Pechão, 28 de Dezembro de 2013
Querido Joseph
Gordon-Levitt,
Espero que esteja tudo
bem aí por casa! Não é que se possa chamar a isso uma casa: um hipster que se
preze não tem realmente uma habitação normal, não é? Acabei de ver a tua
estreia no papel de realizador e escritor, «Don Jon». Fiquei sinceramente
surpreendido: realmente tens potencial pá!
O filme vê-se muito bem.
Tantas cores, tantos cortes rápidos… Em algumas situações fez-me lembrar o
estilo do realizador de «Hot Fuzz», Edgar Wright. A maneira como abordas o tema
da pornografia é inteligente: tanto visual como dialogicamente. É verdade que
nem todos passamos por estes mesmos problemas, mas é bom ver um filme
finalmente abordar estas questões relacionais mais íntimas. Tocas-te num tema
tabu: e isso tanto poderá fazer os casais mais felizes, como separá-los. Só
espero que tenhas uma caixa de correio suficientemente grande para tantas
queixas (des)amorosas!
Por falar em
suficientemente grande: não faço ideia como convences-te a Scarlett Johansson a
fazer este papel, mas acertaste à grande. Se com este filme estavas a tentar
comentar o ciclo interminável da pornografia, acho que acabas-te por pô-lo a
rodar ainda com mais força, «se é que me entendes».
As cenas de engate na
discoteca, a maneira como crias uma redoma rotineira na vida deste homem a
partir de simples planos repetitivos e a genialidade das simples mudanças às
quais ele não se sabe adaptar são sem dúvida o ponto alto da película. Se te
mantivesses neste registo, o filme seria uma experiência única…
No entanto meu caro, por
muito valor que a tua edição e montagem tenha, por muito coloridos e bonitos
que sejam os teus sets e por muito sexy que a Scarlett esteja, acabaste apenas
por fazer uma comédia romântica comercial. A alma do teu trabalho pode ter sido
rebelde: mas ao seguires convenções estabelecidas de personagens e de
felicidade obrigatória, tornaste-a tão banal como qualquer um dos filmes do
«antigo» Matthew McConaughey.
Exemplo: a tua comédia
muitas vezes não «arranca». Suponho que as cenas com o pai e a mãe fossem para
rir, certo? Pois… Não funcionou. Foram chatas e irritantes: aliás, são
exactamente estes dois adjectivos que melhor descrevem estas personagens. No
fim de contas, para que serviu a família? Não tinham nenhum interesse ao nível
da personalidade, não fizeram com que o protagonista se desenvolvesse… Ou seja,
bem os podias ter cortado do filme que não se sentiria a diferença.
Resumindo meu rapaz: «Don
Jon» é um proverbial «monte de palha» com umas quantas agulhas lá no meio. É um
começo promissor para a tua carreira de realizador, mas é bom que ganhes
tomates para sair do molde de Hollywood, senão acabarás por adquirir o estatuto
que tens vindo a evitar a tua carreira inteira.
E vê se arranjas um corte
de cabelo decente! Pareces uma arara brasileira!
Beijinhos à prima
Josefina e as melhoras,
Ass: Primo Diogo
P.S- Simon Says that this movie is…
Don Jon: 5*
ResponderEliminar"Don Jon" é um filme único, com uma história bastante interessante...
Cumprimentos, Frederico Daniel.