se esse registo se mantivesse estaria a olhar para «Flight» de maneira diferente. Mas o final é mais humano do que alguma vez poderia ter esperado. Ou então não: afinal de contas este ainda é um filme do gajo que pôs o Marty McFly a salvar o pai do Biff, não é?



O meu problema com o filme, é que não nos afeiçoa de maneira nenhuma ao protagonista: ele é pura escumalha e orgulha-se disso! Como é que é suposto rejubilarmos quando ele faz algo de bem, ou sentirmos pena quando faz algo de péssimo?

Mais: as personagens da drogada e do filho parecem estereótipos dos grupos sociais a que pertencem… 

Para mim, simplesmente não funcionaram.

E falando nela, Kelly Reilly é-nos mostrada a ter uma overdose ao mesmo tempo que o avião se despenha… Não seria mais interessante que esta conexão se continuasse a verificar ao longo da história?

São estas pontas soltas que ficam pouco esclarecidas e baixam a magnificência que nos é apresentada.


Contando com John Goodman (hilariantemente instável), Don Cheadle (inteligente e infatigável) e uma banda sonora que nos leva gloriosamente de volta aos anos 70, sem dúvida que Simon Says that this movie is …



Crítica – Phone Booth – 2002 – Joel Schumacher

Stu, um relações públicas de «gente famosa», vai a uma cabine telefónica ligar à mulher que está a tentar engatar para ser sua amante. Termina a chamada.

O telefone toca.

«Desliga-o e morres.», diz «A Voz» do outro lado.

Era tão giro se «A Voz» da Casa dos Segredos fizesse algo do género…

 Collin Ferrel, no papel de Stu, é genuíno: nem por um segundo duvidamos da existência deste homem no nosso mundo. Nasceu no Bronx, cresceu, fez pela vida e hoje tem contactos suficientes para andar a passear pela rua vestindo fatos italianos e cobrando favores.

 Nesta altura, o ator irlandês era um dos talentos mais promissores e requisitados de Hollywood, e este (por favor, canta a próxima palavra) thriller que saiu (adiado devido a incidente similares aos do filme) no pós 11 de Setembro, veio revalidar o seu carisma e star-power: da mesma maneira que «Lethal Weapon» o fez para Mel Gibson na década de 80.

  O lugar do espectador é ao lado d’ «A Voz» que ouvimos não distorcida através de um telefone, mas nítida, como se estivesse perto. Juntos, julgamos Stu. Vemos os seus movimentos e de tudo o que o rodeia.



Além de nos colocar no papel de juízes, o realizador, Joel Schumacher (The Phantom of the Opera, Batman & Robin), dá-nos também o privilégio de observarmos em tempo real o que se passa nos «bastidores» da trama através de uma montagem bem conseguida de vários eventos que decorrem em simultâneo no ecrã.

 Embora 70 dos 80 minutos do filme sejam passados no mesmo quilómetro quadrado, a câmara está em constante movimento, aparecendo nos ângulos mais improváveis e nunca aborrecendo de todo. Isto, conjugado com a energia de Ferrel, uma performance segura do grande Forest Whitaker e uma moral desconcertante (se bem que muitas vezes ambígua) tornam «Phone Booth» uma experiência agradável.

 «A Voz» é um conceito que está integrado no nosso dia-a-dia: vê tudo, sabe tudo e condena impiedosamente, dando uma parca margem de manobra. Ou simplesmente nomeando para o próximo domingo.

 O guião foi escrito 20 anos antes do filme ter sido feito: talvez nessa altura tivesse sido mais vanguardista, mas hoje cai em desuso. «Die Hard With a Vegeance» é um melhor exemplo contemporâneo da utilização dada a este conceito.

A falha mais gritante na história será mesmo o porquê de Stu ser o escolhido deste vigilante: não haveria ninguém pior? Afinal de contas, muitos dos «pecados» deste são quase banais em comparação com a escória que muito possivelmente ocupa o resto das ruas de Manhattan.

«Phone Booth» não é o tipo de filme que se sinta a necessidade de regressar para compreender. O seu objectivo é criar suspense, elevar Ferrel e deixar alguns aspectos técnicos interessantes (o prólogo é especialmente delicioso): nada mais.

A banda-sonora não é memorável, o diálogo tem bons momentos mas acaba por se arrastar, assim como o último terço da história, onde o clímax é quase atingido, apenas para ser interrompido bruscamente…

 E todos sabemos o quão chato isso é.



 Deus estará no céu, certo? Num sítio alto de onde possa todos observar… De uma janela, talvez? E considera-se que a meio caminho entre o céu e o inferno existe um «purgatório»: uma «caixa», onde os nossos erros são julgados, e, se tivermos força de vontade suficiente, perdoados.

Descrevi o filme, ou estarei errado?


Enfim, sem fazer um grande «estrondo» e de conteúdo fixe, mas tremido, Simon Says that this movie is…



Crítica – Elysium – 2013 – Neil Blomkamp

Se existe um realizador no nosso planeta, que consegue fazer-me acreditar em cada frame de efeitos especiais que salta à vista no ecrã, esse realizador é certamente Neil Blomkamp. «Elysium» herda de «District 9» (o grande filme de estreia do sul-africano) o aspecto realista e, sobretudo, pós apocalíptico da Terra. Em cada um deles, a ficção científica é humanizada e aplicada a problemas actuais: facto que tem obrigatoriamente de ser louvado. Não se encontram muitos blockbusters desta dimensão, com algumas caras conhecidas de Hollywood, a despachar tão abertamente uma mensagem politico-humanista.

Mas a maneira como o faz é a maior parvoíce de todo o filme: ainda maior que a actuação de Alice Braga.

Mas já lá chegamos.

Max (Matt Damon carequinha e com mania que é o Dr. Octopus) vive no ano de 2154, onde a Terra está devastada devido à sobrepopulação. Os mais ricos vivem numa estação espacial a que chamam «Elysium», onde todos têm piscina e máquinas altamente, capazes de curar qualquer dor de intestino e apagar qualquer ruga. Ou seja, tornam-te imortal. Max tem como objectivo de vida juntar dinheiro suficiente para lá poder viver: só que o «destino» tem outros planos.


Esta é a primeira vez que o vou admitir, e provavelmente irei escrevê-lo mais vezes por isso habitua-te: eu não gosto nada do Matt Damon. Quando eu digo nada, quero dizer MESMO NADA! À parte de «Good Will Hunting», eu absolutamente abomino a maior parte do trabalho deste actor. Vejo-o sempre com o mesmo tipo de representação, nunca me fazendo abstrair do facto de «eu estou a ver o Matt Damon». E este filme não é diferente. Não é que ele não saiba mostrar emoção: ele sabe, mas apenas as suas, não da personagem.

A salvação surge sobre a forma de um grande elenco secundário. Falo especialmente de Sharlto Copley e Wagner Moura (o capitão Nascimento de «Tropa de Elite»), ambos completamente lunáticos de formas diferentes. Copley é um psicopata carente, com propensão para one-liners com muito queijo, enquanto Moura é mais um Che Guevara futurista, conseguindo (por favor, não ponha a próxima palavra fora de contexto) penetrar facilmente no sistema informático mais poderoso do mundo com um simples portátil. Jodie Foster, que pretende impor uma ditadura militar em Elysium, pareceu-me relaxada e a divertir-se cada vez que tinha de dizer mais de duas frases.

E tu Alice Braga: tu que supostamente até és boa actriz. Tu que andas para aí em terras americanas a fazer filmes parvos (estou a falar convosco «I am Legend» e «Predators»)! Submeteste-te à máquina de Hollywood, tornando-te no cliché da bonequinha que chora e sofre o filme de todo. Mas que totó te tornaste!

Blomkamp é, como já disse, o realizador no activo que melhor consegue imprimir realismo aos efeitos especiais. Nem por um segundo duvidei da existência de todas as naves espaciais e dos robôs cheios de rabiscos e grafitis. Só que, no que toca ao departamento das cenas de acção, creio que ficou muito a leste do que seria esperado num filme desta natureza. Os slow-motions são divertidos, mas quando se quer imprimir realidade, simplesmente não se pode imitar o «Matrix». E mesmo o «corta e cola» das lutas torna-se num problema apressado, confuso e demasiado abrangente (excepção feita aos momentos em que a câmara fica por cima do ombro do actor, num estilo documental, a lembrar «Dr. Strangelove» de Stanley Kubrick).

Aliás, a raiz de todos os problemas deste filme (excepto a Alice Braga) é a pressa.

Desde o início que é palpável a urgência em estabelecer tudo: a rebeldia de Max, a sua relação com a amiga de infância, o cliché «Tu nasceste para fazer algo especial!»… E a partir daí, o dominó desmoronou-se, levando a que um filme, com uma premissa tão interessante, que tinha todos os ingredientes para desenvolver as suas personagens e conflitos de maneira estimulante, se torna-se num «esquecível» blockbuster com uma mensagem socialista.

Uma mensagem que se estampa na tua cara durante o clímax do filme. Péssima escolha de palavras, eu sei…



O público carece de comentário social nos seus queridos blockbusters de Verão; e embora a alegoria final a Jesus Cristo possa derreter alguns corações, ironicamente, esta quase que torna o filme em propaganda politica. A mensagem é positiva e deve ser debatida com respeito e sem pressas para chegar ao próximo tiroteio.

«Elysium» tinha um grande potencial, e consegue atingi-lo algumas (poucas) vezes, mantendo o nível de interesse e de entretenimento durante a sua hora e meia de duração.

E por isso Simon Says that this movie is…





Crítica – The Avengers – 2012 – Joss Whedon

É Natal meus caros compinchas! Altura em que as fantasias têm propensão para tornar-se realidade! 

Está um frio do caraças, há comida por todo o lado, prendas debaixo da árvore e bons filmes na televisão! Fantasias a serem realizadas, tal como eu disse…

Amanhã, para acompanhar a chegada do «Sandy Claws», a SIC decidiu agir contra o domínio do «maléfico» 4º canal, agraciando-nos com dois dos melhores blockbusters dos últimos anos. Refiro-me a «Alice in Wonderland» de Tim Burton e «The Avengers» de Joss Whedon. Para nos prepararmos condignamente, irei começar por falar do denominado «nerd-gasm» que rasgou qualquer competição na corrida às bilheteiras o ano passado.

Durante 4 longos anos, a Marvel foi «piscando o olho» aos espectadores. Através de pequenas cenas pós-créditos em todos os filmes que envolvessem os seus super-heróis, o sonho molhado de qualquer fã de BD começou a ser revelado. No entanto a preocupação instalou-se por todo o lado: conseguiriam os estúdios articular todas estas personagens míticas no mesmo ecrã? A potencialidade para um dos maiores flops da história estava a ser prevista, até que o nome do realizador foi anunciado.

Joss Whedon é um nerd.

E como qualquer nerd e fã de BD, consegue de olhos fechados enunciar as capacidades, personalidades e «background» de cada uma dos heróis da Marvel. Ah, e já mencionei o facto de ele ser um dos realizadores e escritores mais originais e competentes de Hollywood? Apesar de nunca ter visto «Firefly» e não ter sido um espectador assíduo de «Buffy», apreciei «Serenity» e «Cabin in the Woods», tentando perceber através deles a qualidade que poderia obter com «The Avengers».

Pequena diferença: este último teve 6 vezes mais orçamento que os seus primeiros projectos cinematográficos. Combinando a expectativa dos fãs, mais os egos das estrelas e dos estúdios que teria de gerenciar para conseguir levar o filme a bom porto, só podemos especular a quantidade ridiculamente elevada de pressão que Whedon estava a sentir.



Essa pressão acabou no dia em que as primeiras salas de cinema se abriram para que o público pudesse testemunhar história a ser feita. Se «Batman Begins» trouxe realismo ao que antes eram apenas histórias de quadradinhos, «The Avengers» trouxe as histórias de quadradinhos ao grande ecrã. E não apenas com efeitos-especiais, explosões e one-liners da treta. Michael Bay acabou com a reputação de uma das melhores franchises de sempre, «Transformers», com esses mesmos ingredientes.

Neste filme, se conheceres um bocadinho da obra de Stan Lee (criador de grande parte das personagens da Marvel, também conhecido por «o velhote que aparece em todos os filmes de super-heróis»), saberás que estás a ver uma perfeita montagem de todas as pecinhas de um puzzle há muito delineado.

O vilão de «Thor», envolve-se com os mistérios de «Captain America» (ou seja, o cubo mágico com poderes misticos) e com as possibilidades abertas em «Iron Man», tudo fazendo sentido de uma maneira que te deixa agradavelmente surpreendido! Quer isto dizer que o guião é esquisitamente escrito, colocando cada um dos poderosos Vingadores no seu lugar e dando-lhes tempo para se desenvolverem enquanto personagens.

Seria fácil errar nesse parâmetro, distribuindo desproporcionalmente a importância de cada um dos elementos desta equipa. Mais uma vez, crédito ao realizador/escritor: cada herói/vilão tem a oportunidade de se impor, tendo sempre presente a sua personalidade. Qual é o efeito que este desenvolvimento tão personalizado e cuidado tem? Quando a acção estala, e aliens começam a ser rebentados, nós, enquanto público, realmente importamo-nos e compreendemos o porquê de cada um dos nossos «amigos» fazer o que está a fazer.

Loki (Tom Hiddlestone no papel do vilão que maior deleite nos trás, desde o Joker de Heath Ledger) domina as mentes de Hawkeye (Jeremy Renner) e do Dr. Selvig (Stellan Skarsgard), preparando-se para convocar à Terra um exército de aliens com o auxílio do tal cubo místico. A missão? É o costume: domínio planetário! Cabe ao Capitão América, ao Hulk, ao Thor, ao Homem-de-Ferro, à Viúva Negra e restantes membros dos S.H.I.E.L.D pará-lo e salvar o mundo!




Cada uma das actuações são 100% apropriadas às personagens, sendo de destacar Mark Ruffalo no papel de Hulk/Bruce Banner e um senhor chamado Robert Downey Jr., que ninguém deve conhecer, mas é um auto-proclamado filantropista, génio, playboy e milionário… Ou será que é a personagem dele?

Bem, palavras para quê? Eu recomendo «The Avengers» a qualquer fã de entretenimento puro. Tem as suas falhas, obviamente: o facto de todos conseguirem comunicar magicamente, a falta de lógica nalgumas acções (nomeadamente pela parte de Thor) e a parvoíce de o «herói sobreviver no último segundo». E sim, o «todos têm de ter algo para fazer» torna-se repetitivo, mas apenas para quem quiser visionar o filme mais exaustivamente.

Não é o «The Master» ou «2001: A Space Odissey», em que cada frame, cada palavra pode ter um significado escondido. É sim o melhor entretenimento que o «sistema» nos pode oferecer nos dias de hoje, apelando a todos e a qualquer um. Não o percas amanhã ou em qualquer outro dia.


Simon Says that this movie is...