No Spoilers.
Tinha 6 anos quando li o
«Harry Potter e a Pedra Filosofal». Tinha 12 quando li «Eragon». Tinha 14
quando li «A Irmandade do Anel». Pode-se dizer que sempre fui fã de fantasia:
daí a minha confusão quando oiço o argumento «não gosto, porque é impossível de
acontecer».
Já o ouvi acerca de «The Lord
of the Rings», já o ouvi acerca de «Star Wars», já o ouvi acerca de «Game of
Thrones»…
Também já o ouvi acerca
de «The Walking Dead».
Recentemente tenho lido
muitas queixas em relação a esta série:
«Ah, e tal, tá uma ganda
seca!» ou «É sempre a mesma porcaria! Só berbicachos com o raio dos zombies! As
gajas a correr e gritar feitas Fanny e os gajos a armarem-se em Avengers! Vou
mas é ver o Factor X!»
Epá, como podem imaginar,
isto aborrece! Quer dizer, sempre é melhor do que relatos de Facebook durante
um derby, mas não deixa de ser cansativo ler tantos comentários negativos sem
argumentos a sustentá-los.
Meus amigos, estou aqui
para vos comunicar que esses comentários estão certos.
«O quê? A sério?»
Sim, é verdade. A série
da AMC está a perder o fulgor que revelou ter, principalmente na 1ª
temporada.
O sentimento de incerteza, de sobrevivência do mais forte, do desabrochar dos
instintos mais básicos…
Era o lado animal do ser
humano que estava a ser explorado, e o público adorava.
Estamos na 4ª temporada:
já conhecemos os defeitos, as atitudes e os desejos. Já sabemos as armas
favoritas e os cortes de cabelo. No entanto, Frank Darabont (criador da série),
Robert Kirkman (criador da B.D original) e os restantes guionistas estão
definitivamente atrofiados do cérebro.
Numa altura em que
espectadores por todo o mundo choram o fim de «Breaking Bad», (uma série que
revolucionou as produções televisivas em termos da imprevisibilidade e
inteligência de escrita) os responsáveis por «The Walking Dead» deveriam ter
tacto suficiente para perceber que o público se tornou mais exigente.
A maneira extenuante como
cada uma das personagens é desenvolvida torna-se chata e repetitiva.
Claro,
temos de nos identificar e perceber as personagens para termos medo de as
perder.
Só que eu nunca vi uma
série (na qual a morte fosse «normal») com uma taxa de sobrevivência de
personagens principais tão grande!
«Ei ei! Mas morrem
pessoas sim, seu badalhoco!»
Certo! Mas por qual delas
tinhas alguma afinidade? Qual delas não foi uma completa besta, cometendo actos
inumanos para com os outros?
O público cansa-se:
precisa de algo inteligente e inesperado que o faça voltar a gastar 45 minutos
na semana que vem. Obviamente que não espero resoluções de génio ao estilo de
«Dexter», mas alguma astúcia e originalidade na maneira como os problemas
surgem seria bem-vinda.
Claro que se os ratings
forem analisados nada da minha conversa importa: esta será provavelmente a
temporada mais (legalmente) vista de toda a série!
Ninguém vê «The Walking
Dead» à espera de chorar com a perda de uma família inteira, ou para se rir de
um bebé a planear dominar o mundo: «The Walking Dead» é visto por causa dos
zombies e das pessoas que os matam. E pelos 20 minutos por episódio (muitas
vezes menos) que isso acontece, o público aplaude.
Já estão acostumados às
personagens, querem revê-los todas as semanas e certificar-se de que estão bem:
como uma reunião de família. Uma daquelas famílias chatas que só falam do que
os vizinhos vestem e das doenças que por aí «andam».
A série precisa de
acordar: umas quantas semanas cheias de adrenalina mais um BANG antes do final
era um remédio santo! E da maneira como estes dois últimos episódios acabaram
talvez haja esperança: ainda que seja algo fantasiosa.
Pode-se dizer que sempre
fui fã de fantasia. Daí a minha confusão quando oiço o argumento «já não gosto
de Walking Dead, porque é impossível ficar bom outra vez».
No final da temporada
fazemos contas.
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