É uma mistura estranha… É como se um universo viscoso e
místico deslizasse para dentro de nós cada vez que os vapores e sombras do
intro de «True Detective» se corporalizam.
Os detetives Rust Cohle (Matthew McConaughey) e Martin Hart
(Woddy Harrelson) vêm-se a braços com um caso doentio de assassinatos, com
implicações morais, sociais e religiosas. Serpenteando ao longo de 17 anos da sua vida, esta série de 8 episódios conta-nos
uma história de perdição, redenção e corrupção.
Numa narrativa em que a lei e a ordem têm um destaque
aparente, é a anarquia e o inconformismo que te assaltam os sentidos e intoxicam
a mente. Tal como as chaminés industriais que se elevam no meio da paisagem
verdejante…
É difícil explicar o porquê do meu fascínio particular pelo
estado americano de Louisiana...
Será a musicalidade sibilada do sotaque ou o enigmático
efeito que nomes como Bray Wyatt ou Reginal Ledoux têm no cérebro humano? Será
o infindável (e literal) palácio esmeralda que serve de pano de fundo a esta
história? Talvez a música que parece retirada de uma qualquer fábula de terror…
Ou os cultos obscuros que, embora macabros e desumanos, estimulam pela
quantidade de paradigmas que te atiram à cara sem pedir desculpa depois?
Raios parta! Eu nem escrevo assim!
Agora «comam» as pseudofilosofias hipnóticas que os
escritores (por favor, não retire as próximas palavras do contexto) enfiam na
boca dos atores e vão ver se não ficam a falar desta forma também. É preciso
ter a cabeça no sitio para conseguir discernir as pontas de verdade e interesse
por trás de toda a conversa de cosmos intemporais e dimensões rabiscadas no
universo da mente humana…
Garanto-vos que 75% deste tipo de diálogo é só para vos
confundir. No entanto os restantes 25%, se os captarem, progridem a história e
dão-vos algo no qual pensar…
Mas se pensar não é aquilo pelo que anseiam nestes
episódios, descansem porque estão servidos com tudo o que a indústria
cinematográfica tem de melhor: mamas, suspense, tiroteios, mortes sangrentas,
terror psicológico, soluções geniais… Já mencionei mamas?
Repara que falei em indústria «cinematográfica» e não
«televisiva». Acredita meu caro amigo, esta série não tem nada a haver com as
produções de pequeno ecrã a que estás habituado. Existe um pleno sentido de
perfeição naturalista em cada movimento de câmara, em cada penumbra nos olhos
dos atores…
Por falar em atores: digam-me a última vez em que um
vencedor do Óscar de melhor Ator apareceu em séries televisivas depois de o
ganhar? Tanto McConaughey como Harrelson, e mesmo Michelle Monaghan, como a
mulher deste último, são intocáveis nos seus papéis. Ao terem mais tempo de
ecrã do que num filme, as nuances que imprimem às suas personagens, as
subtilezas dos seus tiques e o realismo conseguido mesmo com a passagem de um
período de tempo tão extenso… É pura magia.
Críticos que lhe atribuem o estatuto de «sonho de qualquer
hipster» e «pseudo-intelectualóide sem conteúdo» não deixam de estar corretos:
porque esses mesmos críticos só terão visto, no máximo, dois episódios, estando
por isso completamente fora de contexto para poderem exercer a sua função. Por
outras palavras, são incompetentes e tansos.
Se tivesse que misturar alguns filmes/séries numa quiche (se
não sabes do que se trata, a tua vida não tem sentido) de forma a que no fim o
resultado fosse «True Detective», seria «Prisoners», com uma pitada de «Blade
Runner» e um bom bocado de «Breaking Bad». Se isto não te parece bom o
suficiente, deves ter o paladar estragado.
Nem quero saber se há próxima temporada ou não: o que me foi
dado a experimentar nesta, só por si, é o suficiente para se manter na minha
memória até ao fim dos tempos.
Mas os tempos têm fim? Ou será que só o fim é que tem
tempos?
Alright, alright, alright…
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