domingo, 16 de março de 2014

Crítica - Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl – 2003 – Gore Verbinski

As últimas palavras de Errol Flynn foram «I’ve had a hell of a lot of fun and I’ve enjoyed every minute of it.» (Diverti-me à brava e disfrutei cada minuto.).

Bolas, não é isso que queremos cada vez que as luzes se apagam e o ecrã se ilumina para nós?

Na verdade, não faço ideia quem terá as maiores bolas: se Johnny Depp, por ter arriscado a carreira numa performance que podia rotulá-lo de idiota esquistóide para todo o sempre (e na realidade, não o fez na mesma?), ou se Jerry Bruckheimer, por insistir em produzir um filme num género considerado «morto e enterrado».

Quer dizer, quem viu a monumental derrocada conhecida por «Cutthroat Island», protagonizado por Geena Davis em 1995, sabe o porquê da convenção «hollywoodesca» de não se tocar em filmes de amantes de papagaios e rum.

«Ficamos com as memórias dos piratas dos anos 30!» Pensaram eles. «É melhor fazer filmes sobre loiras em apuros e famílias inteiras a fazer caretas e a cair na lama!»

Pensar é uma coisa, mas as boas ideias estão destinadas a vir ao de cima: tal como o «protagonista», Will Turner que flutuou até junto de um navio Inglês, proveniente dos destroços feitos por piratas. Elizabeth, a rapariga que o avista, cria nos instantes iniciais do filme um laço afectivo, que (mas que surpresa) servirá de mote para o resto do enredo.

Anos mais tarde, o tímido Turner (Orlando Bloom, lembrando o já mencionado Errol Flynn) ajuda na defesa da sua cidade durante um ataque pirata, no qual Elizabeth (Keira Knightley) é raptada. Aventurar-se-á então pelos mares das Caraíbas, numa demanda para salvar a sua donzela em apuros.



Não que ela precise, dado que o seu raptor é apenas o infame capitão do «Black Pearl», Hector Barbossa (o sublime Geoffrey Rush), um homem com dentes tão magnificamente amarelos que envergonharia qualquer patinho de borracha. Ah, e já referi o facto de ele e a sua tripulação serem esqueletos imortais que procuram reviver-se através do sacrifício de Elizabeth?

Espera lá: se são imortais, porquê toda a esgrima e bolas de canhão? Bem, para os tentar repelir penso eu…

No entanto, bolas à parte, eu nunca teria começado a escrever esta crítica, ou tu terias ouvido falar sobre este filme não fosse por Depp e a sua magnífica criação: Jack Sparrow.

Oh, que idiotice minha: CAPITÃO Jack Sparrow!

Provavelmente, a mais importante personagem de cinema criada na última década, este pirata «afectado» e cheio de tiques influenciou toda uma nova geração de atores e «entertainers», criando uma das referências mais estilizadas e reconhecíveis da História.

Este antigo capitão do «Black Pearl» ajudará Will na sua demanda, levantando-lhe, pelo caminho, o véu sobre o seu passado: um passado que irá mudar a vida (?) de todos os envolvidos para sempre.

Gore Verbinski (The Ring, Rango) realizador de toda a trilogia original de «Pirates of the Caribbean», consegue um produto final genuinamente gratificante para qualquer entusiasta de filmes de aventura: a acção é bem conduzida, nunca demasiado confusa, mesclando-se bem com os elementos de comédia do filme. Estes pretendem sobretudo comentar e gozar com o género (desde talheres a serem disparados de canhões, esqueletos vestidos de mulher à bulha e «one-liners» por parte de Rush, que mais fazem lembrar o tio Schwarzenegger), exalando classe e naturalidade.

Classe e naturalidade… Sim, essas parecem ser as palavras que melhor se encaixam na descrição do filme. Sim, tem alguns clichés, «plot-holes» e a personagem do Comodoro James Norrigton revela-se tão chata para nós como para o resto das personagens do filme.

Não obstante, estas tempestades não alteram a rota: a diversão está garantidíssima para toda a família. 

As implicações humanas são o habitual neste tipo de aventuras: a rapariga tenta libertar-se dos grilhões impostos pelo seu estatuto social, o herói tenta descobrir de onde veio e para onde vai e o anti-herói… 

Bem, o anti-herói vai-se dando a conhecer através de actos cada vez mais desonestos: tentando assim tornar-se «honesto».

Faz algum sentido? Na cabeça do Jack sim…



Aproveitando a deixa da trilogia «The Lord of the Rings», os temas de liberdade e luta contra um mal sobrenatural estão evidentes ao longo de toda a narrativa: mas no fim de contas, é a viagem de autodescoberta e gratificação pessoal (que todos passamos na puberdade, mas nem todos ultrapassamos, como Sparrow) que está no cerne de toda a viagem à volta daquelas ilhotas cheias de nevoeiro e palmeiras.

Este é o «Indiana Jones» da minha geração. Este é o filme que estavas à procura para sorrir e passar um bom bocado: sem compromissos nem reviravoltas inesperadas.

It’s a hell of a lot of fun! Enjoy every minute of it!


E por isso meu caro/a, Simon Says that this movie is a...



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