segunda-feira, 10 de março de 2014

Crítica – Gravity – 2013 – Alfonso Cuarón

Eu vejo muitos filmes. 

E quando chega aquela altura do ano em que «os bons» começam a aparecer, é-me fácil ignorar os comentários habituais de «AH! Este filme é o melhor do ano!» ou «Nunca vi nada assim! Tens mesmo de ver!». Ultimamente então, com as gentes das redes sociais a proclamar «Malavita» como um dos melhores filmes de sempre, o meu cepticismo faz-me entrar em modo rejeição e ignoro qualquer conselho.

Arrependo-me profundamente de dizer que aconteceu o mesmo com «Gravity».

Eu poderia passar um parágrafo a dizer o quanto eu detesto o George Clooney por fazer sempre a mesma personagem, ou que embora tivesse fé no trabalho do realizador Alfonso Cuarón, nunca fui um fã acérrimo... Como raio haveria eu de sonhar que o gajo por trás de «Children of Men», «Harry Potter and the Prisoner of Azkaban» e «Y tu mama tambien» teria estofo para explodir o mundo dos efeitos-especiais da mesma forma que George Lucas o fez com «Star Wars»?

Admito: eu estava errado ao duvidar. E agora me ajoelho perante si, poderoso realizador, prestando uma solene e sentida homenagem. Sei que demorei, mas mais vale tarde que nunca.


Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (Clooney) são apanhados numa chuva de detritos provenientes de um satélite que explodiu. Estando à deriva no espaço e com a sua nave destruída, têm de tentar fazer caminho para outra nave antes que fiquem sem oxigénio ou combustível.

A história é uma simples luta pela sobrevivência, não empregando longos desenvolvimentos de personagem: e para quê? A psique humana tem determinados instintos intrínsecos, que são activados sem a nossa percepção racional. O instinto de sobrevivência é um deles: e posso atestar que o meu esteve a trabalhar a 200% durante toda a duração desta obra de arte. Desenvolvimento é aquilo que te faz respeitar, interessar e temer por determinada personagem. No entanto, descobri que se te emergires na acção (deste filme em particular) e conseguires sentir a mensagem do realizador a passar, de que estás REALMENTE LÁ sozinho com estas pessoas, a passar por estas tribulações infindáveis, tens todos os elementos necessários para te sentires responsável pelo que lhes está a acontecer.

Vi o filme em 2D e simplesmente não consigo deixar de pensar que teria de levar um ou mais baldes para vomitar caso o fosse ver em 3 dimensões. A cena de abertura do filme tem aproximadamente 17 minutos, e nem um corte (visível). Fazem ideia do que é passar quase 20 minutos interruptamente à deriva no espaço, rodopiando com o raio da câmara por todo o lado? Eu nem imagino o tempo que demoraram para a montar, mas a sua complexidade é monstruosa: e duvido que o próprio Stanley Kubrick (inovador dos filmes espaciais através de «2001: A Space Odissey») conseguisse descobrir o segredo por detrás de tão fantástico trabalho.

As tuas sensações podem ser diversas: enjoo, preocupação, incerteza, medo, alivio, frustração e até mesmo coragem! Tudo isto porque estás ao lado de Sandra Bullock, que nunca foi uma das minhas actrizes favoritas, mas merece toda a tua confiança durante os 90 minutos desta odisseia. Senti-me impelido a ajudá-la, a dar-lhe a mão, a gritar-lhe para se apressar, para respirar mais devagar e a pensar com mais calma. Dei por mim a cerrar os punhos e a contrair os dedos dos pés. Quando um filme tem esse efeito, eu sei automaticamente que já estou convencido. Não acontece o mesmo contigo?




Existe sempre pelo menos uma cena nos filmes de Cuarón que celebram a vida em contraste com a morte. Lembro-me da que está presente em «Children of Men», quando a protagonista revela o seu corpo no meio de vitelos, enquanto pede ajuda. Também em «Gravity» existe esse momento, em que Ryan se liberta da prisão em que estava, deixando-se flutuar sem gravidade enquanto a luz do Sol se esbate nos seus contornos. É como ver um embrião no ventre da mãe, iluminado pela esperança de nascer: maravilhoso, belo e arrepiante.

Tal força só consegue ser duplicada durante a cena final, em que, mais uma vez, a metáfora do (re)nascimento ergue o nosso espirito para lá da atmosfera, para as estrelas, onde nos deixamos ficar a flutuar com a orquestra que se tornou sinónimo de vida nas nossas mentes e corações.

Ah… Como é bom existir.


Simon Says that this movie is...



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