«Smart is
the new sexy!»
E de facto a elegância, a classe, o charme e o impulso
energético que a série da BBC descarrega na nossa corrente sanguínea apenas pode
ser descrita como… Fascinante!
Mas não falo do tipo de fascínio que todos sentimos ao aproximarmo-nos
da «Toys R’ Us» (ou Toizárâs em bom português) enquanto putos. Com «Sherlock» o
fascínio roça o erotismo intelectual…
«Como?», poderás perguntar-te. Com provocações, chicotes,
algemas e caricias infindáveis no teu ego… Se gostas de ficar de boca aberta e
sentir-te genial com a resolução de enigmas, esta é a série que melhor
satisfará o teu fetiche!
Mas deixem-me começar pelo óbvio: Benedict Cumberbatch,
também conhecido por «o gajo que faz a voz do dragão (Smaug) no Hobbit». O
britânico classicamente treinado em peças de Shakespeare, tornou-se numa das
mais jovens promessas de Hollywood com este papel. A sua voz profunda, cara de
alienígena e carisma desajeitado provocam histeria feminina cada vez que aparece
numa passadeira vermelha.
No papel de Sherlock Holmes, Cumberbatch é irritantemente
perspicaz, indesculpavelmente inumano e desajustadamente apático a todo e
qualquer sentimento… EXCEPTO a excitação do «jogo» de gato e rato, em que todas
as pistas invisíveis ao comum mortal são descobertas pelos olhos do «Deus» da
dedução. Elementar, não é?
Mas, acreditem ou não, ele não é propriamente o centro de
toda a intriga. A história desenrola-se mais à volta do «grande» Martin Freeman
e da sua personagem, John Watson. Destroçado física e mentalmente pela guerra é
como o encontramos no princípio da 1ª Temporada.
«Escreve.» diz-lhe a psicóloga. «E sobre o quê? Nada
acontece na minha vida.»
E com uma complexa mistura de humor e de céu londrino
nublado, John será inesperadamente colocado lado a lado com o destino. Destino
esse que aprende mais sobre ele em 15 segundos do que a sua psicóloga num sem
número de sessões.
A 1ª temporada é leve, dá-nos espaço para conhecer as
personagens e simultaneamente entrarmos no misterioso universo do detective por
consulta. É também onde ouvimos e vemos a personificação do mal pela primeira
vez: o vilão «mais intimidante de todos os tempos», Moriarty.
Mas a 2ª temporada… é o clímax, o epítome, o apogeu, a
gloriosa eja… Ok, acho que já perceberam.
Quando a estiveres a ver, saboreia
demoradamente… Quatro horas e meia de realização ao nível de Danny Boyle e Guy Ritchie!
Desafiantes enigmas e ameaças que pairam à volta dos protagonistas tornam-na
num fantástico (por favor, cante a próxima palavra) thriller sem barreiras!
Cada temporada tem apenas 3 episódios de hora e meia: ou
seja, esta é a série que tu deves escolher para começar a ver a qualquer altura
do dia, da semana, do mês ou do ano!
Mas procede cuidadosamente: chegando à 3ª temporada, as
coisas descarrilam.
O charme despreocupado e a ambiguidade supra-humana são
postas de lado, em troca de uma «buddy comedy» (comédia de amiguinhos) com
muito pouca piada e substância. Foi muito pouco entusiasmante testemunhar este
desenvolvimento de personagem tão repentino, descurando completamente os
mistérios: aliás, chegado ao fim, as únicas questões e mistérios por resolver
foram os lançados na mítica 2ª temporada.
Cumberbatch e Freeman estão, com certeza, mais ocupados que
nunca, e, talvez por isso, tenham rodado as cenas num número diminuto de
localizações… E isso pode ter tido uma influência nada feliz no desenvolvimento
da trama.
Não obstante, a maneira inventiva como a câmara se move e a
materialização dos pensamentos e raciocínios de Sherlock em pleno ecrã, são magníficos
subtextos que pautam toda a série, durante os bons e maus momentos da história.
Os bons e maus momentos… Quase parecem votos de casamento.
Quando crias uma conexão com estas personagens, com a sua
maneira de (não) ver «os outros», vais aperceber-te que também tu és assim:
sempre à procura de uma nova aventura nos olhos de gente diferente. Ou serei só
eu?
«Smart is
the new sexy!»
Serás capaz de o negar? Eu não.
Sem comentários:
Enviar um comentário