Tenho ideia de estar a ver The Empire Strikes Back no quarto
dos meus pais. Era na SIC, num fim-de-semana à tarde. Parece mentira, não é?
Talvez esta seja a primeira memória que tenho de ver um filme.
Lembro-me da banda-sonora ser inspiradora e de ficar
fascinado pela aventura repleta de “magia”. Lembro-me que “Star Wars” era a
minha resposta sempre que me perguntavam em miúdo qual o meu filme “de pessoas”
preferido.
Star Wars era, por default, o melhor filme alguma vez feito.
Episode I: The Phantom Menace, realizado pelo criador da
trilogia original, saiu quando eu tinha 5 anos. E durante muito tempo apreciei
a cassete com uma ternura que não nutria por mais nenhuma: afinal de contas era
Star Wars! Tinha montes de autocolantes com as personagens e uma cabeça do C3-PO que gravava o que nós dizíamos e depois repetia. How cool was that?!
Mas havia qualquer coisa que me punha a franzir o sobrolho…
Certas partes do filme deixavam-me um bocado aborrecido, outras faziam-me
pensar coisas ilógicas e ainda outras que, já em miúdo, eu achava
inconsequentes.
Claro que a minha maneira de o expressar era: “O que é que
este gungan está a fazer mamã?” E os meus pais encolhiam os ombros… E realmente
não havia outra maneira de o explicar: em Phantom Menace VÁRIAS coisas acontecem
porque sim.
Mas já lá vamos.
Quando uns E.T’s que mal mexem a boca invadem um planeta pacífico,
está nas mãos da sua rainha e de dois Jedis avisar a República. O que ninguém
sabe é que os ET’s estão a trabalhar para Lord Sidious, que planeia dominar a
galáxia através de tratados e outras cenas maléficas. Entretanto há um puto que
tem de ganhar uma corrida e… Bem é complicado.
Essa é a primeira treta em relação a Phantom Menace: um
filme claramente apontado a crianças (se não o fosse o Jar-Jar não existia) tem
uma premissa aborrecida p’ra caraças, apoiando-se em conversa fiada sobre
burocracias e midi-chlorians. E em CGI.
O Lucas sabia perfeitamente (ou pelo menos aparentava saber)
quando fez o filme original que uma história maioritariamente guiada por
diálogo, sem acção a acompanhar é uma SECA COLOSSAL! Guess what: The Phantom
Menace, sejas adulto ou (PRINCIPALMENTE) criança, é uma SECA COLOSSAL!
Quanto tempo do filme é passado com pessoas a falar sem que
nada realmente aconteça? Dei por mim a tomar atenção ao diálogo, só para
perceber quantas cenas podiam ter sido cortadas. Guess how many? Bués!
E o diálogo, quando acontece, nem sequer é interessante. Ou
são tretas pseudopolíticas ou humor de sanitário.
“You were
right about one thing master. The negotiations were short!” WTF?! Nem
com 5 anos eu me ria disto!
Muito menos do Jar-Jar! A verdade é esta: a personagem tem a
sua utilidade na história, mas era preciso fazê-la irritante, incoerente e
imensamente estúpida? O gungan é a personificação do que o Lucas acha que “tem
piada para os miúdos”. Guess what: NÃO TEM!
O que tem piada, para miúdos e graúdos, é o que me prendeu
há quase duas décadas atrás: a música, a magia, as batalhas de sabres de luz,
as personagens fixes!
E não é que, no meio do caos, todos estes
elementos ainda existem?
John Williams, talvez o melhor compositor musical da
história do cinema, transporta o público para uma galáxia muito distante: com
novos acordes, uma nova aventura, mas o mesmo sentimento. Atrás de cada nota
existe uma história a nascer: e toda a banda-sonora faz-nos percorrer uma
odisseia intemporal, sem princípio nem fim.
Onde o diálogo e a acção falham, é a música que marca, indelevelmente,
a nossa memória, criando uma atmosfera familiar.
Aliás, essa é outra das grandes façanhas deste filme. Cada sociedade
parece nova e radiante, quase contente de estar a ser mostrada. A paleta de
cores, a arquitectura, as roupas, o dialecto e até a atitude das personagens
mudam conforme o planeta onde a acção é passada. Tudo isto faz com que o
universo pareça vivo, que existe uma história e um propósito para o que estamos
a ver. Há que dar mérito quando ele é merecido.
Por exemplo: os castings de Liam Neeson (Qui-Gon Jinn), Ewan
McGregor (Obi-Wan Kenobi), Natalie Portman (Padmé) e Hugh Quarshie (Captain
Panaka) foram brilhantes. Neeson, (que aceitou o papel sem sequer ter lido o
guião) embora tenha uma personagem inconsequente, carrega o (pouco) peso
dramático do filme aos ombros. McGregor foi a escolha ideal para substituir
Alec Guiness, Portman (e Keira Knightley, que fez de sua dupla) dá um
sentimento de responsabilidade incrível à jovem rainha, e Quarshie que, sem
muita acção, consegue eficazmente tornar-se parte da mitologia.
E Ray Park enquanto Darth Maul: a personagem mais “cool” do
filme. E porquê? Porque tem uma espada dupla, porque tornou as cenas de acção
ESPETACULARES (a sério, quase que vale a pena ver o filme só por isso) e porque
NÃO TEM DE DIZER MAIS QUE 3 LINHAS DE DIÁLOGO DURANTE O FILME INTEIRO!
A melhor cena do filme acontece perto do fim e só é dita uma
única palavra. É possível perceber o horror e o suspense na expressão de
McGregor, na linguagem corporal dos outros actores envolvidos e na
banda-sonora.
Damn you Lucas! Mesmo esta poderosa cena é contaminada por
toda a maluquice do acto final! Demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo fazem com
TODAS percam importância!
Outro exemplo: há uma grande batalha. Os intervenientes? O
povo com o qual passámos menos tempo e os robôs mais inúteis da história da 7ª
arte! Como é que é suposto estarmos investidos nesta luta? Não dá! Mas guess
what? Também não interessa, porque o Jar-Jar está a fazer piadas! Yupiii!
E por falar em “Yupiii!”, onde raio é que foram buscar o
Jake Lloyd? O puto não consegue expressar uma única emoção discernível… Aquela
despedida deixa-me sempre aziado: é assim que te despedes? Nem uma lágrima nem
nada? E o raio do Mace Windu? É uma personagem tão… tão… sei lá, normal? A
única faceta que o permite distinguir de outras personagens é o facto de ser
interpretado pelo Samuel L. Jackson.
E montes de outras coisas em que eu podia divagar. Tretas
sobre a utilização excessiva de CGI (só existem 2 planos no filme inteiro que
não têm recurso a imagens digitais), sobre cenas inteiras que se desenrolam sem
real desenvolvimento de personagem (Pod Race), da utilização da Força só quando
convém à história, enfim…
The Phantom Menace é uma salganhada de coisas boas e coisas
más. Muitas delas só são boas porque acontecem no Universo pré-estabelecido de
Star Wars. Pergunto-me qual seria a sua recepção crítica, caso não fizesse
parte da saga…
The Phantom Menace é nostálgico para mim. Adoro-o.
Detesto-o. Elogio-o. Repugno-o. Se Star Wars é uma odisseia cósmica, o seu “primeiro”
capítulo é uma odisseia de contradições. E embora não o recomende, caso queiras
estar preparado para a noite mais quente de dezembro (dia 17), é uma paragem
obrigatória.
Simon Says
that this movie is…
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