Deixem-me começar com uma confissão: em puto eu adorava este
filme. A primeira vez que o vi foi numa mítica sessão de cinema ao ar livre no
estacionamento do Modelo: já não se fazem destas, eu sei.
Mas porque é que gostava do raio do filme? Teria sido pelas
infinitas cenas de acção? Teria sido a sensualidade da Natalie Portman a
despoletar a minha puberdade?
Quem sabe… A verdade é que o filme parece direccionado para
petizes sem grande conhecimento cinematográfico e corações ardendo por
aventuras: e para esses as coisas funcionam.
Agora, para quem tem 2 dedos de testa e consegue identificar
os (por favor, não retire as próximas duas palavras do contexto) MÚLTIPLOS
BURACOS na história que é apresentada, vai perceber que é praticamente
impossível não «tropeçar» neste capítulo da saga espacial mais famosa do mundo.
Existe um movimento separatista que pretende desmembrar a
República Galáctica. Os Jedis Anakin Skywalker (Hayden Christensen) e Obi-Wan
Kenobi (Ewan McGregor) são encarregados de proteger a Senadora Amidala (Natalie
Portman), mas acabam por se envolver mais do que esperavam.
Ainda que a premissa seja menos complicada do que a de The
Phantom Menace, Attack of the Clones é um tipo de besta diferente. É que para além de possuir a maior parte dos defeitos da primeira prequela (pouco desenvolvimento de personagens, diálogos forçados, demasiado recurso a CGI), são as implausibilidades do argumento que fazem desmoronar o mundo que antes era alicerçado numa História credível. O que aqui temos, como diriam os Xutos & Pontapés, é um mundo ao
contrário.
Exacto: estou a citar Xutos numa crítica de Star Wars. ERA
ISTO QUE QUERIAS LUCAS?! SATISFEITO?! VOU JÁ COMPRAR OS BRINQUEDOS NOVOS
TAMBÉM, SEU CAPITALISTA MERCENÁRIO!
Vamos tirar o óbvio da frente: Hayden Christensen foi (bem
antes de conhecer Kit Harington) o primeiro actor que considerei mau. A maior
parte das emoções que explora na pele do «Escolhido» são ENORMEMENTE exageradas:
parecia que alguém lhe estava a dizer para se borrifar nas subtilezas e jogar
tudo cá para fora da maneira mais artificial possível. Was that you again Lucas?
Só uma opinião: ao ver Joel Edgerton (que aparece brevemente
a meio do filme) e a julgar pelas suas últimas performances, não posso deixar
de pensar que este teria sido uma escolha mais aceitável para desempenhar o
Jedi (pronto, o Padawan, seus nerds!).
Já Portman enterrou-se num buraco TÃO GRANDE que só depois
de Black Swan é que conseguiu ascender ao patamar ao qual parecia
predestinada desde Léon. Robótica e monocórdica parecem ser as duas únicas
facetas de Padmé Amidala. Lá para o final lança umas vibes que lembram a
princesa Leia, mas é tão forçado que dói.
E por falar em forçado: o próprio realizador admitiu que
este filme é principalmente sobre o romance entre os 2, então vamos lá
analisá-lo um pouco, shall we?
Padmé, uma senadora sensualona, aristocrata, que já foi
rainha de um planeta.
Anakin, um Jedi com ar de modelo que nasceu como escravo num
planeta deserto.
Ele está constantemente a queixar-se de tudo (especialmente
do seu mestre, Obi-Wan), tem um estilo de flirt puramente awkward, não há
ninguém tão arrogante como ele em toda a saga (e atenção que ele tem Han Solo e
Lando como competição), manda vir com Padmé em frente a não sei quantos políticos
e confessa-lhe ser um assassino de crianças. Para além disto tudo, é um bacano
sem convicções (vê a facilidade com que passa de zangado e triste para feliz) e
que dispara as linhas de diálogo mais repletas de queijo desde o Arnold Schwarzenegger.
Hum, ladies, eu não sei quanto a vocês, mas tirando o «ar de
modelo» e o queijo, acho que não há aqui nada que a pudesse atrair: aliás, a
maior parte das situações em que Anakin a coloca são para lá de desconfortáveis. Guess what: não só ela aceita todas estas situações e o reconforta, como se declara
«verdadeira e profundamente apaixonada» por ele… I mean, WTF?!
A única coisa que credibiliza o romance é (novamente) a
estupenda banda-sonora de John Williams, cujo tema Across the Stars parece
recontar a história de um amor lendário, que teve de atravessar as maiores
provações para poder existir.
Neste caso foi só preciso uma lareira, campos verdinhos e
uma vaca bem gorda.
Mas voltando às implausibilidades: logo nos créditos de abertura
fala-se no líder dos separatistas, o «misterioso Conde Dooku». Nem 5 minutos
depois está Mace Windu (Samuel L. Jackson) a dizer que ele já foi um Jedi.
Tipo… Isso não fará dele um «conhecido»? Pelo menos para os
Jedis? E se ele deixou de ser um Jedi, não quererá isso dizer que ele passou
para o Lado Negro? 1+1 não é igual a 2? Para o Lucas deve ser 11.
Outra das cenas que a princípio me intrigava, mas depois
simplesmente chateava, foi a introdução do exército de clones. Admito que o
facto de eles serem clonados de quem são é fixe, mas toda a história envolvendo
a sua concepção deixa-me com a pulga atrás da orelha.
ANALisemos!
Um mestre Jedi chamado Syfo-Dias (que nunca chegamos a saber
quem é ou quando morreu) encomendou um exército de centenas de milhares de
clones sem os outros Mestres saberem. Para que raio é que iria precisar de um
exército? E agora que os Jedis sabem da sua existência, não acham estranho ele
estar pronto PRECISAMENTE na altura em que se vota para a criação de um exército
da República? A marosca é mais do que óbvia e no entanto qual é a reacção do
Mestre Yoda?
«Meditar nisto, eu vou!» Dude, tu és um ancião de 900 anos
de batalhas, intrigas e uso da Força! Precisas de meditar para quê? Obviamente
que a República está a tentar tramar-vos! Mas não, vamos mas é enviar o Obi-Wan
descobrir o porquê de um Caçador de Recompensas enviar outros Caçadores de
Recompensas matar a Senadora que se opõe aos Separatistas. Nisso sim, está a
chave da Guerra Galáctica! Não é cá a criação misteriosa de um exército QUE VOCÊS ACABAM POR USAR! ONDE É QUE FICOU O RAIO DA MEDITAÇÃO!?
Brr… Desculpem lá, mas isto tinha de sair! O facto é que o argumento está construído de maneira tão inconsistente que TODAS as personagens parecem uns burros monumentais!
Para quem
pensa que só tenho coisas negativas a dizer sobre o filme, desengane-se! Teve, obviamente,
os seus pontos fortes, nomeadamente a inclusão de Christopher Lee e o balanço
concedido por McGregor à narrativa. Cada vez que cortavam de Anakin para Kenobi
dava por mim a suspirar de alívio.
As cenas de acção e efeitos especiais, mais uma vez, são magníficos:
quer no espaço, quer em terra, tudo é composto de forma espectacular. O ser
humano que disser que não fica entretido a ver tudo isto a acontecer está a
mentir ou é um vacaco. Essas são as duas únicas opções.
Ao contrário de outros
puristas, eu gostei de ver Yoda a lutar: sempre foi uma coisa que eu tinha
imaginado e aqui foi-nos mostrado. Se é implausível e quebra algumas ideias geradas nos filmes
originais sobre a personagem? Sim, mas isso foi feito tantas vezes nas
prequelas, que esta é «só» mais uma: e por uma vez, foi gira de se ver.
Mais uma vez, o trabalho feito ao nível da construção visual
dos diferentes planetas é espantoso: desta vez, ao aventurarmo-nos ainda mais
pela galáxia distante, ficamos com a ideia de que este universo tem ainda muito
por explorar.
Mas lá está um (dos) problema(s) que surgiu em The Phantom Menace:
ao centrarem a acção em interiores repletos de green-screen, deixam de explorar tão eficazmente a cultura e a imensidão de cada planeta. Existe em Attack of the Clones alguma sequência tão memorável como a batalha no gelo de
Hoth ou as meditações nos pântanos de Dagobah? Acho que a resposta é facilmente alcançável…
A melhor maneira que posso descrever tudo isto é a
seguinte: enquanto a trilogia original parece um RPG ao estilo de Skyrim, onde
a exploração e imersão é encorajada e recompensada, as prequelas parecem um
jogo de plataformas unidimensional. Agora é isto, depois é aquilo, passas-te de
nível. Repete.
As prequelas existem por existir, e Attack of the Clones é
o exemplo mais exasperante das 3.
Simon Says
that this movie is…
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